Situações de assédio moral e sexual ainda podem ser muito frequentes no trabalho, apesar de serem considerados muito negativos e mancharem totalmente a imagem de quem comete. No ranking de assuntos mais recorrentes na Justiça do Trabalho de janeiro a novembro de 2019, os pedidos de indenização por dano moral relativos a assédio moral e assédio sexual estão aumentando. Assédio moral está na 29ª posição entre 1.117 assuntos: foram 105.084 processos novos.
Assédio sexual ficou na 277ª posição entre 1.117 assuntos, com 4.478 processos novos. As informações são do Tribunal Superior do Trabalho (TST). O Senado, em cartilha que orienta sobre como agir nesses casos, define: o assédio moral é a repetição constante de gestos, palavras ou comportamentos que expõem um colaborador a situações humilhantes e constrangedoras.
Eu fui vítima
O assédio levou o educador físico Leonardo Mobile, 35 anos, a pedir demissão da academia onde trabalhava há um ano. O morador do Gama pegou um engarrafamento a caminho do trabalho e chegou oito minutos atrasado para a aula que ministrava. Apesar de ter avisado a supervisora sobre o ocorrido, ao chegar ao local de trabalho, foi surpreendido com uma chamada de atenção nada agradável.
“Estava indo ao banheiro e passei pela sala onde estava tendo reunião com vários supervisores, entre eles, a da unidade em que eu trabalhava”, relembra. “Fui avisar que tinha chegado, estava indo tudo bem na aula e ela começou a gritar comigo na frente de todo mundo. Disse que eu não poderia sair nem para ir ao banheiro”. Além da bronca, Leonardo passou a ser pressionado para executar tarefas em cima da hora.
Ao pedir demissão, o educador físico conta que a supervisão tentou fazer com que a ocasião o prejudicasse em outra unidade na mesma rede em que trabalhava. “Queriam queimar meu filme na outra unidade. Minha sorte é que a chefe não aceitou.” Vítima de assédio moral, Leonardo conta que ficou decepcionado com o tratamento que recebeu. “Eu ministro aula das 18h às 21h e não posso ir ao banheiro? As pessoas acham que o professor é uma máquina”, lamenta.
Ele considera que a postura da supervisora está fora do que se espera de um chefe. “Não acho que isso seja comum. O que eu espero de um líder é que não mande, ele lidere, resolva as coisas de igual para igual”, reflete. Se você passou por alguma situação semelhante à de Leonardo, saiba que essa postura está sendo cada vez menos bem-vista pelo mercado de trabalho. Psicóloga e líder do time de recursos humanos da Sólides, Lara Amorim esclarece que o tema tem sido tratado com seriedade nas empresas e que atualmente os empregadores têm prezado pelo respeito e diversidade.
“Acho que hoje a gente está realmente mais preocupado com o capital humano, então essas atitudes que ferem esse aspecto são inaceitáveis”, considera. “É uma questão de respeito, igualdade, saber lidar com as diferenças, não só de questões físicas, mas também de pensamento, de ideias, para que a gente consiga somar e não dividir.”
Um novo perfil de líder
O que as empresas procuram hoje são líderes com perfil mais empático e que saiba resolver conflitos sem precisar abusar do poder. “Antigamente, o líder era muito mais autoritário. O que se espera hoje é que se tenha alguém que saiba engajar a equipe, criando protagonismo. Tem que ter uma sinergia muito grande com o time. Não só gerenciar pessoas e sim desenvolvê-las”, observa Michel Khouri.
A analista de RH Thainá Passos tem observado o aumento na procura por profissionais em cargos de gestão que tenham habilidades mais humanas. “Ter capacidade de se relacionar, se sensibilizar com as pessoas, a capacidade de resolver problemas é muito importante. Estamos falando de um mercado que é muito competitivo e estressante. Então, precisamos de pessoas que façam o caminho inverso”, comenta.
Antigamente o líder era muito mais autoritário. O que se espera hoje é que se tenha alguém que saiba engajar a equipe, criando protagonismo. Tem que ter uma sinergia muito grande com o time. Não só gerenciar pessoas e sim desenvolvê-las”
Michel Khouri, gerente sênior de transição de carreira da Thomas Case e Associados
“O assédio moral consiste na repetição deliberada de gestos, palavras (orais ou escritas) e/ou comportamentos que expõem o/s servidor/a, o/a empregado/a ou o/a estagiário/a, ou ainda, o grupo de servidores/as ou empregados/as, a situações humilhantes e constrangedoras, capazes de lhes causar ofensa à personalidade, à dignidade ou à integridade psíquica ou física, com o objetivo de excluí-los/las das suas funções ou de deteriorar o ambiente de trabalho.”
Cartilha — Assédio Moral e Sexual no Trabalho do Senado Federal
Confira no link: bit.ly/2NrbV9t