Tayanne Silva*
postado em 23/07/2019 14:00
Você gosta do seu emprego? A função exercida o agrada? As atividades combinam com a sua personalidade? E, se descobrir que errou na escolha da carreira, como acertar desta vez? É para ajudar profissionais a acharem as respostas para essas e outras perguntas que Eduardo Ferraz escreveu o livro Seja a pessoa certa no lugar certo. A obra, lançada em 2013, ganha agora uma nova edição, ampliada e atualizada. O autor apresenta métodos para que o leitor identifique os próprios talentos, pontos fortes e fracos. O mercado passa por constantes mudanças: com desemprego em alta, criação de carreiras, novas leis trabalhistas e profissionais abrindo pequenas empresas.
O consultor de carreira ressalta que o elemento para não se perder durante essas transformações é o autoconhecimento. Aos 54 anos, o paulista acumula 30 anos de experiência em consultorias empresariais. Atuou em organizações como Banco do Brasil, Basf, Correios, Vale, Fiat, Livrarias Curitiba, Petrobras, Sadia, entre outras. A trajetória dele é marcada por transformações, em muitos casos, largando uma carreira para tentar outra. ;Trabalhei dois anos como engenheiro agrônomo. Logo após, quis ser gerente de marketing. Percebi, então, que gostava de falar em público, dar palestras e aconselhar clientes. Em 1990, larguei a profissão de executivo e fui trabalhar por conta própria;, conta. Para muitos podem parecer decisões arriscadas, que exigem coragem.
Para ele, no entanto, vem em primeiro lugar o autoconhecimento, a fim de entender o que de fato o satisfaz. Assim, a corrida não é só pelo sucesso pura e simplesmente, mas por alcançar êxito aliando trabalho e satisfação de fazer algo que traz alegria. Eduardo também aprendeu a usar as próprias características, inclusive as consideradas negativas, em benefício próprio. Quando era executivo, ele ouvia frases como: ;Não seja tão franco: se for tão direto desse jeito, vira grosseria;... As críticas pelo comportamento eram constantes. ;Hoje, eu seria chamado de supersincero!”, brinca. Mas, agora, esse atributo é o que Eduardo Ferraz usa como energia em suas consultorias, palestras e livros.
;Sou pago para mexer na zona de conforto das pessoas e das empresas sendo sincero;, ressalta. Além de Seja a pessoa certa no lugar certo, Eduardo Ferraz é autor ainda de Por que a gente é do que jeito que a gente é, Negocie qualquer coisa com qualquer pessoa, Gente que convence, Gente de resultados. Ele vendeu mais de 250 mil exemplares em todo o país. Graduado em engenharia agrônoma pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), pós-graduado em direção de empresas pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), especialista em coordenação e dinâmica de grupos pela Sociedade Brasileira de Dinâmica dos Grupos (SBDG), ele é fundador da Pactive Treinamento & Consultoria.
É importante se conhecer? Qual a diferença que isso faz?
O autoconhecimento é a base de tudo, porque é um processo de descobertas dos pontos fortes e dos fracos. Durante a investigação de si, a pessoa decidirá se muda de emprego ou não. Se percebe que está em um lugar onde não pode usar suas características marcantes, nem chega a usá-las ou é cobrada para ter um talento que não tem; então, é melhor ela começar a refletir se está na organização errada. Conhecer a si mesmo é a chave para ajudar o profissional a escolher um trabalho que tenha mais a ver com ele. Trabalhar em várias empresas depende do perfil de cada pessoa. Há personalidades mais agitadas e aceleradas. Geralmente, esses empregados gostam de mudanças e optam por passar por diversas organizações porque aprendem e adquirem conhecimentos de vários assuntos. Já alguns preferem estabilidade, previsibilidade e regras claras. E mudar de emprego é muito ruim, pois poderão sofrer quando não atingirem o máximo após trocar de organização.
Qual dica o senhor daria para um profissional que não sabe qual o lugar dele? Como encontrá-lo?
As pessoas buscam caminhos diferentes, isso é fruto da personalidade e, claro, pode ter relação com o desemprego e as novas leis trabalhistas. A pessoa precisa de um trabalho ou uma carreira em que consiga usar as características mais marcantes dela. Por exemplo, se eu sou uma pessoa falante, extrovertida, carismática e gosto de conversar com estranhos, eu deveria estar numa profissão ou ter uma empresa ou um negócio onde eu possa ser assim. Ou seja, ser eu mesmo. É necessário se encontrar. Eu estudei bastante neurociência comportamental. Todo mundo já ouviu aquela famosa frase: ;Você pode ser qualquer coisa que você quiser, basta querer;. O que eu digo abertamente no livro e em treinamento e palestras é que dizer isso é uma besteira. A gente não pode ser o que a gente quer e basta querer. Por exemplo, quem é que tem estômago, concentração e a destreza manual para ser um médico de fraturas, cirurgião cerebral ou cirurgião cardíaco? Pouca gente tem estrutura e personalidade para isso.
É vantajoso sair do emprego e abrir o próprio negócio?
Os empregos formais estão desaparecendo. Hoje, o Brasil tem aproximadamente 35 milhões de pessoas trabalhando por conta própria ou sendo microempreendedores individuais, donos de pequenas empresas e prestadores de serviço, segundo dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). São em torno de 33 milhões de profissionais que têm Carteira de Trabalho, desse número, 13 milhões de desempregados e mais 12 milhões ou 13 milhões de pessoas que não estão trabalhando ou não estão procurando emprego. A gente vê que a tendência é cada vez mais trabalho por empreitada e menos empregos formais. Por isso, é enorme a importância de a pessoa se conhecer para, aos poucos, encontrar o lugar ideal. É vantajoso sair do emprego e abrir o próprio negócio, mas depende de cada um. Existem pessoas que se sentem muito confortáveis trabalhando na empresa do outro e se dão bem como funcionárias. Esse tipo de profissional gosta da estabilidade e do ritmo e gosta de trabalhar compartilhando informações com o superior. Há outro tipo de profissional que odeia ter chefe e não gosta de trabalhar em público e com o público. Ele é mais individualista, prefere trabalhar em casa e por conta própria. É gente que não gosta do emprego e não tem paciência para trabalhar para os outros, mas pode ser ou é boa empreendedora sozinha.
Para que servem testes de autoconhecimento?
Sim, o autoconhecimento é fundamental e testes são boas ferramentas para isso. No livro, eu coloco cinco testes: o primeiro é para avaliar os próprios filtros mentais ou vieses cognitivos, que quer dizer como se enxerga o mundo e se é mais otimista ou pessimista, se tem mania de perseguição... O segundo envolve quatro fatores estruturais: personalidade, dominância, extroversão ou introversão e estabilidade, que tem a ver com ritmos da conformidade. Para responder: se é detalhista e organizada ou se é uma pessoa mais informal e mais criativa. O terceiro são os cinco motivadores profissionais: o que te motiva? Dinheiro, segurança, aprendizado, reconhecimento e autorrealização.
Leia
Seja a pessoa certa no lugar certo ; Saiba como escolher empregos, carreiras e profissões mais compatíveis com sua personalidade
Autor: Eduardo Ferraz
Editora: Planeta Estratégia
203 Páginas
R$ 41,90
*Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa