Trabalho e Formacao

Não existe idade para parar

A primeira megatendência apontada pelo estudo da PwC traz mudanças demográficas. Isso significa que, enquanto algumas sociedades estão envelhecendo rapidamente, outras são jovens e estão crescendo. Umas das consequências desse fenômeno é a pressão social para criar empregos destinados a trabalhadores mais velhos, que precisarão aprender novas competências. “Isso pressiona a aposentadoria e um governo direcionado a programa sociais. Há países mais jovens com uma grande população que não está se qualificando”, afirma Marcos Carvalho.


Segundo a PwC, enquanto a nova geração precisa de maior qualificação e exige um ambiente de trabalho diferente do tradicional, com horário flexível e contratos mais curtos, por exemplo, os profissionais mais velhos precisam de uma política de reinserção. A própria PwC conta com um programa interno de mentoria ou coaching, em que todos os funcionários têm um coach (na verdade um colega mais maduro) a quem podem recorrer quando tiverem dúvidas ou precisarem de ajuda.


A experiência de um profissional mais velho é de extrema importância para qualquer negócio. “Eles têm características que os jovens vão levar muito tempo para ter”, diz Marcos. Rosimary Ferreira, 65 anos, além de proprietária do curso de aulas particulares e reforço Nota Máxima, continua trabalhando no local como coordenadora pedagógica. A idade não é empecilho para oferecer o melhor serviço que pode. “Eu gosto de trabalhar. É muito bom sentir que estou provocando uma mudança positiva em uma criança. Isso me preenche”, confessa.


Troca de experiências intergeracional
A pedagoga acredita que o mercado sente falta do conhecimento e da prática de uma pessoa acima dos 60 anos. Informação teórica e domínio das novas tecnologias não bastam para oferecer um serviço de qualidade. Para ela, a convivência entre as gerações é fundamental. “É uma oportunidade para que os jovens extraiam conhecimento até mesmo a partir do comportamento profissional”, opina. Segundo Marcos Carvalho, as pessoas estão ficando mais velhas e mais obsoletas no ponto de vista tecnológico, mas isso não quer dizer que não sejam mais úteis — além disso, existe espaço para se atualizarem.


“Nós acreditamos muito no equilíbrio entre as idades e entendemos que essa diferença agrega muito”, diz Marcos. Apesar de sempre ter sido a própria chefe, Rosimary acredita que seria bem recebida se optasse por ir trabalhar em outro lugar. “Claro que vou concorrer com os mais novos, mas, se a escola tiver essa visão (de valorizar a experiência e a maturidade), eu tenho chance”, afirma, otimista. O quadro de funcionários do cursinho da pedagoga inclui professores acima dos 60.


“Nada justifica uma pessoa idosa estar parada dentro de casa de pijama e chinelo com uma bagagem de conhecimento de 35 anos. Se ela estiver bem de saúde, vai fazer muito bem em continuar ativa”, reflete. Sentir-se ocupada, arrumar-se para trabalhar, ter contatos e passar o que aprendeu para outras pessoas são fatores que tornam a vida de Rosimary mais alegre. “Sou feliz e realizada. É cansativo, mas são tantos benefícios que a gente passa por cima”, afirma.

 

O boom do trabalho remoto: casas inteligentes estão por vir

Já pensou em organizar o próprio horário e o cumprir em casa ou qualquer outro lugar que não seja a empresa? Agora, a pandemia do coronavírus obriga trabalhadores e companhias em todo o mundo a se adaptarem ainda mais rapidamente a essa tendência, que já era o sonho de 49% das pessoas empregadas, 55% dos autônomos e para 55% dos desempregados, segundo pesquisa feita pelo Instituto Ipsos, encomendada pela fornecedora de serviços Alelo. O levantamento Alelo Hábitos do Trabalho ouviu 2.333 pessoas, por meio de uma pesquisa on-line.
Um dos principais motivos para o home office ter se tornado tão desejado é a possibilidade de equilibrar as diferentes áreas da vida. “Com os problemas que temos de deslocamento e trânsito, a possibilidade de trabalhar de qualquer lugar oferece flexibilidade para conciliar compromissos pessoais e atividades físicas com as funções do emprego”, afirma Soraya Bahde, diretora de Gente e Inovação da Alelo. Além da flexibilidade, o trabalho remoto dá autonomia ao profissional, que precisa aprender a se organizar, definir prioridades e ser produtivo sem supervisão presencial.
Outra questão positiva para empresas é a redução de gastos com espaço, energia, água etc. Para Eduardo Guerreiro, da Cognizant, essa é umas tendência mais fortes no mundo do trabalho atual. “A jornada de 40 horas a que nós estamos acostumados está acabando. Eu não preciso mais controlar o horário do funcionário porque o que importa é que o produto seja entregue dentro do prazo”, justifica.

Organização é essencial
Jéssica Guedes, 24 anos, segue rotina laboral a distância há dois anos, desde que se formou no Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP). Ela presta serviços em home office para um advogado autônomo fazendo a redação de peças jurídicas, acompanhamento processual e elaborando a parte burocrática de processos. Quando necessário, acompanha clientes presencialmente. Para a advogada, a palavra que melhor define a atividade é organização. Sem ela, as tarefas se acumulam e as vantagens não são aproveitadas.

 

Uma rotina sustentável

A preocupação com o meio ambiente permeia diversos pontos das pesquisas sobre tendências. Mudanças climáticas e a escassez de recursos norteiam a quarta megatendência do estudo feito pela PwC em 2015. O Conselho Nacional de Inteligência dos Estados Unidos (NIC) prevê que a demanda por fontes de água, energia e alimentos aumentará de forma acentuada. Empresas terão que transformar o modelo de negócios para sobreviver.


Entre as 10 tendências de consumo da Euromonitor, a sustentabilidade é o foco de três: “mobilidade sem limites”, “revolucionários da reutilização” e “queremos ar puro por toda parte”. O espaço de coworking, eventos e café Yolo, localizado no Setor de Clubes Sul, completará um ano em maio e já faz parte da lista dos nove espaços de coworking mais elegantes do mundo, de acordo com o site Beer or Coffee. A vista para o Lago Paranoá, aliada a um ambiente moderno e funcional, ajudam. O nome Yolo deriva da expressão inglesa You Only Live Once (Você Só Vive Uma Vez).


Mesmo tão jovem, a empresa brasiliense tem a sustentabilidade como um dos principais propósitos. A CEO, Ana Cristina Alvarenga, divide a gestão com os dois filhos, Ana Carolina, que cuida da parte financeira, e Pedro Alvarenga, gerente de comunidade. A meta de Pedro, 24 anos, é que o espaço um dia seja reconhecido como 100% sustentável. Desde a inauguração, o Yolo conta com um sistema de reutilização da água, que, além de ser ecológico, faz com que a conta da Caesb (Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal) seja uma das menores preocupações da gestão.  

Sempre em busca de ser verde
O desafio é grande, mas a iniciativa é um dos pontos fortes da equipe. Durante as reuniões, o time debate novas ideias sustentáveis, como a adoção de ecocopos e ecoxícaras, além de panos de prato na cozinha em vez do papel toalha. Um investimento mais moderno é a parceria com uma das empresas residentes, a startup Yest Tecnologia. Juntos estão passando por uma fase de teste do sistema Coworking 4.0. Trata-se de um aplicativo que torna possível verificar a quantidade de energia gasta em cada ponto do estabelecimento.
 O fundador da startup, Fernando Oliveira, explica que a inovação é também uma maneira de tornar o ambiente mais confortável e receptivo. O local conta também com um poste de energia solar para carregamento de celulares logo na entrada. “É uma forma de energia muito mais econômica que a convencional. Queremos espalhar isso”, declara.


O gasto com energia é o maior da empresa. Afinal, o ar-condicionado precisa estar ligado quase que durante todo o dia, existem os freezers e muitos computadores. Para solucionar essa questão, a ideia é a instalação do teto solar até o fim do ano. Os residentes do coworking são incentivados a trabalhar como se estivessem em casa. Eles lavam a própria louça na copa, têm acesso 24 horas ao prédio, senha do alarme, contam com chuveiro e vestiários se precisarem de um banho.


Para deixá-los ainda mais confortáveis, Pedro Alvarenga pretende negociar com a Secretaria de Transporte e Mobilidade a possibilidade de implantar um ponto das bicicletas compartilhadas próximo à empresa ou pelo menos um bicicletário próprio. 


“No começo, eu tinha muita dificuldade. Já perdi fins de semana inteiros trabalhando, mas, com o passar do tempo, comecei a planejar o tempo e seguir tabelas”, relembra. Hoje, com o planejamento correto, ela consegue entregar as demandas dentro do prazo. Jessica separa cerca de seis horas por dia para o trabalho, de acordo com os compromissos da vida pessoal. Se houver uma consulta, um aniversário, ou qualquer outro programa não profissional, ela apenas remaneja esse tempo.


Na maioria das vezes, opta por trabalhar da manhã até o início da tarde para estar disponível para a família no restante do dia. As atividades são conciliadas com outros projetos profissionais, como a parceria com duas advogadas para atuação na área de direito digital. Jéssica também atende alguns casos por conta própria. Além disso, começa este ano o mestrado em direito constitucional na Universidade de Brasília (UnB), na mesma área em que já é especialista pelo IDP.


Com tantas ocupações, o trabalho não é feito somente em casa. Algumas vezes, ela adianta atividades entre as aulas ou nos intervalos das audiências. A maior vantagem é ter o poder de escolher como será o dia. Já a desvantagem é não ter o convívio com mais profissionais na área para receber feedback  de maneira mais próxima. De acordo com Soraya Bahde, graduada em administração, a pessoa que está acostumada com esse sistema pensa 10 vezes antes de mudar para uma empresa que não tem a prática estabelecida.
“Eu não me imagino trabalhando em um lugar com horários definidos. Nunca se sabe do futuro, mas eu pretendo continuar assim”, diz Jéssica. O estudo da Euromonitor aponta como tendência de consumo as casas multifuncionais, totalmente aptas para o home office e outras obrigações do cotidiano. “As pessoas não precisarão sair de casa se não quiserem” , afirma Marcel Motta, diretor geral da empresa. Outra tendência que ganha força frente à pandemia do coronavírus.

 

Palavra de especialista 

Trabalhando em home office
O home office tem sido adotado por muitas empresas estrangeiras, sendo ainda uma novidade para a maioria delas no Brasil. Na PwC, temos políticas formais que incentivam essa prática, cuja adoção tem aumentado gradualmente nos últimos anos.


Com o advento da pandemia gerada pelo coronavírus, essa forma de trabalho mostrou-se uma excelente alternativa no combate à propagação do contágio. De fato, o home office tem sido utilizado em grande escala por muitas empresas nos últimos dias.


Ainda é cedo para afirmarmos que ela será largamente usada pelas empresas, embora, naturalmente, seja uma excelente alternativa. É importante salientar, no entanto, que é necessário ajustar o home office de acordo com as características da empresa e de seus funcionários, de forma que não gere isolamento e frustração social. É importante garantir, também, que os profissionais tenham estrutura adequada para a realização de seus trabalhos de forma remota.

Marcos Carvalho,
sócio da
PricewaterhouseCoopers Brasil.