Trabalho e Formacao

Empresas familiares e seus legados

 

“No Brasil, a história do empreendedorismo confunde-se com a história das empresas familiares, que se originaram com os pais transmitindo o seu ofício aos filhos e ganharam, definitivamente, escala no início do século passado.

Atualmente, a maioria das empresas — no Brasil e no mundo — é familiar. Ou seja, em sua estrutura, há pelo menos um membro da família ocupando posição de comando. Muitos desses empreendimentos cresceram por meio do espírito visionário e empreendedor do seu fundador e desenvolveram características importantes — tais como: rapidez na tomada de decisão, estruturas horizontais e ausência de burocracia —, além de conquistar a lealdade de seus funcionários e desenvolver uma relação próxima com seus fornecedores, clientes e, sobretudo, com as comunidades nas quais estão inseridas.

O espírito e a união familiar foram igualmente determinantes no sucesso dessas instituições, mas, com isso, vieram também os desafios que outros tipos de empresa não têm. Muitas vezes, as relações acabam se misturando ao ambiente empresarial, a emoção substitui a razão e as intersecções entre a família, empresa e propriedade passam a ser fonte de baixa produtividade, ineficiência operacional e sérios conflitos familiares.

Muitas dessas corporações cresceram à sombra e dependência de seus fundadores, confundindo a história da criatura com a do criador e estabelecendo laços difíceis de desatar. Isso explica por que apenas 30% das empresas familiares sobrevivem à primeira sucessão e somente 5% chegam à terceira geração. A taxa de mortalidade é muito alta.

Uma importante pesquisa realizada pela PwC (2016) mostra que somente 45% das empresas familiares no Brasil têm um plano de sucessão para, no mínimo, alguns de seus executivos. A realidade é que a maioria das companhias não se prepara ou ainda não se deu conta da importância de começar a planejar a transição de sua liderança.

A passagem do bastão deve ser feita de maneira profissional. O candidato a assumir o comando deve ter formação, experiência e perfil alinhados com valores, cultura e desafios da função, independentemente de ter o sobrenome da família ou não. Além disso, a perpetuação da empresa vai depender da profissionalização da gestão, da implementação de processos transparentes, meritocráticos e de princípios de governança que passem a governar as relações entre a família e empresa.

Entretanto, tenho visto um número crescente de pequenos e médios empreendimentos preocupados com esse assunto e que buscam ajuda para capacitar seus herdeiros e, assim, iniciar o processo de sucessão. A profissionalização do futuro administrador e o processo de sucessão são peças-chave para assegurar o futuro da empresa.

Independentemente do tamanho da companhia ou do ramo de atuação, a sucessão em negócios familiares demanda tempo, planejamento e, muitas vezes, decisões difíceis. Em alguns casos, a venda total ou parcial da empresa pode ser a única opção. Em outros, o processo sucessório é a decisão mais adequada. Para qualquer cenário, herdeiros e fundador devem colocar os interesses da empresa acima daqueles familiares e pessoais, pois, muitas vezes, os descendentes não têm o perfil ideal para comandar, mesmo depois de anos de experiência, exposição e formação dentro do negócio. Ou, eles não se veem trabalhando na empresa por uma questão de aptidão e vocação, e isso precisa ser respeitado.

E você? Quando não puder mais estar à frente da sua empresa o que quer deixar para a sua família, qual será o seu legado? Ninguém é eterno, e a transição na sua empresa ocorrerá independentemente da sua vontade. Então, por que não planejá-la? Lembre-se que está em suas mãos a tarefa de decidir se a sua família herdará um problema ou um legado que continue honrando a sua história, suas realizações e a perpetuação daquilo que foi criado.


5 passos para perpetuar seu negócio

Negócios em família precisam se reinventar para manter a longevidade, aponta o especialista em gestão de pessoas Alexandre Slivnik, 
autor de livros na área. Ele deixa cinco dicas para quem tem um negócio de família e quer fazer a firma perpetuar entre mais gerações. Confira:

1. Nunca leve discussões do trabalho para dentro de casa. É preciso saber separar para que as relações sejam sustentáveis.

2.  Defina claramente o papel de cada um e respeite as decisões tomadas.

3. Defina um líder que tomará a decisão final nas discussões. Quando alguém tem previamente combinada essa função, fica mais fácil aceitar as decisões.

4. Fique atento à mudança de comportamento dos clientes. Escute-os, entenda o que eles verdadeiramente querem e esperam de você.

5. O melhor marketing é aquele que o seu cliente 
faz do seu negócio. Não simplesmente atenda as necessidades do seu cliente, exceda e vá além do que ele espera de você. Assim, com certeza, ele voltará e, melhor, trará novos clientes.


Sucessão organizada

O planejamento sucessório evita conflitos familiares, pois, na ocasião da morte do dono ou do presidente, os herdeiros estarão orientados sobre como agir. Sem isso, o falecimento do fundador pode terminar com muitas brigas e, por vezes, levar ao fim do negócio familiar. A ausência de planejamento impede o conhecimento da vontade da pessoa que deixou os bens, o que, somado a outros fatores, pode provocar problemas entre os sucessores. É o que explica o advogado Gildásio Pedrosa, especialista em direito societário e sócio do escritório Veloso de Melo, no Distrito Federal. Ele explica as formas de fazer isso:

» Planejamentos sucessórios mais simples: utilizam a elaboração de testamentos, escrituras de doação com cláusulas especiais e contratação de seguros. 

» Planejamentos sucessórios mais elaborados: podem envolver a constituição de holdings, aplicação de ferramentas de gestão societária e compliance, fundos imobiliários ou de investimento, acordo 
de acionistas.

Como escolher?
É necessário realizar uma avaliação patrimonial e familiar do caso. Após isso, o método deve ser discutido com um advogado de confiança para que seja concretizado de forma adequada e legal.