WASHINGTON - Os jovens homossexuais, bissexuais e transexuais americanos, que freqüentemente são alvo de agressões nas escolas onde estudam, tentam sensibilizar a opinião pública a respeito desse tipo de violência para evitar que se repitam episódios trágicos como o que terminou com a morte de um estudante de 14 anos na Califórnia, em fevereiro deste ano. "Na verdade, a violência baseada nas tendências sexuais está bastante disseminada nas escolas", afirma Bill Leap, professor de antropologia da American University de Washington e especialista em questões de homofobia.
"É automático: quanto mais visibilidade se tem, mais enfrentamentos aparecem", aponta o professor, explicando o elevado número de jovens não heterossexuais que dizem ter sido alvo de agressões verbais e físicas. De acordo com um estudo nacional sobre os colégios americanos, realizado em 2005 pela associação Gay, Lesbian & Straight Education Network (GLEN), três em cada quatro estudantes não heterossexuais já foram vítimas de violência verbal nas instituições de ensino que freqüentam. Além disso, mais de um terço deles já sofreu algum tipo de abuso físico devido a sua orientação sexual.
"Os números estão muito longe da realidade, já que muitas vítimas não ousam falar sobre as agressões", destaca Leap. Para combater a violência, há 12 anos é organizado o Day of Silence (dia do silêncio), um dia de mobilização no qual os participantes são convidados a ficar em silêncio enquanto manifestam seu compromisso usando símbolos, vestindo preto ou cobrindo a boca com fita adesiva. Este ano foram realizadas também marchas em memória de Lawrence King, um adolescente homossexual assassinado com um tiro na cabeça em uma sala de informática do colégio onde estudava, em fevereiro.
Na sexta-feira, a associação American University Gay, Lesbian, Bisexuals, Transgenders and Ally homenageou o jovem morto no campus da American University (AU) de Washington. O acusado, de apenas 14 anos, teria brigado com King por causa de sua orientação sexual no dia anterior ao assassinato, segundo o jornal Los Angeles Times. No fim do dia, no gramado do campus da American University, cerca de 30 estudantes decidiram romper o silêncio. "Estaria mentindo se dissesse que não fiquei nervosa. Mas depois de um dia inteiro vestida assim e sendo encorajada pelas pessoas, me sinto mais confortável", disse Helen Zhang, uma lésbica de 18 anos que pela primeira vez usou uma camiseta com os dizeres I love girls (Eu amo meninas).
"Não usaria jamais esta camiseta em minha cidade natal, no Mississipi, onde algumas pessoas me disseram que o demônio estava em mim", contou. "Cada um vive sua homossexualidade de maneira diferente, de acordo com quem é e onde vive", afirmou Travis Ballai, dizendo encontrar ainda mais dificuldades para que aceitem sua opção sexual devido ao fato de ser negro. Segundo Bill Leap, enquanto os americanos brancos se assumem cada vez mais como homossexuais, os imigrantes de primeira ou segunda geração não querem falar sobre isso. ;Eles se assumiriam apenas em seus países de origem", disse.
"Nas grandes cidades, tende-se a pensar que o problema está resolvido", constatou Travis Ballai. No entanto, diz: "hoje a homofobia passa por vias mais graduais. Às vezes, alguém fala 'tudo bem se você é gay, mas não seja gay demais'. De fato, a homofobia se instala por todas as partes sorrateiramente", concluiu. John Marzabadi, de 20 anos, vice-presidente da AU GLBT and Ally, destacou por sua vez que a expressão 'isso é tão gay' se generalizou no linguajar corrente e significa 'isso é tão negado'". "Aqui também acontecem agressões. Temos que nos manter alerta", afirmou.