Trabalho e Formacao

Segundo pesquisa, pais têm grande influência na carreira dos filhos

Os familiares mais próximos estão entre as maiores influências na hora da escolha da carreira, segundo pesquisa do LinkedIn. A sugestão de especialistas é não impor vontades aos descendentes, mas apoiá-los e ajudá-los no processo de decisão

Thays Martins
postado em 07/04/2019 16:35
De acordo com uma pesquisa do LinkedIn, rede social de negócios, os pais ainda estão entre as maiores influências na vida de uma pessoa na hora de escolher a carreira. Cerca de 26% dos respondentes confirmaram o peso da família sobre essa decisão. Quem nunca viu algum pai ou mãe projetando uma profissão para o filho ou recomendando determinada área? Essas sugestões têm significância para os jovens, mas nem sempre são positivas. Isso porque, em geral, esses familiares querem ver os descendentes em setores tradicionais e consolidados do mercado, ou que eles sigam os passos deles. A busca por referência nos familiares se explica por duas razões, de acordo com Ana Claudia Plihal, diretora de Soluções de Talentos do LinkedIn Brasil.
Ana Claudia Plihal, porta-voz do LinkedIn
;Se você considera o nosso histórico-econômico, quando se fala de escolha profissional, a vontade de correr riscos é pequena. A pessoa tende a olhar para o que já viu e acaba que a referência mais próxima são os pais;, diz. ;A outra questão é como expomos nossos jovens ao mercado de trabalho. Há pouca experimentação. Um adolescente que quer ser médico não fica convivendo num ambiente hospitalar;, afirma. De acordo o psicólogo Luiz Ricardo Gonzaga, doutor em psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), se a influência paterna será ou não positiva depende do tipo de intervenção exercida. ;A família é um dos fatores de maior influência no processo de desenvolvimento de carreira e no processo vocacional. E pode tanto ajudar quanto dificultar nesse processo;, diz.

;Os pais têm história e características próprias que influenciam o conceito que o jovem tem de si mesmo, assim como a compreensão que ele tem de suas habilidades e aptidões;, afirma. ;Quando o jovem diz que quer fazer direito, medicina ou engenharia, em geral, os pais respondem: apoiado. Isso porque, para eles, quanto menos riscos o filho correr, melhor;, observa Tadeu Patané, consultor da Teenager Assessoria Profissional. ;Mas, se, de repente, ele chega e fala de uma profissão que, para eles, não é tão relevante, dizem de cara: não! Só que não dá para ter postura de autoritarismo.;

Interesses em desacordo

Naturalmente, os pais têm sonhos e acabam projetando isso nos filhos. ;Isso pode gerar conflitos decisórios, pois o jovem pode não distinguir os desejos dele das expectativas da família;, ressalta Luiz Ricardo, autor do livro O estresse da escolha profissional em estudantes. ;É preciso ter cuidado para que a escolha não seja tomada para provar a lealdade aos pais porque, às vezes, a carreira sugerida pode ser a que os pais não conseguiram seguir no passado;, pontua. Para Tadeu Patané, a postura correta dos genitores é ajudar a prole a escolher a trajetória a seguir, mas em forma de orientação, não tirando o poder de decisão do jovem. ;É preciso dar autonomia para o aluno optar. Se eles acreditam que aquela profissão não é adequada, antes de falar, é bom perguntar como o filho chegou àquela conclusão e ajudar na pesquisa;, sugere.

Tadeu Patané, consultor de uma assessoria de escolha de carreiraAssim, de acordo com ele, o risco de fazer uma escolha errada, o que pode gerar frustrações, pode ser diminuído. Uma das grandes preocupações dos pais é a questão financeira. ;Mas que profissão dá dinheiro? Nenhuma. Porque quem ganha dinheiro é o profissional, independente da área. O retorno virá a partir de um bom trabalho;, diz Tadeu. É exatamente dessa autonomia que Tadeu diz que o mercado está atrás. ;A BNCC (Base Nacional Comum Curricular) até colocou a construção do projeto de vida como competência;, afirma. ;E se eu errar? Você estará escolhendo o que é bom naquele momento, mas ainda existirão muitas escolhas profissionais a serem feitas;, garante. Além disso, ele explica que, geralmente, os pais não apoiam os filhos nas decisões por falta de conhecimento, por isso a importância da pesquisa.

;Tem curso universitário que a gente nem conhece. E não é porque você é um bom advogado que o seu filho também será;, destaca. ;É importante que esse jovem se sinta acolhido e compreendido pelos pais;, completa Luiz Ricardo. Nessa história, o mais importante, segundo Tadeu, é fazer uma escolha consciente. ;O pai não pode escolher pelo filho. E não existe esse desespero de precisar saber o que quer assim que termina o ensino médio. Para o mercado, pouco importa se você se formou com 22, 23 ou 24 anos. Escolher estando mais consciente é muito melhor;, aconselha. Além disso, Ana Claudia ressalta que só a opinião dos pais não é suficiente para saber qual é o melhor caminho. ;Quando eu olho para os meus pais, estou olhando para o que já foi. E, ao pensar no futuro do trabalho, não sei se referências do passado sustentarão isso. Temos que ser protagonistas da nossa história e acredito que o networking serve para ir compondo as variáveis que melhoram a tomada de decisão;, afirma.


Quais são os sonhos dos seus pais?


Os pais podem até projetar seus sonhos nos filhos, mas poucos filhos sabem quais são os sonhos dos pais. Pelo menos é o que mostra uma pesquisa feita pela Unicesumar. Segundo o levantamento, 72% dos jovens universitários brasileiros desconhecem quais são os sonhos de vida dos seus pais. Entre os que revelaram conhecer os objetivos dos pais, as principais vontades apontadas para a maturidade foram a casa própria (comprar, reformar ou trocar por uma maior), a estabilidade financeira (vida tranquila, sem dívidas e com mais conforto) e a qualidade de vida (aproveitar a velhice e ser feliz).

Linhagem de advogados

No clã Ribeiro, a profissão passou de pai para filho: Eduardo, Marcelo e João Gabriel

A expressão filho de peixe, peixinho é faz todo sentido para a família de Marcelo Ribeiro, 55 anos. O clã está na terceira geração de advogados. Os avós eram da área jurídica, o pai é advogado e, agora, os filhos seguem o mesmo caminho. A trajetória, de acordo com Marcelo, foi percorrida naturalmente, sem pressão. ;Desde que nasci, vivo em torno desse ramo. Minha mãe era juíza e meu pai, hoje com 81 anos, continua advogando porque gosta;, conta. ;Tem uma tendência muito forte na família;, destaca o ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O pai dele, Eduardo Ribeiro, ressalta como a família segue uma tradição. ;Eu nunca disse para estudarem direito, meus pais também não me disseram para eu ser advogado, foi algo natural;, lembra. Hoje, os dois filhos de Marcelo estão entrando no ramo também. O mais novo faz faculdade de direito, o mais velho é advogado e trabalha com o pai no escritório Ribeiro e Ribeiro Advogados. ;Desde muito pequeno, eu queria ser advogado. Muito por influência do meu pai e da minha mãe;, lembra João Gabriel Ribeiro, 23 anos, que se formou pela Universidade de Brasília (UnB). ;A influência foi mais indireta, eles nunca disseram para eu fazer direito, mas eu sempre os admirei;, afirma. Marcelo também destaca que sempre deixou os filhos livres para escolher o que achassem melhor.

;A influência vem da observação. Eu sou muito ativo. Quando fui ministro, eles eram muito novos. Então, passaram a infância e a adolescência me vendo atuar;, diz. Para ele, sem dúvidas, o fato de a família estar na profissão ajuda muito. O filho João Gabriel concorda. ;Tem muitas vantagens, eu posso aprender diariamente com eles, o que me ajudou bastante. Tem a desvantagem da exigência. Há uma expectativa alta. Mostrar o fruto do meu próprio trabalho exige muito mais esforço;, afirma.

Conflito de ambições

Shalimar não seguiu o plano do pai, mas acredita que ele estaria orgulhoso dela se estivesse vivo

A professora de matemática Shalimar Vilar, 46 anos, cresceu em uma família com boas condições financeiras, e o pai queria que ela mantivesse o mesmo padrão. ;Meu pai, mesmo sem ter formação, conseguiu construir uma boa estrutura. Ele fez de tudo e não queria que os filhos passassem pelo que ele passou;, lembra. Por isso, quando ela disse que queria ser professora, ele não ficou muito animado. ;Meu pai disse para eu fazer direito porque, talvez, sendo professora, eu não conseguiria me sustentar.; Ela resolveu cursar biologia com o plano de fazer um concurso depois. Tudo mudou quando começaram as matérias de cálculo.

;Foi aí que eu me encontrei. Comecei a dar aulas particulares e percebi que queria ser professora mesmo;, diz. Ela resolveu então cursar matemática. ;Falei com o meu pai e ele ficou uma fera: como assim você vai jogar tudo fora?;, recorda. O pai de Shalimar faleceu, mas ela garante que, se ele estivesse vivo, estaria satisfeito. ;Tenho certeza de que, se ele soubesse o quão feliz eu sou, ele sentiria orgulho. Se eu tivesse seguido outra profissão, não seria tão feliz;, ressalta a professora do ensino fundamental 2 no Centro Educacional Sigma. ;O financeiro é importante, mas o mais importante é você estar bem naquele trabalho;, afirma.


Fui por outro caminho

Christian se viu em meio a muitas sugestões de carreira por parte dos familiares, mas decidiu por si próprio

Quando foi escolher a profissão, Christian Soliva, 40 anos, se viu em um dilema: a mãe queria que ele fosse dentista; o pai e os avós o desejavam como advogado, mas ele mesmo não queria nada disso. ;Era o primeiro neto e o primeiro filho; então, tinha expectativas;, lembra. Em vez disso, ele escolheu algo bem diferente: turismo. ;Eu vi que era isso que eu queria fazer. Ninguém sabia o que era, então meus pais não colocaram muita fé. Mas, hoje, sou realizado;, conta ele, que é coordenador comercial na agência Bancorbrás. Ele lembra que não foi uma decisão fácil, mas pesquisou bastante antes de seguir a área. ;Eu senti medo; afinal, estava indo contra a vontade dos meus pais. E se eu escolhesse errado? Mas nunca me arrependi;, garante. ;Temos que fazer o que temos no coração e não o que é forçado. A gente passa mais tempo no escritório do que com a família e com os amigos. Nesse sentido, eu não perco, sou realizado;, conclui o turismólogo.

Quais suas influências?

Foi isso que a pesquisa feita pelo LinkedIn em parceria com a Censuswide buscou saber. Foram entrevistados 2.001 trabalhadores brasileiros, na faixa etária de 16 a 55 anos ou mais, de todas as regiões do país. Confira as referências que mais impactaram a escolha da carreira:
Pais - 26%
Gerente/supervisor de alguma experiência profissional
anterior - 11,6%
Professor universitário - 11,4%
Professor escolar - 10%
Amigos - 9%
Cônjuge - 8%
Figura pública - 3,8%
Mentor - 3,5%
Primeiro entrevistador - 2%
Personagem de filme ou TV - 1%

Informe-se!


O LinkedIn oferece duas opções para ajudar o processo de escolha da carreira. São elas:
* A Central de Aconselhamento Profissional, que tem como objetivo promover uma troca de conhecimento entre estudantes, recém-formados e pessoas em transição de carreira com mentores que possam aconselhá-los. O serviço é gratuito.

* O LinkedIn Learning. A plataforma oferece mais de 15 mil cursos e é paga, mas, todo mês algumas capacitações são liberadas para teste gratuito pela plataforma. O Learning está disponível nas plataformas web, iOS, Android para usuários Premium. A mensalidade começa em R$ 49,90.
Saiba mais: linkedin.com

Palavra de especialista


Questão pessoal
A escolha profissional deve ser feita pelo estudante, pois é ele quem estudará determinado assunto ao longo de anos e passará grande parte da vida exercendo aquela profissão. Muitas vezes, os filhos não demonstram, mas valorizam bastante a opinião dos pais e se sentem frustrados quando percebem que suas escolhas não estão de acordo com as expectativas deles. Gera-se um alto nível de ansiedade nos filhos quando, ao fazer sua escolha profissional, percebem que os pais não a aprovam. Os pais querem proteger os filhos de frustrações. No entanto, se esquecem de que eles têm vontade própria, que já não são tão imaturos e saberão lidar com dificuldades.
Raíssa Laurentino de Oliveira, psicóloga, psicoterapeuta, com especialização em psicologia clínica, coach e analista comportamental

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O estresse da escolha profissional em estudantes
Autor: Luiz Ricardo Vieira Gonzaga e Marilda E. Novaes Lipp
Editora: Paco Editorial
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*Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa

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