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Campeão de windsurf foil é dono de clube dedicado a esportes em Brasília

Campeão brasileiro de windsurf foil é dono de clube dedicado a esportes no Lago Paranoá. O maior segredo do crescimento do negócio, que recebe até 300 pessoas por dia nos fins de semana, é o amor do dono pelo que faz


 
Praticantes de vela, windsurf, caiaque, SUP (stand up paddle) e outras modalidades aquáticas encontram no Katanka o porto seguro ideal. O clube é uma praia brasiliense e faz o melhor uso possível de um dos grandes legados da construção da capital federal, que é o Lago Paranoá. Localizado dentro do Clube das Nações, mas aberto ao público, o local não é exclusivo para amantes de esportes.

Os frequentadores encontram ali um bar e restaurante com opções de lanche e almoço, além de drinks e petiscos, espreguiçadeiras para tomar sol, redes à sombra de árvores, área verde ao redor por onde passam animais, como capivaras e araras… Tudo isso ao longo da orla do lago e a poucos metros da Ponte JK. Trata-se de uma boa opção de entretenimento para passar o dia sozinho, em família ou com amigos.

A história do Katanka se confunde com a do proprietário e fundador, Marcello Morrone, 48 anos, que venceu, em 2019, o Campeonato Brasileiro de Windsurf Foil. Nessa modalidade, é como se as pranchas com vela voassem sobre a água, pois apenas um hidrofólio encosta realmente na superfície, enquanto o atleta se equilibra, com a força do vento, bem acima do lago. O cerne do negócio, a princípio, era ensinar pessoas a praticar esportes aquáticos. 
 
 
O próprio Marcello dá aulas até hoje. Ao longo dos anos, ele e a mulher, a arquiteta Daniela Morrone, foram expandindo o leque de ofertas, o que ficou mais fácil depois que o clube ganhou uma sede fixa, em 2008. Antes, a partir do ano 2000, os serviços eram oferecidos em clubes diversos até, por fim, chegar ao endereço atual.

Hoje, é possível ir ali para aprender um esporte, curtir o ambiente ou alugar equipamentos — incluindo caiaque, SUP, vela e até bikes aquáticas, em que os clientes sentem e pedalem enquanto se locomovem pela água. Quem tem equipamento próprio também pode optar por pagar uma taxa para armazenar no clube. As opções, garante Marcello, são para todas as idades. “Aqui tem desde criança de 8 anos a idoso de 80.” Atualmente, o negócio tem 12 funcionários para dar conta da demanda. 

Nos dias movimentados, o clube recebe de 200 a 300 pessoas. “E há ocasiões em que precisamos fechar a entrada porque atingimos a lotação, tem gente que deixa para vir mais tarde e não consegue entrar.” Para o cliente Rui Nascimento, 59 anos, o Katanka é um jeito de ter um gostinho da vida praiana em plena capital federal. “Sou carioca, gosto de surf e moro em Brasília há muitos anos. Então, eu vejo aqui como um substituto da minha praia”, diz o ex-jogador profissional de tênis, medalhista em Olimpíadas e em Jogos Pan-Americanos que frequenta o clube desde 2010.

Amor que nasceu cedo

Filho de um italiano que cultivou nele, desde criança, o amor pela vela, Marcello, hoje, faz o mesmo com os dois filhos, um menino de 8 e uma menina de 7 anos. “Quando eu fiz 13 anos, meu pai, que era muito ligado ao mar, me deu um barquinho à vela para aprender. Desde menino, eu adorava brincar de barco, mesmo estando em Brasília, longe do mar. Minha coisa sempre foi com iatismo, mas de vela, não de lancha”, afirma.
 
 
O primeiro contato com uma prancha veio no começo da adolescência, passando o verão numa praia do Espírito Santo, onde o pai tinha um apartamento. “Um vizinho tinha uma prancha à vela, e eu tinha um barco. Trocamos para experimentar e, de lá para cá, eu nunca mais voltei para o barco”, brinca. A paixão de Marcello por esportes não motorizados na água é tanta que isso acabou fazendo-o mudar de carreira. 
 
Engenheiro civil com especialização em segurança do trabalho, ele fez diversas matérias optativas de educação física durante o curso na Universidade de Brasília (UnB). “Em uma dessas vezes, um professor estrangeiro ofereceu a disciplina Metodologia da prancha à vela. Eu já velejava e, quando vi na grade essa oferta, quis fazer na hora”, lembra. No semestre seguinte, Marcello chegou a ser monitor do docente e aprendeu técnicas para “ensinar a ensinar”.

Com um grupo de amigos da UnB, montou uma escola de windsurf em 1991. Na época, ele investia todo o dinheiro que ganhava como estagiário de engenharia nisso. “Como Brasília tem um vento muito particular, cada hora está de um jeito, eu sempre pesquisei muito os equipamentos mais eficientes para funcionar nas condições menos perfeitas”, diz. Com o tempo, os sócios se separaram. “Essa escola continua até hoje, e eles são muito meus amigos. Cada um seguiu seu rumo, e eu vim fazer o Katanka”, conta. 

“Eu comecei a trazer equipamentos que funcionavam melhor do que os que existiam por aqui, e essa fama começou a se espalhar.” Nos primeiros cinco anos do negócio, Marcello conciliava o clube e a engenharia civil. “Depois, eu vi que não dava para fazer os dois bem-feito. Então, eu optei pelo que eu gostava mais”, relembra. “E acho que um dos segredos de ter dado certo é o fato de eu gostar demais do que faço. Eu vibro com cada pessoa diferente que vem e passa a gostar também do que a gente gosta.” 

Segundo o empreendedor, atrair gente nem sempre é fácil. “O desafio é estar em Brasília desenvolvendo uma atividade que não é própria daqui, não é natural, a gente não tem mar. A maior parte da população não tem familiaridade com esses esportes”, explica. Graças à popularização do SUP, esse cenário tem se modificado um pouco. “E nem todo dia é bom para windsurf, que requer mais vento. Com o SUP, mesmo sem vento dá para estar fazendo algo legal na água.”
 
 

Na década de 1990, os praticantes de windsurf eram os maiores frequentadores do Katanka. Hoje, há mais interessados em SUP. Para quem nunca tentou algo assim, Marcello deixa o convite: “Quem não conhece precisa experimentar e ver o tanto que é gostoso fazer uma atividade física em cima da água e contemplar o ambiente. Temos equipamentos certos aqui para qualquer condição de vento, nível técnico (de amador a quem quer competir) ou tipo físico”. 

Adaptação    

Com a estrutura do Katanka, ele conta que tem gente que aproveita qualquer intervalo para praticar. “Existe uma pressa do velejador de entrar na água porque o vento pode estar bom e mudar. Então, deixamos tudo engatilhado. Em uma hora, a pessoa pode treinar, almoçar, tomar banho e ir embora”, diz. Quando o assunto é refeição, parmegiana é um dos pratos que mais faz sucesso. Há também opções mais leves, como tapioca e açaí. “No começo, eu não tinha a visão de que o pessoal gostaria de um espaço para fica fora d’água e comer ou relaxar”, admite. 

“Antes, tínhamos uma lanchonete e, há uns dois anos, tivemos essa sacada colocamos um restaurante”, relata. Foi como empreender num ramo totalmente novo, e ele e a esposa contrataram uma consultoria para montar o cardápio. Também investiram em tecnologia: os pedidos são feitos e pagos num totem digital, o que acabou com um antigo problema de filas no caixa. “Focamos aqui num ambiente de família, tem muitos pais que vêm com crianças, não tem música alta. É quase num sistema de praia mesmo, o pessoal costuma vir e passar o dia todo”, descreve.

Saiba mais

Katanka, clube náutico de esportes não motorizados
Setor de Clubes Sul, Trecho 4, dentro do Clube das Nações
www.katanka.com.br / Instagram: clubekatanka / 981725233
Durante o carnaval, até terça-feira (25), o horário de funcionamento é das 9h às 16h
Entrada por dia: R$ 20, valor que é revertido no aluguel de equipamentos; crianças acima de 12 anos não pagam
Aluguel de SUP: R$ 35 
Caiaque Duplo: R$ 40 reais por meia-hora ou R$ 50 reais por uma hora