Diante da crise econômica provocada pelo coronavírus, a empresa onde Jéssica Silva, 25 anos, trabalhava como supervisora operacional demitiu todos os funcionários. “Ela já estava um pouco ruim das pernas, pagando atrasado... Acabou vindo a pandemia e não teve jeito”, relembra a engenheira de produção pela Faculdade Pitágoras.
Jéssica não foi a única da família a sofrer as consequências da crise: a mãe também ficou desempregada, e o pai, que tem uma loja de costura, viu o negócio perder faturamento. O único que continuou trabalhando foi o irmão, que é estagiário. “Neste último mês, começamos a ficar bem preocupados. Mas, aí, eu e meu pai recebemos o auxílio-emergencial e estamos conseguindo pagar as despesas básicas. É claro que tivemos que cortar extras”, conta a jovem.
Para complementar a renda, Jéssica começou a vender bolos. “Até que tem sido um negócio bem-sucedido para quem começou agora”, diz. A engenheira também está distribuindo currículo e tem aproveitado o tempo em casa para fazer cursos on-line e se aperfeiçoar.
A realidade da família de Jéssica é comum a milhares de brasileiros. De acordo com um levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) em parceria com o Instituto FSB Pesquisa, feito no início de maio, 40% dos trabalhadores perderam renda durante a pandemia de coronavírus. Desses, 23% ficaram totalmente sem receita e 17% viram o rendimento mensal cair.
Planejamento
Neste contexto, é preciso rever hábitos de consumo e cortar gastos. O planejamento financeiro torna-se essencial para contornar as dificuldades econômicas e sobreviver à crise.“Ter sucesso com dinheiro é sinônimo de se planejar. Para isso, tenho que pensar nos próximos três meses. Quanto eu sei que vou receber e quanto vou pagar”, explica a consultora em finanças pessoais Myrian Lund.
“É importante anotar todos os gastos no papel e saber para onde o dinheiro está indo. Não dá para fazer essas contas de cabeça, porque nossa mente é limitada. Ela esquece as despesas pequenas e só considera as que acha importante”, acrescenta. De acordo com a coordenadora de MBAs em gestão em cooperativismo de crédito da Fundação Getulio Vargas (FGV), a palavra-chave para quem perdeu receita durante a crise é negociar.
“Você vai renegociar todas as suas despesas, de A a Z”, afirma. “Teve o caso de uma cliente minha que disse: ‘ah, mas a escola do meu filho já me dá 50% de desconto’. Mas se 50% não esão sendo suficientes, se você não está conseguindo pagar, vai lá e negocia de novo. Ela fez isso e a escola ofereceu mais 15%”, exemplifica.
Myrian aconselha que se negocie redução, não parcelamento. “O importante é você conseguir desconto, não adiar para o futuro. Se não, depois, além de pagar a prestação do mês, você terá de arcar com outra em cima.”
Poupe
O segundo passo para enfrentar a crise, segundo a especialista em finanças pelo Ibmec, é guardar todo o dinheiro que não for destinado às despesas essenciais na reserva de emergência. “Isso é importante principalmente se você estiver desempregado. Guarde seu dinheiro. Ele precisa durar até seis meses, porque pode ser o tempo necessário para arrumar um emprego”, explica Myrian. “Se você foi demitido, não é para usar o auxílio para pagar dívidas. Se não, vai viver de quê no mês que vem?”, alerta.
O terceiro passo é buscar novas formas de ganhar renda e fazer trocas. “Eu vejo quais habilidades tenho e ofereço para outras pessoas”, explica. “Tem gente que estava sem dinheiro e começou a fazer máscaras de pano para vender. Outros começaram a dar aulas on-line”, diz. De acordo com a mestra em gestão empresarial pela FGV, vender objetos que não são mais utilizados também é uma boa opção para ganhar dinheiro. Ela cita o caso da cunhada, que vendeu um teclado que não funcionava mais por R$ 150 na OLX. “Ela ganhou R$ 150 por algo que era lixo para ela, mas, para outra pessoa, não. Tem técnicos que compram para usar teclas. Teve briga pelo teclado.”