O grande alvoroço gerado por Avatar no cinema causou algum burburinho nos games. Poderia o filme quebrar o estigma de que jogos baseados em filmes sempre são ruins? De acordo com as promessas de James Cameron, sim. O diretor foi até a maior feira do mercado de games, a E3, para esclarecer que Avatar: The Game não seria mais uma adaptação feita às pressas, e, sim, parte da experiência do filme. Mas o que chegou às lojas passou longe do que foi dito pelo visionário criador do longa-metragem que viria a ter maior bilheteria de todos os tempos, com mais de US$ 2 bilhões de lucro.
Falta polimento em todos os aspectos de Avatar: The Game: jogabilidade, gráficos e, principalmente, enredo. Saem de cena os protagonistas do filme e entra Ryder, um soldado com um daqueles raros códigos genéticos capazes de sincronizar com um Avatar, um corpo igual ao dos Na;vi, a espécie alienígena que interfere nos planos da corporação RDA de extrair o unobtânio, um mineral riquíssimo localizado nas camadas subterrâneas do planeta Pandora. E muito pouco disso é explicado ao jogador.
Apesar de o jogo ter sido lançado duas semanas antes do filme, a impressão é de que ele foi feito para quem já foi ao cinema. Avatar não se dá ao trabalho de esclarecer sobre Pandora ou as criaturas que ali habitam: você chega ao local e assume um avatar, sem que ninguém diga ao jogador o que é aquele bicho azul. As falhas de contextualização e enredo são difíceis de relevar até para quem já assistiu o longa-metragem, e acaba ofuscando ideias boas como a Pandorapedia, uma janela do menu com vários artigos sobre a fauna e a flora do planeta.
No decorrer do jogo, a tensão entre os humanos e os na;vi aumenta e Ryder deve ficar de um dos lados da guerra. Cada raça tem uma jogabilidade diferente: enquanto está na RDA, você joga uma versão piorada dos títulos de tiro em terceira pessoa. A câmera é muito afastada e o personagem fica muito à esquerda na tela, deixando a mira imprecisa.
Como na;vi, o jogo parte para a ação corpo a corpo, pois a opção é utilizar armas rústicas, como lança e arco e flecha, que são uma grande desvantagem contra inimigos com fuzis e lança-granadas. Cada raça tem poderes especiais que os auxiliam: humanos podem correr mais rápido por um tempo, ou tomar menos dano, enquanto os na;vi invocam animais de Pandora para os auxiliar em batalha.
A guerra entre RDA e na;vi também continua em dois modos: o Conquest, acessado nas estações de troca de mapas, funciona como um jogo simples de estratégia. Também há um modo multiplayer, onde a vantagem fica novamente a favor dos humanos, porque é necessário que alguém tome o lado dos alienígenas para uma partida começar.
Não importa qual lado você escolha na guerra. Em ambos, a progressão do game é enfadonha. Avatar: The Game se desenrola em uma série de tarefas simples, como ir até um lugar e coletar itens, falar com uma pessoa ou derrotar um determinado número de inimigos. Os diálogos monótonos entre as missões só pioram as coisas. Nem as participações de alguns personagens do filme, como a dra. Grace (Sigourney Weaver) e a piloto Trudy (Michelle Rodriguez), dublados pelos próprios atores, fazem alguma diferença.
A parte mais agradável do jogo é a chance de explorar Pandora, mesmo com uma qualidade gráfica muito aquém do filme. O game utiliza a mesma técnica 3D do cinema ; se você tiver um monitor ou TV que possa rodar esse tipo de tecnologia. O visual é agradável, mas caminhar por Pandora nem sempre é fácil, porque só é possível andar em trilhas que volta e meia levam a becos sem saída. Pontos para escalar árvores costumam ficar escondidos entre a vegetação, sem nenhuma indicação.
Avatar: The Game consegue a proeza de desperdiçar tudo que há de bom no filme, em especial um cenário com tanta oportunidade para criar um ótimo jogo. Se você quer reviver a magia de Pandora e dos na;vi, é melhor passar longe do jogo e usar o dinheiro para assistir o filme.
James Cameron;s Avatar: The Game
Produção e desenvolvimento: Ubisoft
Disponível para PC, Xbox 360, Playstation 3, Wii, Nintendo DS e PSP
Número de jogadores: 1 (single player) até 16 (multiplayer)
Preço: R$ 99,90