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Na aula pela primeira vez

A estreia das crianças na vida escolar exige apoio dos pais. Mesmo para aqueles que têm mais dificuldades nos primeiros dias, a orientação de especialistas é perseverar, pois os benefícios ao desenvolvimento são inúmeros

Bruna Lima - Especial para o Correio
postado em 13/01/2019 02:20

Cecília Martins e Gleiderson de Oliveira vão levar o filho Pietro para a escola pela primeira vez este ano

Primeiro dia de aula. Para alguns pais, apenas a volta à rotina. Para outros, o desafio de ver pela primeira vez o pequeno entrando pelo portão da escola. ;O coração está apertado. Como cresce rápido. Um dia desses, estava na barriga e, agora, estou comprando material escolar;, brinca a técnica em enfermagem Cecília Martins, 32 anos.

A apreensão é ainda maior pois, durante o parto de Pietro, hoje com 2 anos e 5 meses, houve complicações e o menino chegou a ter parada cardíaca e a ser entubado. Mas ela e o marido, o professor de educação física e capoeira Gleiderson Alves de Oliveira, 35 anos, estão se preparando para dar esse passo este ano. ;Os médicos diziam que ele ia ter problemas de desenvolvimento. Talvez não enxergasse ou andasse. E ele está aí, saudável, superinteligente e empolgado para ir à escola. Acho que quem vai ter problemas com a adaptação sou eu;, comenta.

Muitas vezes, de fato, é a insegurança dos pais que acaba prejudicando o processo. É o que afirma a psicóloga especialista em terapia familiar sistêmica Lia Clerot. ;Sem querer, muitos pais acabam transferindo esta sensação de abandono para seu filho. É preciso ter em mente que a tranquilidade da criança no primeiro dia de aula não depende exclusivamente dela, mas da confiança dos pais;, pontua.

Para a doutora em educação Fátima Vidal, professora da Universidade de Brasília (UnB), uma alternativa para acalmar os ânimos nessas horas é trocar experiências. ;Ao conversar com outras mães e pais e escutar a experiência de quem já passou por isso, é possível identificar muita coisa em comum, o que ajuda a perceber que tudo passa. No fim, ver o filho ou filha caminhando, correndo, brincando e se divertindo com os colegas e professores será muito bom;, aconselha.

A adaptação de Lorenzo foi difícil, mas Ingrid e Diógenes insistiram e, hoje, veem os benefícios da convivência escolarMesmo com o preparo adequado por parte dos pais, nem sempre o roteiro sai conforme o esperado. No caso da advogada Ingrid Arnaut e do marido, o servidor público Diógenes Milhomem, 43, o problema inicial em aceitar a escola partiu do pequeno Lorenzo, de 1 ano e 7 meses, que não queria ficar longe de casa. ;Foram meses de adaptação. Sempre chorava e, como estava acostumado a ficar somente na presença de adultos, não queria brincar com os colegas, só ficar no colo da professora. Ele, que nunca tinha falado nada até então, chorando, disse ;mamãe;. Além dessa resistência, ele vivia pegando viroses. Foi por muito pouco que não desisti;, conta.

Porém, manter Lorenzo no colégio era necessário, já que Ingrid precisava se dedicar ao trabalho e aos estudos. Depois de tanto sufoco, a mãe de primeira viagem tem certeza de que fez a escolha certa. ;A criança tímida deu lugar a um sapeca. Hoje, ele brinca com os colegas da idade dele, aprendeu a dividir os brinquedos e se desenvolve mais rapidamente, criando independência. Agora é ele quem pede para ir para a escola, trazendo a mochilinha.;

É comum que a primeira vez na escola cause estresse, euforia, medo, tensão. Para a especialista Fátima Vidal, os pais precisam ser firmes e acolher todos os sentimentos dos pequenos. ;A dificuldade da adaptação é comum. Por isso, é necessário insistir carinhosamente, mas sem se oferecer como alternativa às professoras ao primeiro sinal de choro. É um momento importante. Autonomia, criatividade, amizades e novas descobertas sobre o mundo esperam por nossas crianças nas escolas;, afirma.

Fim das férias

Roberta Vancini e Luiz paulo Pedrosa preparam-se tanto para o primeiro dia de aula de Felipe quanto para a volta de Maitê

Preparar as crianças para os primeiros dias de aula não é um desafio apenas para os que estão estreando na vida acadêmica, já que a volta para a rotina escolar não é automática. Por isso, no caso da advogada Roberta Vancini, 36 anos, e do consultor em marketing digital Luiz Paulo Araujo Pedrosa, 44, a preocupação vem em dobro: vão colocar Felipe, de 2 anos e 6 meses, pela primeira vez na escola e precisam reintroduzir a filha mais velha, Maitê, 7, aos estudos.

;Estou entrando em pânico em imaginar que o Felipe possa dar tanto trabalho quanto a Maitê quando entrou no colégio pela primeira vez. Ela chorava todos os dias e eu acabava chorando junto. Hoje, ela gosta muito de voltar às aulas, rever os amigos. Mas, para fazer os deveres de casa e entrar no ritmo, demora um pouco. Por isso, costumo ir voltando aos poucos com a rotina. No começo deixando brincar até mais tarde e, depois, estabelecendo melhor o horário para dormir;, detalha Roberta.

Começar a mudança gradativa dos horários de férias é uma forma de adaptação recomendada, uma vez que, durante o recesso, as crianças acabam se desacostumando com a rotina. Além disso, podem ficar ansiosas com as novidades que serão inseridas: mudança de professores, novos amigos ou perda de alguns e novas responsabilidades.

De volta à rotina

Confira as orientações para ajudar o seu filho na retomada da rotina escolar

  1. É necessário não só estabelecer as regras, mas ouvir a criança, já que esta será a rotina dela. Faça perguntas como: o que deu certo no ano passado que podemos continuar e o que acha que devemos mudar? Informe também a sua rotina para que a criança compreenda todas as possibilidades.
  2. A presença dos filhos na compra dos materiais é importante não só para que eles sintam vontade de voltar à escola, mas também para que consigam entender que há um investimento financeiro. Incentivar que eles participem da organização da mochila ; ou, para crianças a partir de 9 anos, deixar que elas mesmas arrumem ; é importante no sentido de estimular a autonomia.
  3. Envolva-se com os novos professores e com a escola para saber se o filho está se sentindo acolhido. A escolha de uma instituição que tenha uma proposta pedagógica compatível com o perfil da criança é essencial para uma boa adaptação.
  4. O diálogo diário com os filhos é importante para que os pais tomem conhecimento da rotina dentro da escola e possam auxiliar caso surjam dúvidas ou problemas. Esses momentos não podem ser forçados. A dica é que os pais contem o próprio dia para que a criança se sinta confortável em dialogar.
  5. Estabeleça metas com os filhos ao longo do ano, perguntando a eles o que querem conquistar em relação aos estudos. Após definir os objetivos, defina prazos e faça avaliações ao longo do ano para conferir se as metas foram alcançadas.

Fonte: Bruna Santos, coordenadora pedagógica de anos iniciais do ensino fundamental

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