Jornal Correio Braziliense

Trabalho e Formacao

Sociedade entre irmãs

Uma delas tem doença celíaca; a outra, não. Juntas abriram uma empresa de produção de bolos e tortas sem glúten

As irmãs Anna Paula Passos, 45 anos, e Patrícia Passos, 41, têm mais em comum do que os laços de sangue: ambas são dentistas, especializadas em radiologia. Para completar, trabalharam na mesma empresa, emitindo laudos em home office, por mais de 10 anos. Hoje, a parceria continua, mas num negócio próprio. Há seis meses, elas abriram o Passos sem Glúten ; Atelier de gostosuras. A iniciativa é voltada a oferecer pães, bolos, tortas doces e salgadas para pessoas com doença celíaca. ;É o que a gente diz: não confunda vida sem glúten com vida sem sabor;, afirma Patrícia. O projeto começou apenas com entregas e ganhou força pelo boca a boca e pelo Instagram. Em 15 de agosto, o negócio passou a ter endereço em Águas Claras. Agora, os clientes podem optar por comprar para levar, comer no local ou pedir delivery.
;Tudo começou na cozinha da casa da Patrícia, que se tornou exclusiva para produções sem glúten. As entregas ficavam por minha conta;, diz Anna Paula. No total são três irmãs na família, e a caçula, a fisioterapeuta Fernanda Passos, 36, foi a primeira a descobrir que não podia consumir glúten, há nove anos. A condição é genética. Então, havia a chance de mais alguém da família ter o problema. Após fazer exames, Anna Paula também foi diagnosticada com a doença celíaca. ;É difícil. Você não pode mais ir a um barzinho e comer ou beber qualquer coisa;, desabafa.

;Tem gente que diz que é frescura, que é para emagrecer. Só que não é dieta da moda, é uma doença autoimune, que não tem cura;, diferencia. ;No mercado, você precisa ler o rótulo de tudo.; É uma missão ainda mais complicada porque até mesmo alimentos que não são feitos de trigo podem conter traços de glúten por contaminação. ;Já achei fubá e até orégano que tinham.; Patrícia não tem a doença celíaca, mas, por gostar de cozinhar e se comover com as restrições das irmãs, passou a investigar e inventar jeitos de adaptar receitas.

;Eu via que elas consumiam coisas caríssimas e que não eram saborosas. Eu fazia comida e ficava arrasada de minhas irmãs não poderem comer;, explica Patrícia. Determinada a achar maneiras de adaptar receitas, Patrícia decidiu procurar um curso, mas não encontrou nenhum específico. Então, se formou em confeitaria e padaria convencional em Belo Horizonte e passou a testar adaptações. Foram muitos erros e acertos até dominar técnicas a fim de recriar, sem glúten, o que quer que fosse. ;Ninguém te dá o pulo do gato. Os bolos afundavam, ficavam uma sola de sapato ou intragáveis;, observa Patrícia. ;Tentei bastante até conseguir fazer algo bonito e gostoso. As pessoas comem e perguntam: você tem certeza que é sem glúten?; A cliente Adriana Galdino Eyng, 37, elogia essa característica. ;O sabor é muito bom e o preço também. Eu encomendo para a minha casa ou levo para confraternizações, e as pessoas comem sem perceber que não tem glúten;, conta. No início, as invenções eram para consumo próprio. Até que as irmãs perceberam que havia ali um potencial de negócio.

Novo caminho
;Quando você faz 40 anos, começa a repensar. Eu sou tão dedicada, então por que não montar algo meu e fazer aquilo crescer?;, reflete Patrícia. ;Desde o início, eu tive certeza de que a Passos sem Glúten daria certo. Tanto pela nossa dedicação quanto por ver o que minhas irmãs passavam. Existe uma necessidade no mercado, e a gente tem algo diferente e bom para oferecer. Não estamos copiando ninguém porque criamos nossas receitas;, detalha.

O faturamento bruto mensal antes da abertura da loja física ficava em torno de R$ 8 mil. Agora, os custos aumentaram, mas o público também deve crescer. Inclusive, a dupla contratou duas funcionárias de atendimento para dar conta da demanda. ;E está todo mundo enlouquecido com a loja porque não havia opções sem glúten aqui para os lados de Águas Claras, Taguatinga e Samambaia;, percebe Anna Paula. Na loja, a maior parte dos clientes vem para lanchar. Os produtos são adaptados para atender a todo tipo de procura. ;Muitas vezes, numa casa, só uma pessoa é celíaca. Ela não quer comprar um pão enorme para ficar velho, ressecando. Então, temos opções pequenininhas também. Tem bolo para levar na bolsa;, informa Anna Paula. Elas vendem bolos a partir de R$ 5.

As entregas foram reformuladas e as irmãs contam com um ponto de distribuição na 204 Sul, onde as pessoas podem buscar. Há também como receber entregas uma vez por semana. As duas também aceitam encomendas para eventos, como festas de aniversário e até casamento. Anna Paula, hoje, se encarrega de toda a parte de padaria; enquanto Patrícia cuida da confeitaria. O cuidado para não haver contaminação sempre foi muito grande. ;A gente não pode comprar de uma distribuidora comum e já aprendeu as marcas que não têm glúten mesmo;, informa Anna Paula. Os produtos são para o público celíaco, mas a maior parte também atende intolerantes à lactose.

Passos sem Glúten

Endereço: Rua 8 Norte, Lote 7, Águas Claras
Contato: 98128-2908
Funcionamento: de terça a sexta, das 11h às 21h. Sábados das 9h às 20h. Domingos, das 9h às 14h.
Acesse no Facebook e no Instagram: @passossemgluten