Jornal Correio Braziliense

Trabalho e Formacao

Casal faz sucesso vendendo roupas usadas na Estação Central do Metrô

Marido e mulher comandam box de roupas e calçados femininos usados na Estação Central do Metrô. Antes disso, o negócio funcionou durante 13 anos nos fundos da casa deles, no Guará

O box do Brechô chama a atenção de quem passa pela Estação Central do Metrô, na Rodoviária do Plano Piloto. São 4m; bem aproveitados: tudo é organizado, bonito e limpo, como numa boutique tradicional. A única diferença é que as peças, todas voltadas ao público feminino, são de segunda mão. Por dia, a loja atende cerca de 40 clientes. O local abriga cerca de 500 peças expostas, com preços que variam entre R$ 20 e R$ 70 por unidade. O negócio funciona no coração de Brasília desde 1; de julho, mas surgiu há 13 anos, na casa de Ilza Paiva, 54 anos, e Miguel Melo, 61.
Cada peça de roupa ou calçado feminino exposto ali foi rigorosamente selecionado. ;Temos clientes fornecedores, em geral do Plano Piloto, de Águas Claras ou de Taguatinga. Eles vêm aqui trazer as peças ou a gente vai à casa deles fazer a seleção;, diz Miguel. Cada item é escolhido a dedo. ;Nossa opção é oferecer uma mercadoria usada, mas com um nível bom. Não aceitamos consignação: tudo é comprado. Trabalhamos com o que é nosso;, explica. A secretária Priscila Andrade, 27 anos, estava passando pelo local e foi atraída pela variedade de produtos na loja. ;Tem muita coisa, bons produtos;, elogia.

Histórico

[FOTO1]Miguel ocupou cargo comissionado em órgão público durante muitos anos, enquanto Ilza levava os dias como dona de casa. Quando ele ficou desempregado, o casal procurou uma nova fonte de renda. ;Quando a Ilza falou de montar um brechó, eu nem sabia direito o que era isso. Apoiei, mas com receio, sem saber como lidaríamos com isso;, admite o piauiense Miguel. A própria Ilza, que fez a sugestão, também teve medo do ramo. ;Eu nunca tinha trabalhado fora, sempre fui dona de casa. Comecei sendo artesã, fazia pano de prato e bordados para vender. Minha cunhada que deu a ideia de vender roupa usada;, recorda a goiana.

;Eu recuei um pouco, achei que ninguém compraria, mas deu certo desde o começo;, conta, orgulhosa. Tudo começou nos fundos da casa deles, no Guará. ;A minha primeira cliente era minha vizinha. Agora, ela vem aqui na Rodoviária para comprar e se tornou minha amiga. Geralmente, faço amizade com as clientes;, revela. Com o tempo, a procura cresceu, e os dois se mudaram para uma residência maior a fim de comportar tanto a família quanto o negócio. Eles perceberam que havia potencial de alavancar as vendas num local com mais visibilidade.
[SAIBAMAIS]

Após procurarem muitos pontos, decidiram-se pela Rodoviária. Antes disso, faziam feira no local desde 2012. ;Muitos clientes que nos conheceram dessa época vêm agora para comprar;, conta Miguel. O novo espaço do Brechô foi inaugurado em 1; de julho. ;O resultado e o movimento são muito melhores aqui, o público é bem maior. Em casa, vinha quem já conhecia;, compara Miguel. O único aspecto que, segundo ele, era melhor na residência da família era o espaço. A meta de Ilza, agora, é conseguir um espaço maior na Rodoviária. ;Quando viemos alugar, esse era o único disponível. Não temos provador porque não cabe. Por enquanto, damos um jeito, pedimos para usar o do vizinho;, relata.

Independência

Enquanto funcionava no Guará, a empresa se chamava Magia da Moda. O nome Brechô é novo, veio para rimar com Metrô. O Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) é da categoria microempreendedor individual (MEI), na qual se enquadram empresas com ganhos mensais de até R$ 6.750. ;Vendas são uma incógnita; São boas no início do mês, na época de pagamento. Tem dias em que vendemos

R$ 800, tem dias em que vendemos R$ 200. É bem variado;, comenta Miguel. Segundo ele, o faturamento é suficiente para cobrir todos os custos. ;Não sobram grandes quantias, mas, com a minha formação, é um resultado melhor do que eu teria se tivesse um emprego normal;, diz Miguel, que tem ensino médio incompleto.

;A gente tenta separar o dinheiro da loja do nosso, mas, de vez em quando, dá uma misturada. Porém os ganhos estão maiores aqui na Rodoviária;, detalha Ilza. Miguel comemora a independência de ser dono de um negócio. ;É mais trabalhoso, mas vale a pena. Só temos que dar satisfação para nós mesmos.; Ilza gosta de trabalhar no comércio. ;Isso nos dá a chance de conhecer pessoas e coisas novas;, percebe. Um dos segredos para se sair bem no ramo, ensina ela, é a capacidade de manter bom relacionamento com os clientes. ;Tem que saber atender bem. O atendimento é muito importante.;

A rotina do casal é puxada: Ilza e Miguel vão dormir à 0h e levantam às 4h30 para abrir o Brechô às 6h30, de segunda a sábado. Domingo é dia de visitar clientes, comprar, limpar e consertar mercadorias. Eles têm uma filha de 30 anos, graduada em letras-inglês pela Universidade de Brasília (UnB) e funcionária pública; e um filho de 23 anos, estudante de gestão de políticas públicas na UnB. Trabalhar em casal, para eles, não é problema. ;Ele é meu braço direito, meu braço esquerdo, meu tudo;, elogia Ilza. O segredo para manter o negócio por tanto tempo, além de ter uma boa parceria, conta ela, está na perseverança. ;A gente não desiste mesmo.;