Trabalho e Formacao

Pesquisas revelam que propósito na carreira é essencial para ser feliz

O dinheiro não deve ser o único motivo para sair de casa e ir trabalhar. Compreender o valor da profissão é o primeiro passo para se dar bem

O valor do propósito na carreira

Apesar de o trabalho ser remunerado, o dinheiro não deve ser o maior motivo de alguém sair todos os dias de casa para trabalhar. É muito mais eficiente se a pessoa se identifica com o que faz e, por isso, executa até mais do que o exigido. Líderes têm papel crucial em fazer os subordinados encontrarem esse objetivo, mas também não são, sozinhos, responsáveis pela motivação de ninguém: profissionais precisam achar o que os move
 
 
Você já se sentiu desmotivado antes de encarar a jornada de trabalho? Ou levantou, olhou-se no espelho e quis imediatamente voltar para a cama? E, mesmo com um imenso desânimo, precisou lavar o rosto, respirar fundo e ir trabalhar? Existem boletos para pagar; às vezes, uma família para alimentar... Apesar de todo serviço para trazer remuneração, está mais do que comprovado  que só o salário não basta para ter motivação, mesmo para cargos mais altos, com vencimentos também superiores. “Considero importante reforçar uma distinção: emprego é fonte de renda, enquanto trabalho é fonte de vida. Trabalho gera vitalidade, emprego pode muitas vezes apenas dar dinheiro”, afirma o filósofo Mario Sergio Cortella.
 
E, quando o serviço traz essa energia, os resultados são muito melhores. “Quem está motivado faz mais do que a obrigação, isto é, tem a obrigação como ponto de partida, e não de chegada”, completa Cortella. “Uma pessoa que tem uma carreira da qual a alegria faz parte é uma pessoa que se deixa contagiar pela energia dos projetos em que se envolve e contagia outras com suas ideias”, continua o filósofo. Ver propósito no que se faz e identificar-se com ele é fundamental para ter energia durante o expediente.
 
No entanto, mostrar a serventia da atividade desempenhada por cada empregado dentro da grande engrenagem das empresas ainda não é prioridade para muitos gestores. Pesquisa da consultoria PwC (PricewaterhouseCoopers) com 1.510 funcionários de meio período e 502 chefes de 39 indústrias dos Estados Unidos revelou que, embora a prioridade de toda empresa seja o sucesso dos negócios, líderes que dão importância somente ao valor de mercado perdem a chance de gerar rendimentos ainda maiores utilizando o propósito para dar significado ao trabalho dos colaboradores.


Erika Braga, diretora de recursos humanos da PwC Brasil
O estudo Putting purpose to work — a study of purpose in the workplace (Dando propósito ao trabalho — um estudo sobre propósito no ambiente de trabalho, em tradução livre) investigou o que as companhias podem fazer para incentivar os subordinados. O levantamento revelou que 79% dos líderes acreditam que o propósito é fundamental para o sucesso comercial e a existência de uma organização; entretanto, apenas 34% usam o propósito como guia na tomada de decisões. Além disso, só 27% dos chefes ajudam os funcionários a conectarem os próprios propósitos ao trabalho da empresa.
 
Afinal, se as lideranças sabem da importância, porque várias não colocam isso em prática? Esse foi um dos questionamentos que motivaram o estudo, como explica Erika Braga, diretora de Recursos Humanos da PwC Brasil. “O que nos motiva a estudar o tema é entender o que falta para que as empresas compreendam a importância disso e ajudar as pessoas a se conectarem”, completa. O que é enxergar propósito no trabalho? Isso não envolve necessariamente uma carreira com estabilidade financeira, viagens ou prêmios todos os anos.
 
O que conta é sentir que você está fazendo algo porque existe uma razão — de preferência, uma importante e válida para o empregado. É uma maneira de dar sentido ao seu trabalho e entender as contribuições que está fazendo tanto para a empresa, quanto para a sociedade. Nem sempre o líder ajudará nesse processo, então, o profissional pode agir sozinho. De acordo com Erika, há três passos que o próprio funcionário deve seguir para conseguir bons resultados na vida profissional. “Primeiramente, deve-se entender qual o seu propósito pessoal, depois, como ele se conecta ao da organização em que está inserido e, por fim, aprender a trazer isso para o dia a dia”, aconselha.

Grau de contentamento 

 

A pesquisa da PwC foi desenvolvida nos Estados Unidos e mostra, inclusive, que o propósito influencia diretamente os níveis de satisfação do quadro de colaboradores. No Brasil, esse cenário se repete. Por aqui, a boa notícia é que o grau de contentamento dos brasileiros com o trabalho tem crescido. Desde 2017, a Sodexo Benefícios e Incentivos faz pesquisas quantitativas para avaliar a percepção do brasileiro em relação às experiências profissionais. O último levantamento foi feito no terceiro trimestre de 2019 (julho, agosto e setembro).
O estudo verificou que a percepção dos brasileiros em relação às experiências de trabalho ficou em 6,5 pontos (em uma escala de 0 a 10), representando aumento de 5% em relação ao mesmo período de 2018 (6,22 pontos). Isso pode estar relacionado ao fato de mais pessoas verem propósito no que fazem. Claro, o contexto também influencia o resultado. Segundo o vice-presidente de Marketing da Sodexo, Fernando Cosenza, o aumento da satisfação é fruto da confiança do brasileiro no contexto geral de melhora do país. As razões incluem, por exemplo, diminuição do desemprego.
 
“Quando a pessoa sente que pode perder o emprego, não ser promovida, estagnar na mesma posição ou vê o alto desemprego, isso influencia a percepção dela”, diz. “Nós entendemos que, acima de tudo, houve um aumento da perspectiva da trabalho”, pontua. Enxergar a vida profissional de forma positiva traz inúmeras vantagens. Primeiramente, a produtividade aumenta, é possível alcançar melhores resultados e, com isso, vem o reconhecimento. Quando o exercício da profissão faz bem, acaba a ansiedade para se livrar do trabalho e voltar para casa, o humor fica melhor e os momentos com família e amigos são vividos de forma mais intensa e alegre.
 

 
Consenza explica que não há porque separar o trabalho do restante da nossa existência. “Precisamos entender que nossas vidas são a multiplicação da qualidade nos dois ambientes. A realização profissional é integrada ao conceito de felicidade. Não adianta dizer que é feliz em casa se não é feliz durante o seu expediente”, afirma, o que se torna mais fácil quando o empregado vê valor no que produz na empresa, enxergando um bom propósito naquilo. Bill Moraes, vice-presidente no Brasil da empresa de treinamento e consultoria FranklinCovey, observa que o propósito no emprego faz parte da vida de pessoas felizes.
 
Graduado em ciências da computação pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e pós-graduação em liderança organizacional, Bill ensina que, para chegar a esse patamar, existem quatro pontos fundamentais que merecem reflexão por parte de líderes e colaboradores: a visão de onde se quer chegar, a disciplina para transformar o plano em realidade, se existe paixão naquilo e a consciência que guiará os próximos passos. “Sem esses quesitos, as pessoas viram vítimas do trabalho”, afirma Bill. “Quando a satisfação não se dá pelo salário, mas, sim, pela importância do que você faz, aí você se torna uma pessoa feliz. O trabalho é quase voluntário e mais proativo quando ligado ao propósito”, compara. 

Leia!

 

 

O melhor do Cortella: trilhas do fazer — ideias, frases e inspirações
Autor: Mario Sergio Cortella
Editora: Planeta
143 páginas
R$ 38,90
Neste segundo volume da trilogia O melhor do Cortella, o filósofo apresenta questões relacionadas ao universo profissional por meio de ideias, frases e inspirações sobre temas como carreira, liderança, condutas e competências.
 
 
 

Um bom gestor, um bom funcionário

Graduado em relações internacionais pela Universidade de Brasília (UnB), Fernando Cosenza, da Sodexo, analisa que a motivação é pessoal, individual e subjetiva. “Cada um tem um motivo diferente. Podemos fazer o mesmo trabalho e não termos objetivos iguais. A motivação é feita por si. Uma pessoa não motiva outra, apenas contribui no contexto”, justifica. Um estilo de liderança mais democrático, que oferece autonomia ao empregado, pode contribuir para isso. Desse modo, a autoridade do chefe se constrói pela inspiração, pelo exemplo e pelo carisma, e não simplesmente pela hierarquia.
 
Segundo o estudo da PwC, uma empresa verdadeiramente orientada por propósitos deve usá-los como um guia para tudo, inclusive a tomada de decisões. Formada em administração de empresas pela Pontifícia Universidade Católica (PUC), a porta-voz Erika Braga identifica que é contraditório gestores reconhecerem o valor de conhecer o objetivo final de um trabalho, mas não se basear nele ao escolher que atitudes tomar. “Não adianta falar que o propósito é importante e não usá-lo na tomada de decisões. A conciliação entre ele e o sucesso é possível e deve ser feita”, afirma.

Uma chefe que mostra a finalidade do trabalho 

Caso a pesquisa da PwC fosse realizada no Brasil, Antônia Torres, 45 anos, estaria entre os 34% dos líderes que usam o propósito como um guia na tomada de decisões de liderança. Ela é administradora do Centro Hiperbárico de Brasília (CHB), sendo responsável por 10 trabalhadores. “Eu não tenho como tomar decisões sem que nosso propósito seja levado em consideração, pois cada uma delas impacta o que nós desenhamos como modelo de negócios. Nosso planejamento tem que ser alinhado ao que a gente pensa”, afirma.
 
 
O CHB é uma clínica que se baseia na oxigenoterapia hiperbárica (OHB), modalidade terapêutica que submete o paciente à inalação de oxigênio puro em pressão maior que a atmosférica, dentro de uma câmara hermeticamente fechada. O método ajuda a tratar feridas e lesões crônicas ou difíceis de cicatrizar. Segundo Antônia, graduada em recursos humanos pelo Unicesp, o CHB tem como propósito o atendimento humanizado.
 
 
Essa missão é ressaltada em todos os aspectos da instituição, sendo inclusive repassada aos parceiros. “Se eu quero que o colaborador faça um atendimento humanizado, então a minha gestão tem que ser assim”, enfatiza. Antônia diz estar sempre preocupada com o bem-estar dos funcionários dentro e fora do expediente. Ela acredita firmemente que o meio influencia a vida das pessoas. Se o ambiente de trabalho é um local em que o profissional se sente acolhido, estimulado e respeitado, ele provavelmente reproduzirá esse sentimento no trato com os clientes, por exemplo. “Eu quero que tornemos melhor a vida de quem trabalha aqui”, defende.

Incentiva autonomia

Segundo Erika Braga, da PwC, o pensamento de desejar o melhor para a equipe está no caminho certo. De acordo com ela, o primeiro passo para ser um gestor motivador é incentivar a autonomia dos profissionais. “Um líder centralizador reduz o engajamento das pessoas”, pontua. Antônia Torres tem a mesma opinião. Ela acredita que a descentralização é sinônimo de qualidade de vida tanto para ela quanto para o colaborador. No entanto, isso não significa lidar com o grupo como uma unidade.
 
A ideia do coletivo é deixada de lado para que cada colaborador seja tratado no seu individual, de forma única. Talita Pires, 21, trabalha há um ano e meio como auxiliar administrativa no Centro Hiperbárico Brasília e afirma sentir-se incentivada pela chefe Antônia a crescer, não só na vida profissional, mas também na pessoal. “Sinto que sou entendida como uma pessoa e não como um robô que produz o tempo todo, ela reconhece que temos pontos fracos”, destaca.
 
“Se alguém não estiver em um dia bom, dormido mal ou com alguma dor, ela vem e aconselha, coloca você para dormir em algum quarto no meio do expediente”, conta Talita, ao exemplificar outras atitudes da chefe que a motivam no trabalho. “Ela é muito conselheira. É o tipo de pessoa que nos ensina, nos explica o que tem que ser feito, o porquê daquilo, qual caminho deve ser seguido”, diz. A auxiliar, que cursa empresariado executivo bilíngue na Projeção, afirma que se sente motivada pela gestora e, a partir disso, entende que seu trabalho tem um propósito. 

Na prática

Confira cinco dicas de Erika Braga para líderes incentivarem seus funcionários e fazerem com que vejam sentido no que fazem:
— Valorize a autonomia dos profissionais: um líder centralizador reduz o engajamento da equipe.
— Saiba ouvir: é importante entender as necessidades dos funcionários e dos clientes. Algumas vezes, são as pessoas com menos experiência que trazem novas ideias. Aprender com os outros é fundamental.
— Desenvolva relacionamentos saudáveis: isso gera motivação e novos aprendizados.
— Capacidade de adaptação: o mundo está mudando de forma muito acelerada. Por mais que mudar seja incômodo, é necessário está sempre se moldando.
— Crie mecanismos para renovar energia: é importante gerar bem-estar nos colaboradores. Na PwC, por exemplo, há um banco de hábitos saudáveis que fornece dicas cotidianas para aliviar o estresse.
- Olhe para pequenas coisas do dia adia: um bom líder precisa estar atento aos detalhes. 

Google, Microsoft e outras empresas adotam metodologia de propósito 

Algumas metodologias são criadas essencialmente para melhorar a gestão de empresas. O OKR, ou Objectives and Key Results (em português, objetivos e resultados-chave), foi criado por Andrew Grove, ex-CEO da Intel. O método tem se mostrado muito eficiente ao incentivar o propósito. O líder de estratégia digital da consultoria Assertiva, Marcelo Araújo, é adepto da metodologia que tem como princípio básico identificar os objetivos da empresa e os resultados que se quer obter.
 
Ele ajuda instituições daqui a colocarem isso em prática. Os diferenciais, ou os “superpoderes” do OKR, como diz o estrategista formado em administração e especializado em economia criativa, são manter o alinhamento e gerar a autonomia. O alinhamento significa que os objetivos da empresa são entendidos e definidos por todos os membros dela. A autonomia é conquistada uma vez que cada setor é responsável por decidir como contribuir para trazer resultados.
 
“Na prática, devemos escolher juntos qual a melhor direção e cada um decidir qual a melhor forma de chegar lá [nos resultados]”, afirma. A metodologia é aplicada pela Google desde 1999, além de ser também adotada por organizações como Microsoft, LinkedIn e Twitter. 

“Perdi a motivação”

Ambiente de trabalho saudável é sinônimo de vida saudável — e vice-versa. Quando o espaço onde você está inserido não lhe faz bem, os prejuízos podem ser graves. E um ambiente pode se tornar tóxico quando a chefia só liga para números, sem mostrar propósito aos subordinados. É isso que sente *Paulo Eduardo, 23 anos. Ele trabalha como auxiliar financeiro há quatro anos em uma concessionária e alega ter ficado doente por causa da gestão. E não é o único.
 
Segundo o estudante de análise e desenvolvimento de sistemas no Centro Universitário Iesb, os colegas também se mostram desanimados e, consequentemente, improdutivos. “Eu tive que fazer acompanhamento psicológico. A mesma situação vem acontecendo com outras pessoas da equipe. Alguns se demitiram, outros tiveram que se afastar”, desabafa. Quando foi contratado, o trabalho era satisfatório. “Eu me sentia motivado. Já havia sido aprendiz lá, e a iniciativa da empresa era outra”, conta.
 
O quadro se alterou em 2018, quando a presidência da firma mudou. O problema principal foi o corte de pessoas. Com menos funcionários, as cobranças e as atribuições aumentaram para os que ficaram, sem que houvesse aumento na remuneração. E a situação piorou. Diminuíram drasticamente o valor da comissão de vendas e nenhuma justificativa foi dada aos empregados. Na antiga gestão, sempre que o empregado batia alguma meta ou recebia feedback positivo, a empresa o presenteava, algumas vezes com uma bonificação.
 
Segundo ele, isso também acabou e não foi por causa de crise. As vendas seguem no mesmo padrão. “Eram coisas simples, mas que tinham muito impacto”, lamenta. Carlos Eduardo só não deixou o emprego ainda por falta de perspectiva de conseguir vaga em outro lugar. “Vejo muitos amigos sem emprego, o mercado está competitivo”, afirma. Outra razão é a faculdade. “Sigo indignado, mas, faço o que tenho que fazer e estou estudando para encontrar algo melhor”, relata.

*Nome fictício para proteger a identidade do entrevistado  

Na estante

 

 

 

Liderança & Propósito: o novo líder e o real significado do sucesso
Autor: Fred Kofman
Editora: Harper Collins
351 páginas
R$ 31,40
Em um livro revolucionário que revela os segredos de como envolver e manter as pessoas em uma organização, construindo times mais fortes e coesos, Fred Kofman explora o que é preciso para se tornar não apenas um bom líder, mas um líder transcendente.
  
 
 
 
As 4 disciplinas da execução: garanta o foco nas metas crucialmente importantes
Autores: Chris McChesney, Sean Covey, Jim Huling e Bill Moraes
Editora: Elsevier
352 páginas
R$ 47,89 ou R$ 37,99 (e-book)
A obra é resultado da metodologia desenvolvida pela Franklin Covey para se atingir as metas mais importantes na vida executiva. O livro contou com a revisão técnica da Franklin Covey Brasil e traz estudos de caso de como algumas empresas estão adotando a metodologia no país. 
 
 

Satisfação pessoal e profissional

Fazer um casamento entre seu propósito de vida e o propósito do seu local de trabalho é possível. Danielle Baldoíno, 41 anos, é prova disso. Ela conquistou realização pessoal e profissional trabalhando dentro da própria casa. No passado, cancelou algumas férias porque não tinha com quem deixar seus cachorros até que se deu conta de que outras pessoas viviam o mesmo contratempo, uma vez que, com certa frequência, cuidava dos animais de amigos. Bastou apenas um “empurrãozinho” do destino para que ele decidisse transformar de vez o próprio lar em um hotel para cachorros.
 
A iniciativa, além de ser fonte de renda, ajudou no tratamento de uma depressão profunda. Danielle não imaginava que se sentiria tão bem por causa do trabalho. Antes de começar a dedicar a vida a cuidar de cachorros, trabalhou em outras áreas. Passou por faculdades de direito, jornalismo e marketing, mas não se identificou e trancou. No fim das contas, se formou em secretariado executivo pelo Centro Universitário Internacional (Uninter) e seguiu carreira na área. “Eu não era infeliz no meu trabalho, mas não era realizada”, percebe. Em 2012, Danielle adoeceu.
 
  
Devido a uma séria crise de depressão, precisou se afastar do emprego. A terapia principal, define ela, era o companheiro Baby, um poodle, já idoso na época. No ano seguinte, retornou ao trabalho, mas ainda estava doente, o que se intensificava com a falta de realização profissional. “A melhor decisão foi pedir demissão para continuar o tratamento em casa”, revela. Danielle conta que morava em um apartamento em Águas Claras, com o marido, Leonardo Baldoíno, e os três pets: Baby, Bob e Blush. No fim de 2016, o casal decidiu deixar o apartamento e se mudar para uma casa.
 
“Não foi por falta de espaço. Nós queríamos dar mais qualidade de vida para eles”, explica. No entanto, a antiga rotina fez falta. Em Águas Claras, Danielle frequentava o ParCão, pensado para os pets. Vários moradores se reuniam diariamente em horários combinados para os animais brincarem juntos. “Eu ia duas vezes por dia. Era o momento em que eu me sentia melhor”, relembra. Dani ellenão queria que os cachorros perdessem aquela experiência. Até que surgiu ideia de levar o ParCão para casa depois de uma amiga pedir para que ela cuidasse de uma cadela por alguns dias.

Na época, a colega perguntou quanto  cobraria pela hospedagem. Ela nunca tinha pensando em cobrar pelo favor, mas sugeriu um valor depois de pesquisar e conhecer o aplicativo Dog Hero, que conecta donos de cachorros a pessoas que oferecem serviço de hospedagem ou passeios. Nascia assim o hotel canino O Mundo de Bob, localizado em Arniqueiras. O nome homenageia o desenho O Fantástico Mundo de Bobby. Na animação, o personagem principal sai da realidade para explorar o mundo da imaginação. É um universo lúdico que Danielle deseja oferecer para os cachorros.

Felicidade e realização

Na pousada para pets, Danielle provê o que se pode chamar de hospedagem “humanizada”. Ela não usa baias, ou seja, os cachorros podem andar livremente pela casa. A única barreira que eles encontram são grades de proteção infantil, usadas durante as refeições. Danielle explica que é um momento delicado em que ela necessita dividir os clientes. “Como tem alguns cachorrinhos mais idosos e outros, mais agitados, eu preciso separá-los na hora de comer. Eles não são agressivos, mas muito elétricos”, explica. Aos poucos, o ambiente foi sendo adaptado e, hoje, tem capacidade para receber 11 cães ao mesmo tempo.
 
 
Agora, a casa tem uma piscina exclusiva para os hóspedes, outra de bolinhas, além de caminhas espalhadas. Os bichos de estimação podem dormir onde quiserem. Caso se sintam confortáveis na sala, na cozinha ou até mesmo no quarto de Dani, está tudo bem. Alguns chegam a dormir na cama do casal. Depois de começar esse trabalho, Dani se especializou e fez um curso de auxiliar veterinário. E não vai parar por aí: ela começará o curso de medicina veterinária na Universidade Católica de Brasília (UCB) este ano, depois de ter feito e passado no vestibular sem contar para ninguém.
 
“Trabalhar pela satisfação muda sua vida em todos os aspectos. Se hoje eu estivesse trabalhando na área em que me formei, talvez eu fosse uma boa profissional, mas não faria da melhor forma possível, como faço hoje”, diz. Por causa da depressão, Dani tinha parado de dirigir. Era uma amiga que a levava para o curso de auxiliar veterinário no Gama. Entretanto, quando a colega precisou viajar, a dona de O Mundo de Bob precisou pegar o volante de novo e, depois de sete anos, voltou a dirigir. “Meu marido nem acreditou que eu fui. Pediu para eu mandar até a localização”, brinca.
 
Mesmo superando o trauma, o volante ainda é evitado. Por essa razão, Dani terceiriza o serviço de buscar e levar cachorros, que fica com Shirley Mendes, 41. “Somos amigas, na verdade, nos tratamos como irmãs”, define Dani. Shirley fica com a função de “uber pet”, como elas chamam, que inclui buscar os cachorros quando os donos não podem os levar ao veterinário, por exemplo. “Nós tentamos sempre perceber a necessidade do cliente, seja no transporte, seja na hospedagem, seja na alimentação”, diz Shirley.
 
Os planos de Danielle, após juntar propósito de vida e profissional, são muitos. Depois de se formar como médica veterinária, deseja expandir O Mundo de Bob para outros nichos. “Quero que, quando pensem na gente, saibam que podem contar com o nosso uber pet, com banho, creche, educação para animais, adestramento, loja virtual, além de tratamento veterinário”, almeja. Foi uma mudança de vida. “Não me vejo mais longe disso”, explica. Dani conta que chega a ouvir que não é mais a mesma pessoa. A satisfação a tornou alguém muito mais feliz. “A verdade é que eu nunca vi o que faço como trabalho, mas começou a me dar uma renda e muita satisfação”, conclui.


* Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa
Mulher branca e cabelo castanho vestida em uma blusa estampada azul sorrindo.
PwC/Divulgação - Mulher branca e cabelo castanho vestida em uma blusa estampada azul sorrindo.
Divulgação/FranklinCovey - Homem branco, com cabelo grisalho de óculos e terno segurando o livro As 4 disciplinas da execução
Sodexo/Divulgação - Homem branco e loiro, sorrindo e vestido com uma camiseta azul claro
Nícolas Braga/Esp. CB/D.A Press - Funcionários do Centro Hiperbárico de Brasília, à esquerda duas mulheres vestidas de preto, no centro um homem de jaleco e na esquerda duas mulheres também de preto.
Nícolas Braga/Esp. CB/D.A Press - Mulher branca e loira sentada em uma cadeira de escritório apontando para um notebook enquanto outra mulher, branca de cabelos castanhos, está atrás em pé observando com atenção
Assertiva/Divulgação - Homem negro de braços cruzados usando uma camisa amarela e óculos de grau.
Nícolas Braga/Esp. CB/D.A Press - Mulher de cabelo preto amarrado, usando uma blusa cinza, calça preta e óculos de grau, alimentando três cachorros no sofá enquanto sorri.
Nícolas Braga/Esp. CB/D.A Press - Mulher de cabelo preto amarrado, usando uma blusa cinza e óculos de grau, abraçando cachorro envolto em uma toalha após o banho
Nícolas Braga/Esp. CB/D.A Press - Duas mulheres brancas, uma de cabelo preto amarrado, usando uma blusa cinza, e outra com blusa e calça azul, ambas sorrindo e sentadas em um banco de madeira acompanhadas de cinco cães.
Nícolas Braga/Esp. CB/D.A Press - Dois cães no banco de trás do carro. Um deles equipado adequadamente para passear com segurança em uma espécie de cadeirinha para cães
Editora Planeta/Reprodução -
Harper Collins/Reprodução -
Editora Elsevier/Reprodução -
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