Guilherme Goulart
postado em 05/08/2019 14:15
A polêmica entre o presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), e o líder da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, provoca a circulação de diversas notícias duvidosas nas redes sociais. A indústria das fake news não para desde 29 de julho, quando Bolsonaro deu as seguintes declarações: "Um dia, se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, eu conto para ele. Ele não vai querer ouvir a verdade. Eu conto para ele"
"Não é minha versão. É que a minha vivência me fez chegar nas conclusões naquele momento. O pai dele integrou a Ação Popular, o grupo mais sanguinário e violento da guerrilha lá de Pernambuco e veio desaparecer no Rio de Janeiro"
De fato, Fernando Santa Cruz, pai do presidente da OAB, fez parte do movimento estudantil e participou do Juventude Universitária Católica (JUC), grupo ligado à Igreja Católica, além de ter integrado a Ação Popular. Fernando desapareceu no Rio de Janeiro, em 1974.
Versões sobre esse desfecho são justamente os pontos centrais das notícias falsas que circulam na internet. Diante da grande quantidade de informações duvidosas em relação ao caso, o Holofote verificou a suposta veracidade de algumas delas em uma única publicação. Confira:
1. Duas ;notícias; tratam da mesma desinformação disseminada por Bolsonaro: a de que o pai de Felipe Santa Cruz teria sido assassinado por ;comunistas; e ;por seus coleguinhas da Ação Popular; por ter entregado os companheiros de luta contra o regime militar. Em uma delas, o presidente da OAB é xingado. Em outra, há uma foto do pai dele. Veja:
Nesse caso, trata-se de uma mentira, confrontada por documentos oficiais. Levantamento da Comissão da Verdade e do próprio governo atestam que Fernando Santa Cruz foi morto pelo Estado e de forma ;não natural e violenta;.
O site Aos Fatos fez verificação semelhante.
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2. Outra publicação afirma que ;o presidente da OAB mentiu que o pai foi morto por militares só para ganhar R$ 37 mil por mes (sic) com bolsa ditadura;. A mensagem ainda destaca a palavra ;vergonha; em vermelho e vem acompanhada de uma foto de Felipe Santa Cruz. Veja abaixo:
Nesse caso, há duas inverdades. Como visto acima, além de o pai do presidente da OAB não ter sido assassinado por colegas de luta contra a ditadura, Felipe não recebeu indenização do bolsa ditadura, como pode ser conferido na lista dos beneficiados da Lei n; 10.559, no Portal do Servidor do governo federal.
Por meio da assessoria, Felipe Santa Cruz enviou ao Holofote a mesma nota encaminhada ao Aos Fatos, que também checou a desinformação:
"Nunca sequer pleiteei qualquer tipo de indenização. Mas entendo que é justa a ação de reparação do Estado em reconhecimento a crimes cometidos contra cidadãos brasileiros. Existe uma máquina de desinformação em operação nas redes sociais, que visa destruir reputações e desestabilizar as instituições. Essa máquina mostra seu lado especialmente cruel quando, para atingir seus objetivos políticos, mente sobre a história e desrespeita a memória dos mortos e desaparecidos"
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3. As únicas informações verdadeiras em circulação nas redes sociais desde a polêmica entre Bolsonaro e Santa Cruz se refere ao fato de Felipe ter se lançado candidato a vereador pelo Rio de Janeiro pelo PT. Apesar de a informação circular repleta de ataques ao presidente da OAB, como ;teu passado te condena;, é verdade que ele concorreu ao cargo em 2004. Veja duas publicações que ganharam a internet:
Na ocasião, Felipe não foi eleito.
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4. Outra notícia falsa sobre o caso respinga em José Dirceu. Uma fotografia mostra, ao lado do ex-ministro, um homem armado, identificado falsamente como Fernando Santa Cruz. Veja:
Na verdade, a foto é do momento da prisão de José Dirceu, então presidente da União Estadual dos Estudantes de São Paulo (UEE/SP), durante congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) em Ibiúna (SP), em 12 de outubro de 1968. Ao lado dele, está um agente do Estado. A Fato ou Fake, do portal G1, fez a verificação com detalhes. Confira aqui.
Checagem feita por sugestão da jornalista do Correio Braziliense Denise Rothenburg