KATMANDU - Os ex-rebeldes maoístas do Nepal venceram por ampla margem as eleições de 10 de abril, que devem resultar no fim da monarquia, segundo os resultados completos da votação divulgados pela Comissão Eleitoral. O líder dos maoístas nepaleses, Prachanda, prometeu que o rei Gyanendra será obrigado a deixar rapidamente o país. "A primeira reunião da Assembléia Constituinte acabará com a monarquia e não teremos nenhum compromisso a respeito", declarou Prachanda, conhecido como "O Temível".
Os ex-insurgentes conquistaram 217 cadeiras na Assembléia Constituinte que redigirá uma nova Carta Magna e transformará a monarquia em república. Os principais rivais, o Partido do Congresso, elegeu 107 deputados. A Câmara de 601 representantes redigirá uma lei fundamental para abolir a monarquia, segundo acordo assinado em dezembro entre maoístas e partidos políticos.
Dos 240 representantes eleitos por votação majoritária, 120 são maoístas. Também representam 30% das 355 cadeiras eleitas de forma proporcional, ou seja, 97 membros da Constituinte. Vinte e seis parlamentares serão designados pelo governo interino. Os maoístas e os demais partidos assinaram a paz em 21 de novembro de 2006, após uma década de guerra civil que deixou 13.000 mortos, e governam o país em conjunto desde abril de 2007.
Os maoístas têm maioria simples e, por isso, estão obrigados a fazer acordos com o Partido do Congresso e com o Partido Comunista Marxista-Leninista Unificado. Os ex-rebeldes estão dispostos a formar um novo governo de coalizão. "Conduziremos o governo, não há nenhuma dúvida a respeito, mas queremos que os outros partidos participem", declarou Dinantah Sharma, um dos dirigentes da formação.
Apesar do triunfo dos maoístas e de seus insistentes pedidos para que a monarquia deixe o poder de forma voluntária, o rei parece se apegar ao trono e esta semana anunciou que não pretende viver exilado na vizinha Índia. Aos 60 anos, o rei Gyanendra, rico descendente da dinastia dos Shah, de 239 anos, é rejeitado pela maioria dos nepaleses e, nos últimos dois anos, perdeu todas as prerrogativas, inclusive as de chefe de Estado e comandante das Forças Armadas.
Gyanendra vive isolado em seu palácio, que foi nacionalizado. O hino nacional não faz mais referência ao soberano e sua imagem sumiu das moedas e edifícios oficiais.
O monarca foi obrigado a abrir mão dos poderes absolutos que havia assumido para conter uma insurreição maoísta em 2005. Gyanendra ainda tem o apoio de generais leais ao trono e dos fundamentalistas hindus ativos na fronteira com a Índia.
Para muitos nepaleses ele é a encarnação do deus hindu Vishnu, apesar de ter assumido o trono após o misterioso massacre de seu irmão, o rei Birendra, e de sua família, no dia 1º de junho de 2001 nas mãos do príncipe Dipendra, que em seguida cometeu suicídio. O Nepal, reino himalaio estratégio entre a Índia e a China, é a única monarquia hinduísta do planeta.