Raul Lima Vieira, 20 anos, cursa o 6º semestre de engenharia civil no Centro Universitário de Brasília (UniCeub) e está buscando estágio na área. “Mando currículo para todas as vagas que vejo ou me mandam. Fico atento às diversas agências especializadas, como Ciee (Centro de Integração Empresa-Escola), Brasília Estágios, IF (Instituto Fecomércio) e Employer”, comenta. O estudante não costuma obter retorno sobre as oportunidades para as quais se candidata. “Raramente recebo respostas. Chega a ser desanimador continuar tentando”, afirma. O estudante conta como monta o currículo.
“Eu costumo colocar algumas informações que considero básicas. Coisas como nome, idade, endereço, curso que faço, qualificações e conhecimentos sobre programas relevantes na minha área”, declara. Ele procura tomar cuidado com possíveis erros de português no currículo, pois acredita que seja um aspecto importante na hora da avaliação. “A escrita é fundamental e deve estar bem-apresentada em qualquer documento”, diz. Até o momento, Raul foi chamado apenas para duas entrevistas e confessa que fica nervoso durante o processo. “Costumo ficar tenso nesses momentos e acredito que isso pode atrapalhar meu desempenho nos encontros”, esclarece. “Por nervosismo, eu acabo esquecendo algumas coisas que gostaria de falar. Então, não consigo passar todo o conhecimento que tenho para o entrevistador”, comenta.
O filtro de português: a redação
É muito comum que seleções de emprego e estágio tenham, como uma de suas fases, uma redação. O texto serve para medir os conhecimentos linguísticos (garantindo que o futuro funcionário não cometa nenhum erro de português vergonhoso) e a capacidade de articulação. Essa etapa tem se tornado frequente. E não é para menos: o professor de redação Gabriel Remington percebe que “as pessoas têm cada vez mais dificuldade com português”. Então, acaba tornando-se a maneira de separar o joio do trigo. “Podemos concordar que a linguagem falada é a mais importante e a mais fácil. Desde que a mensagem seja entendida pelo receptor, ela cumpre seu papel. A gramática serve para padronizar a língua e gera mais dificuldade”, afirma ele, que dá aulas no Colégio Marista João Paulo II.
“Durante um processo de contratação, a depender da empresa, coisas que consideramos mínimas podem fazer a diferença. Por exemplo, durante a entrevista ou por escrito, o candidato solta ‘Fazem anos que não trabalho’ (quando o correto seria ‘faz anos que não trabalho’). Isso pode eliminá-lo, pois não demonstra domínio da língua”, alerta o graduado em letras pela Universidade Europeia do Atlântico e pós-graduado em metodologia do ensino da língua portuguesa pela Universidade Estácio de Sá. “Em uma redação, pequenos erros, como os de pontuação, podem acarretar na não contratação do concorrente.” Para quem não aprendeu a dominar o português nos tempos de escola, Gabriel observa que o caminho para melhorar envolve disciplina e insistência para treinar. “A melhor dica é: escreva bastante, peça para outros lerem e indicarem os erros”, observa.
Aprenda
O professor Gabriel Remington elenca os principais erros cometidos e dá dicas e exemplos de como fugir de gafes:
1. Erros ortográficos
Errar a escrita das palavras. Por exemplo, trocar a letra ‘s’ por ‘c’. Para evitar, ler e escrever bastante.
2. Acentuação gráfica
Ocorre quando a pessoa não percebe que a palavra precisa de acento.
3.Erros de coesão
Quando o texto não tem conexão entre as ideias. É perceptível quando há muita repetição de palavras e ideias.
4. Erros de pontuação
O caso da vírgula é o principal, pois as pessoas se baseiam no mito da “pausa para respiração”. Dominando o uso da vírgula, é mais fácil aprender os outros.
5. Regência
É o erro mais ligado à linguagem falada. Para evitar, é preciso estudar e treinar, principalmente no dia a dia, conectando escrita e fala.
6. Concordância
Muitas pessoas cometem esse erro, também por causa da fala. Por exemplo, quando não se sabe quando o termo deve estar no plural ou no singular. Mais uma vez, treinamento é a chave para evitar os erros.
A rede de apoio
Um erro fatal que pode minar as chances de conseguir emprego é não saber estabelecer um bom networking. Esse tipo de equívoco pode não ficar claro durante uma seleção, mas faz toda a diferença. Muitas vagas ainda são preenchidas pelo bom e velho QI (quem indica). Várias outras pedem contatos de referência ou recomendações. Ainda existe o fato de várias oportunidades de trabalho nem chegarem a ser divulgadas publicamente: acabam sendo preenchidas por meio de contatos.
Por esses e outros motivos, a gestora de carreira Madalena Feliciano aconselha todos em busca de recolocação a investir fichas nisso. “Mantenha contato com colegas e ex-colegas, procure maneiras de expandir sua rede. É bom estar ativo nas redes sociais de trabalho, como LinkedIn, participar de seminários e feiras para conhecer pessoas que possam te indicar para vagas ou escrever uma recomendação”, diz.
Sem indicação
“Quando vou entregar meu currículo, vejo que observam muito como estou vestida. Aparência é tudo”, diz Silvana Nunes, 23 anos. Ela está desempregada desde os 18 e, mesmo procurando, nunca obteve uma chance. A jovem conta como costuma ser a abordagem quando se candidata a uma posição. “Geralmente, eu entro nas lojas ou mercados e pergunto se estão precisando de gente para trabalhar. Se a resposta for positiva, deixo meu contato”, afirma. “Apesar de não ter muita experiência e conhecimentos técnicos, acredito que meu currículo é completo, coloco todas as informações básicas”, diz.
Ela considera que a grande dificuldade que encontra é a falta de uma rede de conhecidos que possa ajudá-la a arranjar emprego. “Atualmente, para ser contratado em uma empresa é importante se relacionar com pessoas que tenham influência e possam te indicar para o serviço. Tenho dificuldade de achar alguém que possa me colocar dentro da instituição ou me indicar para alguma chance”, afirma. Silvana confessa que sabe da importância de fazer cursos que a capacitem para determinadas oportunidades, mas acabou não conseguindo cuidar disso. “Como estou desempregada, conto com a ajuda da minha família para as despesas. No fim do mês, não sobra dinheiro para eu fazer um curso”, completa.
A (des)atualização
Mesmo seguindo todas as recomendações, pode ser que o emprego não venha ou demore a vir — afinal, o cenário de emprego está de fato complicado. É o que observa o professor de RH Átila Câmara. “Se, por acaso, o candidato não for selecionado logo. Neste momento, é importante não desistir e tentar de novo”, considera. O importante, reforça Madalena, é não desanimar.
E, enquanto a vaga não aparece, achar soluções alternativas. “É sempre bom ter um plano B. Saber o que é possível fazer com as habilidades e conhecimentos que tem e empreender com eles, pelo menos até conseguir um trabalho fixo”, explica ela. Um caminho que pode facilitar a contratação é a busca por cursos de atualização. Procurar capacitações em outras áreas também é válido para aumentar o leque de opções de contratação.
Falta de certificação
Wellington Alves, 26 anos, está desempregado desde novembro de 2018. Ele afirma que procura emprego em qualquer função em que tenha experiência. “Já trabalhei como ajudante em obras e garçom em diversos bares. Espero conseguir algo nessas áreas ou até em outras, pois preciso trabalhar”, diz.
O morador de São Sebastião acredita que a grande falha do perfil dele é a falta de capacitações. “Eu nunca fiz nenhum curso que possa acrescentar na minha experiência ou para pôr no currículo. Tudo que sei aprendi na prática, por isso não tenho certificados”, pondera.
Acho que isso pode contar bastante na hora de avaliarem meu perfil”, comenta. Ele chegou a iniciar o curso de administração no Centro Universitário do Distrito Federal (UDF), mas largou a faculdade por não ter condições de continuar pagando.
O jovem se inscreveu em alguns cursos gratuitos a distância, mas não os concluiu. “Eu estava sem tempo por causa dos bicos que fazia. Outro problema é que eu não tinha internet em casa. Se fosse presencial eu iria, mas só se fosse em um horário em que eu conseguisse.”