Com o advento de inovações tecnológicas e diante de uma geração cada vez mais conectada, a escola passa por mais um período de transformações. As lousas digitais, os livros eletrônicos em tablets e a facilidade em obter informações na internet mudaram não apenas o ambiente escolar, mas também a forma como professores dão aulas. ;A escola tem um desafio grande de incorporar o uso dessas novas ferramentas. Ela tem feito algum movimento, mas a gente nota que precisa mudar muito;, diz Brasilina Passarelli, professora titular e chefe do Departamento de Biblioteconomia e Documentação da Universidade de São Paulo (SUP).
;A web horizontaliza relações de poder e a escola vende relações muito hierárquicas. O aluno fala com todo mundo nas redes sociais; tanto faz ser diretor ou colega, o comportamento da rede não é mesmo da sala de aula. Há esse choque de relação horizontal e vertical;, completa.
O professor e coordenador de matemática Bruno Marx de Aquino Braga participou de um projeto piloto de um colégio da Asa Sul ao dar aulas para alunos do 1; ano do ensino médio com tablets. Ele conta que a experiência é positiva e que uma das diferenças é que o professor deixa de ser o único centro importante e o aluno, um simples receptor.
;Com a tecnologia, você busca atividades nas quais os estudantes adotem uma postura mais pesquisadora e questionadora. O professor não é o foco do conhecimento, mas o gerenciador de todas as possibilidades que surgem;, afirma. ;Tivemos bons resultados ; e o uso de dispositivos móveis nem mesmo potencializou a distração. É uma atividade que quebra com a linearidade em sala de aula. É mais um instrumento pedagógico;, acrescenta Bruno Marx.
Assim como Bruno, vários professores do colégio participaram do projeto piloto e tiveram treinamento para adotar dispositivos móveis em sala de aula. Neste ano, farão um curso de 90 horas de ;letramento digital; que visa, principalmente, desenvolver mais, apropriar-se desses recursos e conceber esse processo baseado na não linearidade do ensino e aprendizado.
Análise crítica
;O professor agora faz a mediação, precisa qualificar. Antes, o ensino era pouco reflexivo ; agora o docente vai fazer análise crítica junto com os meninos;, explica a diretora educacional Andrea Studart Corrêa Galvão. ;A escola está dentro de um contexto, e o contexto hoje envolve a tecnologia;, completa.
Para a professora de espanhol Patrícia Melo, a nova forma de dar aulas só trouxe vantagens. Há um ano, ela substituiu o tradicional livro pedagógico pelo tablet e criou do zero o material adaptado à nova ferramenta, intitulado ;encantándose;. Nele, alunos assistem, por exemplo, a touradas, ouvem músicas e aprendem.
;Minhas aulas são completamente diferentes, muito mais dinâmicas. Como trabalho língua espanhola e os alunos têm mais contato com o inglês, tinha dificuldade de fazer com que eles gostassem do idioma ibérico. Hoje, com tablet, consigo fazer com que eles tenham um encantamento da aula de espanhol;, avalia Patrícia. ;Não foi fácil, nem é simples. Deve haver uma preparação inclusive psicológica do professor, que vai sair da zona de conforto, do método tradicional;, comenta.
Patrícia confessa que nem sequer tinha tablet na época em que pediram para ela criar o material didático. ;No começo do ano passado, a escola convidou profissionais para escrever um livro... e ainda veio a bomba de ser um livro digital. Aí, fiquei tentando processar: era material interativo, e sempre dei aulas levando vídeos, músicas...A fórmula deu certo;, ressalta.