Rithiele Souza, 24 anos, será caloura de medicina da Universidade de Brasília (UnB). A estudante enfrentou diversas dificuldades para se formar no ensino médio e, na segunda-feira (25), conseguiu realizar o sonho de passar para medicina na instituição. A emoção ao ver o próprio nome na lista da 3; chamada do Sisu (Sistema de Seleção Unificada), que se baseia na nota do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), foi grande.
Após passar três anos sem estudar, aos 17, ela cursou o 1; ano do ensino médio por meio da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Porém, como ainda era menor de idade, não conseguiu se graduar. ;A Secretaria de Educação não permitiu que eu terminasse pelo EJA, pois ainda não tinha 18 anos. Fui obrigada a voltar para o ensino regular, mas não consegui acompanhar e larguei de novo;, lembra.
Depois, vieram mais três anos sem estudos, período no qual a moradora de Sobradinho trabalhou em diversas empresas como atendente. Aos 20 anos, Rithiele voltou para a EJA e, dessa vez, conseguiu se formar, pegando o diploma de conclusão do ensino médio em 2015. Depois de um ano, decidiu ir atrás do sonho de ser médica. Ela estudou sozinha, tendo como base cursinhos on-line e o programa Bora Vencer, da Secretaria de Educação. Graças ao empenho, passou para odontologia no ano passado, mas optou por não assumir a vaga, pois não era isso que ela realmente desejava.
Apoio
Os familiares receberam a notícia da aprovação de Rithiele em medicina com muita emoção. ;Todo mundo chorou! Acho que nem eu acredito, a ficha ainda não caiu;, afirma. ;Eu já estava descrente, a terceira chamada era minha última chance;, admite.
Futuro na medicina
A brasiliense deseja trabalhar na área de neurologia pediátrica. ;Passei muito tempo em hospitais, ouvi histórias tanto de sofrimento quanto de superação. Esse fator me motivou muito a escolher essa profissão;, explica.
Rithiele afirma que enfrentou diversos tipos de preconceitos, por causa da doença, da renda, entre outros fatores. Porém, não se deixou abalar. ;O que eu sempre digo é: antes de desistir, pense na sua vida e se vale a pena. Será que você se conforma de estar onde está? O mais importante é estar feliz. Não importa se dizem que você é deficiente, pobre, negro;, declara.
Rithiele passou nas vagas remanescentes da UnB pelo Sisu por meio de cotas para pessoas com deficiência, determinadas pela Lei n; 13.409/2016. Na opinião dela, todas as cotas são importantes, principalmente as sociais. ;Sou a favor de cotas em qualquer âmbito, mas é importante manter as sociais. Defendo ainda que as de deficiente sejam ampliadas, pois precisamos de inclusão;, defende.
*Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa