O altruísmo é possível no mundo do trabalho? Fernando Moraes, filósofo, especialista em elaboração e gerenciamento de projetos sociais e professor universitário, defende que sim! Ele escreveu o livro O que te move? ; Protagonismo social, uma revolução silenciosa a partir de engajamento para ajudar quem precisa. ;Ele foi o resultado de várias experiências com pessoas em situação de vulnerabilidade social. Desde a África até o sertão brasileiro;, explica. Em tempos em que se busca cada vez mais uma carreira com propósito, alinhar o seu trabalho de modo a contribuir com uma causa é uma ótima saída. No entanto, Fernando destaca que isso ainda é fenômeno raro. ;Faço uma abordagem sobre desafios em tempos de comodismo. Hoje as pessoas estão se ausentando, fazendo rupturas com o coletivo, ninguém quer participar de nada. Então, tem muita gente que não conhece o meio em que vive, não faz nada para mudar o mundo a sua volta. É preciso sair da zona de conforto e se reinventar para novas alternativas;, estimula.
De onde veio a inspiração de escrever o livro?
Desde os meus 15 anos, eu faço missão social. Fui para países da África, Venezuela, Equador, Paraguai, sertão do Brasil e muitos outros lugares. Nessas missões, eu trabalhava com pessoas em situação de vulnerabilidade social. Depois de um tempo, os meus alunos me sugeriram a ideia de escrever um livro contando as minhas experiências, até que amadureci a ideia. A minha grande inspiração foi, sem dúvida, conhecer pessoas que experimentaram tanta dor e sofrimento e, ainda assim, continuam esperançosas por dias melhores.
Qual a relação entre praticar o bem e estar em um estado conformista?
O meu conceito de fazer o bem gera uma certa provocação. Pelas minhas experiências, o bem não pode ser compreendido como capital. Ele envolve um ato de civilidade e cidadania. A pessoa não deve fazer boas ações para ter reconhecimento ou mérito, mas, sim, como obrigação. O conformismo é fazer o bem pensando na recompensa, se aprisionando a esse conceito de ganhar visibilidade perante os outros. A dica que deixo é que você não busque ações imediatistas, por exemplo, pintar um muro ou limpar a praça. Isso é importante, mas é muito pequeno perto do que podemos fazer. Use seus dons, talentos e habilidades para oferecer algo a alguém. Saia dessa bolha cultural!
O que as pessoas precisam fazer para praticar o bem e por onde começar a dar esse passo?
No livro, faço uma reflexão sobre o que é, de fato, fazer o bem, considerando que esse termo não pode estar dentro de uma concepção assistencialista, de anulação dos potenciais dos ajudados. Temos que inverter a ordem dessas ações solidárias. Faz-se necessário olhar para as pessoas que estão dentro de uma situação de vulnerabilidade social não pelo que lhes falta, mas, sim, pelo que elas têm. No livro, também trago o conceito de voluntariado alterativo, rompendo com essa tradição assistencial imediatista. Alterativo vem de alteração, de mudança. Por isso, para se fazer o bem para alguém, oferte o que você sabe fazer, o que você tem de talento. Colocando seus dons à disposição do outro. Isso provoca uma grande mudança, tanto pra quem faz quanto pra quem recebe.
Em um dos trechos do livro, você diz que o bem está dentro de todos. O que quer dizer com isso?
Ghandi, quando disse ;Não há homem tão pobre que nada possa oferecer nem tão rico que nada possa receber;, nos oferece a possibilidade de compreender que todos fazemos história. E, nessa caminhada, passamos por muitas estações de vivências. Quando paramos para observar essa historicidade, encontramos tantas coisas em nós que podemos oferecer aos nossos iguais. Por isso, uso a frase de essência no livro: o que te move é o que te inspira.
Como e por que começar a praticar o bem?
Esse quando e porque não deve estar num tempo cronológico. É necessário, primeiro, compreender o que dá sentido à vida. Descobrindo isso, passamos naturalmente a despertar o desejo de mudança, não só em nossas vidas, mas para tudo e todos que estão à nossa volta, inclusive o trabalho.
Muito se fala sobre ;sair da zona de conforto;. Por que isso é importante? Há consequências para quem vive em um estado conformista?
A zona de conforto é boa, por isso muitos vivem estacionados por lá. Volto ao sentido: o que faz sentido e como dou sentido a minha existência... Esse conformismo é imediatista, devora a visão de futuro e cria uma inércia vivencial. Para mudar essa situação, é necessário renunciar, ter uma causa que possibilite sair do marasmo, da mesmice. O conformismo não impõe desafio, é sempre o ritual do costumeiro e do conhecido. Quando alguém consegue enfrentá-lo, é imediato o sentimento de liberdade e empoderamento.
Leia!
O que te move? ; Protagonismo social, uma revolução silenciosa
Autor: Fernando Moraes
Editora: Novo Século
160 páginas
R$ 34,90
*Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa