A publicação de um artigo na revista científica bimestral Photochemistry and Photobiology tem gerado informações desencontradas acerca do novo coronavírus. O estudo levanta dados que mostram o tempo de inativação do Sars-Cov-2 quando exposto ao Sol. E circula nas redes sociais. Veja:
A pesquisa é de autoria do militar da reserva do Exército dos Estados Unidos Jose%u2010Luis Sagripanti e de C. David Lytle, aposentado da Food and Drug Administration (FDA) — órgão norte-americano com funções semelhantes às da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Com base em um modelo desenvolvido para estimar o tempo de inativação solar dos vírus, os autores calcularam o período necessário para que isso ocorra com o Sars-Cov-2. A avaliação levou em conta as quatro estações do ano em diferentes cidades do mundo.
Os resultados mostraram que, no inverno, em diversas áreas de zona temperada, o vírus pode permanecer ativo — e, portanto, com risco de infecção — em superfícies externas por um "tempo considerável". Entretanto, a inativação acontece de modo "relativamente rápido" nesses mesmos objetos durante o verão.
Em São Paulo, por exemplo, os autores calcularam que esse tempo pode variar de 13 a 41 minutos, a depender da estação do ano e da intensidade da luz solar. O documento foi aceito pela revista e teve a versão preliminar publicada em 5 de junho.
Condições
A importância da luz ultravioleta (UV) para esse processo era conhecida pelos cientistas. No entanto, isso não significa que a exposição de pessoas ou objetos ao Sol, por si só, possa eliminar o novo coronavírus de um organismo ou de uma superfície.
Fatores como horário, condições climáticas, presença de neblina ou fumaça e a quantidade de partículas de poluição na atmosfera influenciam o tempo necessário para que as moléculas do genoma viral sejam destruídas. Vale lembrar que o Sol não cura ou imuniza pacientes com a covid-19.
A pedido do Holofote, o cientista Bergmann Morais Ribeiro, doutor em microbiologia e professor do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília (IB/UnB), analisou o artigo publicado. O pesquisador chamou a atenção para o fato de que o trabalho não apresenta experimentos, mas baseia-se em dados de pesquisas anteriores para fazer cálculos sobre o tempo necessário à desativação do novo coronavírus.
Bergmann afirma que o tema não é novo, mas ainda não havia pesquisas que levassem em conta o Sars-Cov-2. "Eles não estão errados em dizer que o vírus é inativado pela luz UV. Isso é sabido há muito tempo. Mas eles não provaram nada. Cadê as estatísticas para as pessoas que estão na rua? Se você vai para a rua, a possibilidade de aumentar a transmissão é maior, porque há contato de pessoa a pessoa", alerta.
O professor ressalta que só com o tempo será possível conhecer o novo coronavírus com base em "dados robustos". Até lá, as recomendações são as mesmas. "Tudo é variável. Não dá para dizer o período necessário (para que o Sol inative um vírus). A dica (para evitar a contaminação) é a de sempre: lavar as mãos constantemente com água e sabão — assim como as roupas — ou usar álcool em gel quando isso não for possível", completa Bergmann.