CABUL - Os investigadores afegãos tentam entender como os talibãs conseguiram se aproximar, neste domingo, a menos de 500 metros do presidente Hamid Karzai, em plena parada militar em feriado nacional, e executar um ataque ousado que provocou três mortes em Cabul.
A insurreição dos fundamentalistas muçulmanos se intensificou consideravelmente nos últimos dois anos, apesar da presença de 70 mil soldados estrangeiros. O atentado confirma a ofensiva, em um momento no qual tanto Washington como a Otan tentam minimizar esta realidade.
Desde 2007, a capital afegã, até então relativamente à margem da violência, é cenário de ataques e atentados suicidas cada vez mais audaciosos. Os próprios talibãs fizeram questão de ressaltar seu poderio ao reivindicar o ataque quando a fumaça das explosões das granadas ainda era vista nas proximidades do palanque em que estavam o presidente e seus convidados, afegãos e estrangeiros, para assistir a grande parada militar anual.
"Não apontávamos para ninguém em particular, só queríamos mostrar ao mundo que podemos atacar onde desejarmos", declarou o porta-voz dos insurgentes, Zabihulah Mujahed. O desfile pretendia ser uma demonstração de força do Exército afegão, equipado e treinado por tropas estrangeiras, essencialmente americanas.
Karzai, protegido pelos seguranças, apareceu logo depois do ataque para dizer que escapou ileso, anunciar a prisão de alguns talibãs e prometer uma investigação para determinar como conseguiram abrir fogo por atrás da tribuna oficial. "Encontraremos primeiro os culpados pelo ataque, mas também em que falhou o dispositivo de segurança", afirmou o ministro da Defesa, o general Abdul Rahim Wardak.
O ataque aconteceu logo depois da chegada de Karzai à tribuna. As tropas oficiais responderam e mataram três criminosos. Um deputado e um líder tribal morreram no ataque e uma criança faleceu, ao que tudo indica, na resposta das forças de segurança. "Algumas pessoas que podem ter facilitado este ato terrorista foram identificadas", disse o general Wardak.
As suspeitas são fortes de que existem cúmplices entre os membros das forças oficiais, segundo Wahid Mujda, um analista em defesa, como ocorreu no ataque em janeiro contra o maior hotel de Cabul, quando talibãs disfarçados de policiais mataram oito pessoas.
A insurreição dos fundamentalistas, afastados do poder no fim de 2001 por uma coalizão dirigida pelos americanos, provocou em 2007 mais de 8 mil mortes, em sua maioria de rebeldes, mas também a de 1.500 civis e 218 soldados das forças internacionais.
O ataque de domingo é uma vitória da propaganda dos talibãs, opina um diplomata ocidental, que, no entanto, considerou bom o funcionamento do dispositivo de segurança, já que os talibãs não conseguiram romper o primeiro círculo de proteção e se aproximar ainda mais das autoridades.