Jornal Correio Braziliense

Game Over

Jogabilidade de Bioshock 2 melhora em relação a versão anterior, mas história é mais fraca

Não há termo para definir melhor a cidade de Rapture do que a palavra fantástico. O local, palco de Bioshock, lançado em 2007, é uma metrópole com arranha-céus localizada no fundo do mar. Seu criador, o magnata industrial Andrew Ryan, vislumbrava uma utopia em que cada indivíduo podia realizar o que quisesse, combinando o que havia de mais avançado na tecnologia da década de 60 com experimentos genéticos. Seu governo começou a ruir quando as mutações dos habitantes fugiram do controle e a cidade se tornou em um lugar aterrorizante onde os perigos pipocavam por todos os lados, a qualquer lugar.

Os mistérios envolvendo o local eram o centro da trama do game, que fascinou público e crítica e mostrou que os jogos de tiro em primeira pessoa poderiam ter uma história complexa e, ao mesmo tempo, atrair o jogador. Bioshock 2, lançado há duas semanas, traz o jogador de volta a mesma Rapture 10 anos após os acontecimentos do primeiro game. O que esta sequência tem a oferecer, já que o cenário tão inovador e único em 2007 não é mais novidade para o jogador?

Para começar, o protagonista não é Jack, o homem que descobre a cidade por acaso após um acidente aéreo, e sim o inimigo mais amedrontador do game original: o Big Daddy. Não apenas um qualquer, mas o Delta, um dos primeiros protótipos dos gigantes guarda-costas das Little Sisters, criancinhas que extraem dos cadáveres o ADAM, energia vital para as mutações genéticas e combustível para todos os confiltos do local.

Delta foi criado para proteger uma Little Sister em especial: a filha de Sophia Lamb, a pessoa que tomou para si o comando de Rapture depois destes dez anos. A história tem o mesmo tom maduro que é característico do universo da série, mas não consegue ser tão inovadora nem cativante quanto a do primeiro título.

Para quem não experimentou o Bioshock original, a sensação acaba sendo pior ainda, pois o game já assume que o jogador conhece aquele universo e o coloca rapidamente para coletar itens e procurar Little Sisters, sem muitas explicações. Da mesma forma que seu antecessor, Bioshock 2 conta os detalhes da história da cidade em gravações espalhadas pelos cenários.

Enquanto a história fica aquém, a jogabilidade se mantém em sua essência, mas com pequenas melhoras que fazem grande diferença. O Big Daddy, por exemplo, é bem mais forte que o protagonista do primeiro jogo, e aguenta mais o tranco de quem possa surgir de corredores estreitos ou largos e escuros salões. No entanto, há um novo grupo de oponentes que dará mais trabalho ao jogador: os Brute Splicers e os Rumbler Big Daddies, contrapartes mais musculosas dos inimigos do primeiro jogo.

A mudança de personagem também possibilita o acesso a armas que não existiam no primeiro jogo, como o braço de escavadeira e a Rivet Gun. Agora, os plasmids, poderes criados pela mutação genética, podem ser usados ao mesmo tempo que as armas, cada um em uma mão. O mini-game de burlar portas e máquinas de venda, uma das partes mais chatas do primeiro Bioshock, foi simplificada a um esquema de apertar botões em partes coloridas para conseguir diferentes tipos de itens.

Como Big Daddy, as decisões ao salvar uma das Little Sisters se tornaram mais importantes neste jogo. No original, era possível salvá-la e ganhar um pouco do fator mutagênico, ou matá-la e ficar com tudo que ela havia coletado. Agora, também há a opção de adotar uma delas. Quando isso acontece, a Little Sister mostra o caminho para mais cadáveres em que Delta pode coletar o ADAM. Ao mesmo tempo, um número maior de inimigos começa a atacar o personagem, o que torna necessário montar armadilhas e pensar em estratégias antes que eles apareçam.

Uma grande adição foi o modo multiplayer online, inexistente no primeiro jogo. Os modos são similares aos já existentes em outros jogos do gênero, como partidas em que todos se enfrentam, ou em que os jogadores são divididos em dois times. Além de não oferecer novidades, os cenários são os mesmos do modo de história, e os corredores estreitos da cidade tornam a ação menos estratégica e mais confusa.

Há um pouco de descaso com a versão para PC. No primeiro jogo, era possível escolher entre o teclado e o mouse, ou usar o controle do Xbox 360. O Bioshock 2 baniu o uso do joystick. Apesar de o consenso geral é de que teclado e mouse são ideais para um jogo em primeira pessoa, é sempre ruim quando tiram do jogador a oportunidade de escolher.