A procura por cursos profissionalizantes cresceu no último ano, de acordo com dados do Censo Escolar da Educação Básica 2019, elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). O número de matrículas nos cursos técnicos, de formação inicial continuada e de qualificação profissional aumentou 0,6% em relação a 2018, com um incremento de 11.519 inscrições nessas modalidades de ensino. Com isso, são 1.914.749 matrículas ao todo no país.
De acordo com o gerente-executivo de Educação Profissional e Tecnológica do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Felipe Morgado, esse crescimento se deve, entre outros fatores, à valorização das profissões técnicas. “O uso de novas tecnologias e a incorporação da formação profissional como um dos itinerários do novo ensino médio chama a atenção da sociedade para essa modalidade de ensino”, explica.
No entanto, o crescimento poderia ser maior. “Cada dia mais, os jovens enxergam que a educação profissional é uma oportunidade para o mercado de trabalho. No entanto, o Brasil tem uma característica de valorizar mais a academia, o ensino superior”, percebe. “O preconceito com o ensino técnico ainda existe, mas está mudando cada vez mais graças à incorporação de novas tecnologias no mercado.”
Importância
Os cursos profissionalizantes oferecem formação voltada ao mercado de trabalho tanto para jovens que ainda estão no ensino médio quanto para aqueles que o concluíram. “Os cursos profissionais são a porta de entrada para o primeiro emprego e ajudam o estudante a se inserir no mercado de trabalho de maneira mais rápida”, afirma Morgai. Ainda segundo o gerente executivo de Educação Profissional e Tecnológica do Senai, muitas vezes, a remuneração das profissões técnicas é maior do que as de ensino superior, o que atrai muitas pessoas para essa modalidade.
Vale ressaltar que o ensino profissional não se contrapõe à universidade. “Normalmente, aqueles que fizeram cursos técnicos se destacam na educação superior porque tiveram prática na área”, afirma Morgado. “Inclusive, a gente recomenda que aquela pessoa que começou a graduação, mas não se identificou procure um curso profissional. Isso vai ajudá-la a entender a área de atuação e a se destacar no momento em que for para a faculdade”, acrescenta. Além disso, os cursos profissionais são uma opção para aqueles que têm ou estão cursando o ensino superior, mas desejam se recolocar na carreira.
Perfil dos estudantes
De acordo com o Censo Escolar, as mulheres são maioria nos cursos profissionalizantes em quase todas as faixas etárias. Do total de matrículas, 56,7% são do sexo feminino. Os homens são predominantes somente no grupo de pessoas com mais de 60 anos. Na faixa de 40 a 49 anos, onde a discrepância é maior, as mulheres correspondem a 62% dos alunos da educação profissional.
O Censo Escolar da Educação Básica também mostra que há certo equilíbrio no número de matrículas de acordo com a raça. Brancos representam 46,9% do total e pretos e pardos, 52%. No entanto, há predominância de pretos e pardos na educação de jovens e adultos para ensino médio (representando 83,8%) e nos cursos de formação inicial e continuada ou de qualificação (59,4%).
2,6 mil vagas gratuitas no Senac
O Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac-DF) abriu inscrições para o preenchimento de 2.638 vagas em 43 cursos técnicos e de formação inicial e continuada do Programa Senac de Gratuidade (PSG). As inscrições vão até quarta-feira (19), das 8h às 18h, nas unidades de Taguatinga, Setor Comercial Sul (Jessé Freire e TTH), Plano Piloto (903 Sul), Gama, Sobradinho e Ceilândia. Para as turmas ofertadas pelo Senac Ações Móveis, onde as aulas são oferecidas em entidades parceiras, a inscrição vai até sexta-feira (21), das 9h às 17h. Para se inscrever, é necessário ir pessoalmente à unidade. Edital disponível no link: bit.ly/3bFCK4z. Para participar, é necessário ter renda familiar per capita de até dois salários mínimos; idade igual ou superior à idade mínima exigida em cada curso; escolaridade exigida para o curso escolhido; não ter evadido ou desistido de outro curso PSG; e não ter matrícula em curso PSG em andamento até a data de início do novo curso.
"Curso técnico prepara para o mercado"
Nos institutos federais, os estudantes têm a possibilidade de fazer um curso técnico paralelamente ao ensino médio. Maiara Augusta Araújo Soares, 17 anos, optou por essa modalidade. Ela está no 3º ano do ensino médio integrado ao técnico em eventos no Instituto Federal de Brasília (IFB). “Diferentemente do ensino médio tradicional, o curso técnico nos insere no mercado de trabalho e nos dá a oportunidade de terminar a escola e já começar a trabalhar na área”, diz.
Nas aulas, que ocorrem todos os dias da semana, no período da tarde, Maiara aprende técnicas de oratória, marketing e como organizar eventos. “Eu adoro!” Ela conta que a turma organizou até casamento. “As dinâmicas das minhas aulas são bastante diferentes, pois, em vez de os professores nos moldarem para que todos nós pensemos de forma igual, eles nos dão oportunidade de pensarmos por nós mesmos”, relata.
Quando terminar o ensino médio, a estudante não pretende seguir carreira na área. O sonho dela é cursar medicina. Mesmo assim, os conhecimentos que adquiriu no curso técnico, certamente, serão importantes. “Eu me tornei uma pessoa muito mais curiosa e pensativa”, reflete. Maiara não acha que fazer um curso técnico junto do ensino médio atrapalha os estudos para vestibulares. “Nós temos oficinas de técnicas para o PAS (Programa de Avaliação Seriada) e Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) na escola, o que ajuda bastante.”
Leia!
Educação profissional no Brasil — Síntese histórica e perspectivas
Autores: Francisco Aparecido Cordão e Francisco de Moraes
Editora: Senac
236 páginas; R$ 30
O livro analisa demandas do mundo do trabalho e traça um panorama das transformações históricas da educação profissional no Brasil.
*Estagiária sob a supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa