Correio Braziliense
postado em 07/06/2020 04:29
O posicionamento de algumas empresas e personalidades em relação à onda global de protestos contra o racismo chamou a atenção dos internautas. O estilista Marc Jacobs, por exemplo, tem utilizado ativamente o Instagram para defender o movimento antirracista nos Estados Unidos. Durante os protestos, uma loja da marca dele, em Los Angeles, foi vandalizada, mas Jacobs saiu em defesa dos manifestantes nas redes sociais.
Ele postou uma publicação com a seguinte mensagem: “Nunca deixem convencê-los de que quebrar um vidro ou propriedades quebradas é violência. Fome é violência. Não ter um lar é violência. Guerra é violência. Jogar bombas em pessoas é violência. Racismo é violência. Supremacia branca é violência. Falta de acesso a serviços de saúde é violência. Pobreza é violência. Contaminar fontes de água por lucro é violência. Propriedades podem ser substituídas. Vidas humanas não podem”.
O post rendeu críticas, mas, também, milhares de elogios. Liliane Rocha, CEO e fundadora da Gestão Kairós, consultoria especializada em sustentabilidade e diversidade, avaliou a atitude de forma positiva. “Fiquei impressionada. Foi uma fala ousada. Imagina um executivo de uma empresa no Brasil dizendo isso claramente nas redes sociais. Eu achei muito bacana”, diz a idealizadora e professora da matéria de diversidade no curso de marketing da ESPM.
Outro exemplo que ela cita é o da Netflix Brasil. “(A empresa) falou do George Floyd (morto sufocado por um policial nos EUA, enquanto dizia ‘eu não consigo respirar’), mas falou também do João Pedro, um jovem de 14 anos morto na própria casa. Quando a Netflix diz que ficar em silêncio é ser cúmplice, é uma fala pesada de a gente imaginar”, comenta a mestra em gestão de políticas públicas, com MBA executivo em gestão da sustentabilidade pela Fundação Getulio Vargas (FGV). “De novo, fico tentando imaginar o empresariado brasileiro que eu conheço expondo uma fala dessas.”
O exemplo do ator Paulo Gustavo também foi avaliado de maneira positiva. Ele cedeu a conta do Instagram, com 13,5 milhões de seguidores, para a filósofa e escritora negra Djamila Ribeiro durante o mês de junho. “A gente percebe o impacto de ele ter passado a conta para ela porque, por mais famosa que ela seja, é muito diferente a quantidade de seguidores. Essa iniciativa dele faz muita diferença para a temática racial”, justifica Liliane, graduada em relações públicas pela Faculdade Cásper Líbero.
No cenário nacional
De acordo com Liliane, autora do livro Como ser um líder inclusivo, as empresas brasileiras não têm se posicionado tão ativamente em relação à pauta quanto as estadunidenses. Ela destaca, no entanto, o caso da Aegea Saneamento, cliente da gestão Kairós. “Eles colocaram a logomarca com fundo preto e publicaram um texto no Instagram, no Facebook e no LinkedIn falando sobre tolerância e diversidade racial. Também vão trazer vídeoss de funcionários negros explicando sobre como ser antirracista”, conta.
A preocupação da empresa com a igualdade racial não é de hoje. Desde 2017, ela tem um programa para promover a equidade nas oportunidades de acesso às vagas e de crescimento profissional dos colaboradores que se autodeclararam pretos e pardos — o Respeito Dá o Tom. Afinal, não basta se posicionar nas redes sociais, ensina Liliane, professora da pós-graduação de sustentabilidade e diversidade da Universidade de São Paulo (USP).
“As empresas se posicionam, o que é ótimo, mas, se chegar um currículo de um profissional negro, ele vai ter chances de ocupar uma vaga?”, indaga Liliane. “Isso é muito do trabalho que eu desenvolvo na Gestão Kairós”, acrescenta. “Eu questiono: qual percentual de negros você tem hoje na sua empresa, no quadro funcional e na liderança? Na sociedade brasileira, são 55,8% de negros. Se você tem 5% ou 10%, você não está representando a demografia da sociedade brasileira. Vamos trabalhar para isso?”, propõe.
Executiva lança guia
A Gestão Kairós lança o Guia de diversidade na legislação. O material foi idealizado para ser um instrumento de acesso à informação sobre a importância da garantia de direitos estabelecidos na Constituição de 1988. O guia traz informações importantes para profissionais que atuam nas áreas sociais e de direitos humanos, gestão de pessoas e para quem deseja se atualizar sobre a aplicação da lei e a garantia de direitos, cidadania e inclusão na vida cotidiana e, até mesmo, embasar um bom posicionamento na internet. O guia tem por objetivo ser mais uma ferramenta de apoio à transformação de ambientes corporativos. Este e outros materiais sobre diversidade e sustentabilidade podem ser acessados e baixados gratuitamente em: bit.ly/LegislacaoNa Diversidade_Gk
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