Jornal Correio Braziliense

Trabalho e Formacao

Entenda o mercado de trabalho dos aplicativos

O mundo virtual tem se tornado uma forma de achar novas formas de gerar renda e driblar o desemprego. Para críticos, porém, as empresas de entrega representam a precarização do trabalho

A tecnologia invadiu de vez o cotidiano e tem mudado tudo, inclusive as relações de trabalho. Quantos aplicativos você tem no seu celular? É bem provável que pelo menos conheça alguns famosos e que eles facilitem sua vida em algum sentido. Esses apps são uma nova forma de negócio que têm feito muita gente ver ali uma oportunidade de empreender. E mais: há aqueles que dão a chance de a pessoa trabalhar, como os aplicativos de serviço de transporte e de entrega.
Apesar do crescimento na quantidade de pessoas ofertando esse tipo de serviço nos últimos anos, Rodrigo acredita que a tendência é que, assim que a economia melhorar, esse número diminua, apesar da quantidade de usuários aumentar. ;Em um momento de crise cresce, porque é uma válvula de escape. Você vê muito engenheiro, advogado trabalhando como Uber;, lembra. Além disso, ele ressalta a importância de um debate acerca de uma legislação nacional, apesar de ele mesmo ser contra muita interferência do Estado. ;Eu só fã do universo da inovação e acho que tudo que vier para restringir a livre iniciativa, prejudica. Mas é necessário padrões mínimos de segurança. Uma legislação pode agregar, porque não há um padrão. Por enquanto, temos tributações em âmbito municipal e estadual, então em cada lugar é de um jeito;, afirma.

Conheça aplicativos que apresentam soluções para o dia a dia

Esens ; transforma livros de não ficção em resumos. > esensapp.com


Fake Off ; criado por alunos da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), funciona como uma plataforma comunitária de combate a notícias falsas. > apple.co/2OFnfwY


Nova Pet ; feito por alunos de Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas da Anhanguera de Santo André é um Tinder para cachorros. Ajuda os donos de cães a encontrarem o par ideal para seu animal de estimação. > bit.ly/NovaPetApp
Zauty ; os usuários podem agendar serviços de beleza como: manicure, pedicure, design de sobrancelha, sete tipos de massagem, depilação masculina e feminina, maquiagem, cabeleireiro e barbearia. > www.zauty.com
Qranio ; O aplicativo oferece a Trilha do Enem, que utiliza um método de espaço e repetição para aproveitar ao máximo o efeito de espaçamento e validam que foi aprendido com testes que visam fortalecer o conhecimento, antes que o usuário venha a esquecê-lo. > www.qranio.com
Venuxx - tem como proposta conectar exclusivamente mulheres (passageiras e motoristas) > www.venuxx.com

Conheça aplicativos para vender produtos


Mercado Livre>

Para ganhar dinheiro


Fazer negócios por meio de apps

No meio digital, outra possibilidade é a criação de lojas on-line. Se procurar, tem de tudo. Até estabelecimentos que são físicos e que se arriscam no ambiente virtual. Outras utilizam de plataformas pré-existente para vender seus produtos, como o Enjoei, ebay, e até o Instagram. Para o consultor do Comitê de Varejo Online da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (Camara-e.net) e CIO da Vecto Mobile, Gerson Rolim, há uma grande tendência no crescimento desse segmento no meio virtual.

;Mesmo durante a crise econômica, o comércio eletrônico tem crescido. Este ano, a estimativa é de que o setor cresça 15% em relação ao ano passado. As empresas estão se digitalizando e o mobile cresce a passos ainda mais velozes;, prevê ao destacar o fato de que 69% dos brasileiros usam a internet por smartphone. ;Temos percebido que o e-commerce vem se posicionando como a segunda maior fonte de renda para o empreendedor e para o empregado;, ressalta.

Para quem quer investir no meio digital, ele ressalta a importância de pensar na tecnologia para o celular. Seja por meio de um site seja de um aplicativo. ;O site precisa ser responsivo, isto é, precisa se adequar ao formato da tela. E é preciso pensar no celular primeiro.; Agora, apesar das vantagens dos apps, ele ressalta que esse é um investimento caro e que corre o risco de ele ser só mais um entre as milhares de opções na App Store. ;Um simples aplicativo pode custar em torno de R$ 50 a R$ 80 mil. E é preciso investir bastante em marketing, porque diferentemente do site, o app precisa ser baixado;, faz o alerta.

O aspecto jurídico


Antes de mais nada, o advogado Rodrigo Bruno Nahas recomenda que o interessado em abrir uma startup tenha cuidado com as questões jurídicas. ;É muito importante que esteja bem claro quem são os investidores e quais as obrigações, para não ter problema na hora de vender a startup ou monetizá-la. É preciso ter segurança jurídica para captar novos investidores, então é importante ter um modelo societário que garanta que a participação deles esteja resguardada;, explica. ;Além disso, é muito importante está preparado para o Marco Civil da Internet e para a Lei Geral de Segurança de Dados, quanto à forma como irá explorar os dados dos usuários.

Internet não é terra de ninguém
O Marco Civil da Internet é uma lei que existe desde 2014 e regulamenta o uso da internet no Brasil. Ela prevê princípios, garantias, direitos e deveres para os usuários da rede. Mais recentemente, foi sancionada a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (Lei n; 13.709/2018), que regula as atividades de tratamento de dados pessoais na internet. Dessa forma, a legislação estabelece a forma como os dados dos cidadãos podem ser tratados e prevê punições para excessos.

Três perguntas para

Ludmila Costhek Abílio, doutora em ciências sociais pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Atualmente, é pesquisadora do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit), na Faculdade de Economia da Unicamp, onde desenvolve pesquisa de pós-doutorado sobre desenvolvimento, atuais políticas de austeridade e as transformações do trabalho no Brasil; assim como pesquisa correlacionada sobre a uberização do trabalho, com enfoque no trabalho dos motofretistas na cidade de São Paulo.

Esse trabalho sob demanda é uma tendência?
Olhar para o motorista de Uber, para o motoboy é um tendência global. Por isso, estamos falando sobre uberização do trabalho. Esse é um futuro próximo possível. É como se esses trabalhadores mostrassem o que está por vir. Talvez, por isso , que a Uber seja um fenômeno mundial. A reforma trabalhista é um grande exemplo de incentivo à uberização.

O que seria a uberização do trabalho?
A uberização é transformar o trabalhador em um empreendedor, empresário de si próprio. Eles não contam com nenhum direito e proteção. Esse não é um caminho de glorificação. Não deveríamos nem chamar de empreendedores e, sim, de autogestores. Ele decide para qual aplicativo vai trabalhar, quando se vai comprar um carro ou uma bicicleta. Mas, ao mesmo tempo, ele está subordinado a uma plataforma. De fato, é transformar o trabalhador em alguém disponível, que é usado de acordo com a demanda.

Isso aumenta a precarização do trabalho?
A gente vem vendo várias formas de precarização do trabalho. Se você conversar com o trabalhador, ele, inicialmente, vê vantagem. Por exemplo, para o motoby, quando os aplicativos entraram no mercado. Para ele, foi um caminho para se libertar das terceirizadas, que já vinham precarizando o trabalho. Ele vai ganhar mais, vai ter autonomia, não tem patrão. Com o tempo, vários motoboys vão aderindo e a concorrência aumenta, novos aplicativos entram no mercado e aí começa-se a rebaixar o valor da força de trabalho. Eles não conseguem se unir para não aderir a um aplicativo que está pagando baixo demais. É uma batalha. Por isso, temos que estar muito atentos a essa tendência, ainda mais no momento político em que estamos, que está fazendo uma defesa claríssima do estímulo ao empreendedorismo. A gente fala muito da opção do trabalhador, mas isso obscurece a realidade do mercado de trabalho, em que a maior parte dos trabalhadores vive com menos de um salário mínimo.

Quer criar o seu aplicativo?


Confira dicas para acertar
Plano de dados ; aplicativos que não gastam do plano de dados do usuário fazem mais sucesso, porém esse é um investimento caro a ser feio
Atendimento on-line ; tem que ter canais de interação rápida, como um chat
Integração com apps bancários ; isso facilita pagamentos e dá mais segurança ao usuário
Login social ; assim não é preciso fazer um cadastro, somente usar o perfil do Facebook
Funcionalidade ; não pode demorar mais de três segundos para carregar
Fonte: Gerson Rolim, consultor do Comitê de Varejo Online da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (Camara-e.net) e CIO da Vecto Mobile

*Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa