Em meio à crise hídrica, a agricultura será essencial na criação de soluções para o uso racional da água. O manejo correto do solo, novas tecnologias de cultivo e a eficiência na irrigação, entre outras práticas de conservação, podem contribuir com o aumento na disponibilidade de água em bacias hidrográficas e até melhorar a rentabilidade do solo. Essas foram algumas das propostas apresentadas por especialistas no painel ;Práticas de conservação da água e do solo para melhor produção alimentícia;, ontem, na 8; edição do Fórum Mundial da Água.
;Não é crucificar a agricultura porque causa poluição, mas alimentar as boas práticas. Temos que alimentar bilhões de pessoas, mas produzir da melhor maneira possível, respeitando as esferas da Terra é o importante;, avaliou a pesquisadora e chefe-geral da Embrapa Cocais, Maria de Lourdes Mendonça. Segundo a especialista, é necessário ver os problemas de uma maneira ampla, sem deixar de lado os impactos de cada atividade no ecossistema.
Maria de Lourdes ainda apresentou dados que mostram que mais de 30% dos solos do mundo inteiro passam por processos de degradação, o que, segundo ela, inclui a água. Por isso, é necessário que haja o monitoramento, com o objetivo de evitar perdas na agricultura. ;Temos boas práticas, mas por que não existe governança? Por que elas não são aplicadas? O que falta?;, questionou a pesquisadora.
Outro ponto a ser considerado é o crescimento populacional, segundo o secretário-geral da Comissão Internacional de Irrigação e Drenagem (ICID), da Índia, Ashwin Pandya. ;Não podemos trazer novas terras para a agricultura, e a produção necessária daquela terra precisa ser aumentada para comportar o crescimento populacional. Mas temos que fazer isso sem prejudicar o solo;, avaliou. Para Ashwin, o primeiro passo é entender o processo da irrigação e melhorar a utilização da água na agricultura. ;O que nós vimos é que a produtividade de fato aumenta bastante com a melhoria da disponibilidade de água;, explicou. Daí a importância de pensar alternativas tanto para o uso do solo quanto para o recurso hídrico. ;Se práticas de conservação da água e do solo não ocorrerem de maneira racional, podem levar a problemas de sustentabilidade do local;, concluiu Pandya.
Relevância
O gestor ambiental Bruno Vicente Marques, que também participou do painel, acredita que, mesmo com toda a evolução da agricultura, falta priorizar as questões ambientais. Na avaliação dele, os custos ecológicos deixam de ser contabilizados na maioria das vezes, o que culmina em processos erosivos, perda de biodiversidade, aumento de pragas e doenças. A consequência é a perda de desempenho do solo.
;O que queremos hoje é construir ambientes produtivos; garantir a coleta de informações constantes para auxiliar na gestão e tomada de decisões; avaliar o potencial que a agricultura tem de preservar os recursos naturais, recuperar ambientes e promover qualidade de vida;, afirmou. Como estudo de caso, Marques trouxe o exemplo da Fazenda Maringá (GO), em que mudanças sustentáveis levaram à ampliação da rentabilidade do solo.