O Distrito Federal emplacou dois ganhadores no prêmio Capes de Tese 2018, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. O autor da melhor pesquisa de doutorado em direito foi Ramiro Nóbrega Sant;Ana, ex-aluno do Centro Universitário de Brasília (UniCeub). Já em antropologia, o vencedor foi Eduardo di Deus, que estudou na Universidade de Brasília (UnB). O concurso teve 939 inscritos de 143 instituições de ensino superior de todo o país. Conheça os ganhadores:
Pesquisador jurídico
Defensor público no Distrito Federal e aficionado pela relação entre direito e saúde, Ramiro Nóbrega Sant;Ana, 36 anos, mantém o mesmo tema de pesquisa desde a graduação, concluída na UnB. A tese A Judicialização como instrumento de acesso à saúde: propostas de enfrentamento da injustiça na saúde pública defende a importância do Poder Judiciário na construção de políticas públicas de saúde voltadas a pessoas de baixa renda.
Algumas das questões destacadas são falta de leito ou atendimento nos hospitais e entrega de remédios. ;A tese é toda voltada a mostrar o potencial do acesso à Justiça de garantir que aquelas pessoas que enfrentam mais obstáculos consigam usufruir do sistema;, comenta Ramiro. O primeiro contato com o assunto ocorreu no penúltimo ano da faculdade, em 2004. Ramiro apresentou o TCC em 2005 e, dois anos depois, entrou para um mestrado na UnB, abordando a mesma ideia. Em 2011, foi empossado na Defensoria Pública do Distrito Federal e, desde então, tem atuação voltada ao assunto.
O baiano relembra que ingressou no doutorado do UniCeub depois que o centro universitário abriu, em 2014, um programa de qualificação em parceria com o órgão. ;Para produzir a tese, fiz um levantamento de dados a fim de mostrar os problemas que as pessoas realmente enfrentam. Elaborei comparativos internacionais;, relata.
Parte da pesquisa, ele desenvolveu na Universidade de Harvard, onde passou período sanduíche do doutorado. Os seis meses lá foram fundamentais, principalmente o acesso à biblioteca, pois Ramiro conseguiu materiais que não teria em mãos no Brasil. O que contribuiu para elevar a qualidade da pesquisa. ;Em termos acadêmicos, foi muito engrandecedor;, relata.
O orientador do trabalho, o professor Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy, se refere a Ramiro como alguém ;preparado, aberto a sugestões, empenhado, trabalhador e talentoso;, comparando-o a ;um vulcão prestes a entrar em erupção;. Coordenador de mestrado e doutorado em direito do UniCeub, Marcelo Varella, revela que o trabalho de Ramiro foi selecionado como o melhor do centro universitário.
Mesmo assim, o resultado no concurso da Capes foi uma surpresa. Por isso, o defensor público conta que nem acreditou quando recebeu o e-mail que indicava a premiação. ;A ficha só caiu quando o Varella ligou para me parabenizar, ficamos todos muito felizes;, diz.
Acesse!
A tese de Ramiro Nóbrega Sant;Ana está disponível para leitura no link.
Mérito antropológico
Assim como o campeão da tese de direito, Eduardo di Deus, 35 anos, vencedor em ciências sociais, também passou período sanduíche do doutorado no exterior. Ele estudou no Laboratório de Eco-antropologia e Etnobiologia da Unidade Mista de Pesquisa, na França. Graduado em ciências sociais com habilitação em antropologia e mestre e doutor em antropologia social pela UnB, ele recebeu o prêmio Capes de Tese 2018 pelo trabalho A dança das facas: trabalho e técnica em seringais paulistas.
Professor de educação ambiental e ecologia humana da Faculdade de Educação (FE) da UnB, Eduardo usou a antropologia das técnicas no momento de produção. ;Trata-se de uma perspectiva de abordar grupos sociais a partir de suas práticas. Não somente em uma perspectiva genérica, mas dos processos de fazer das atividades técnicas;, explica.
Para colocar isso em prática, o paulista de São José do Rio Preto e morador do Acre viajou para o noroeste do estado de São Paulo a fim de investigar atividades cotidianas na extração de látex. ;Por volta de 55% da borracha natural vem dessa área;, relata.
Para Eduardo, o reconhecimento da Capes é motivo de muito contentamento, além de prestígio, não só para ele, mas também para todo o grupo de pesquisa do Laboratório de Antropologia da Ciência e da Técnica do Departamento de Antropologia da UnB. ;O prêmio veio em boa hora e é uma alegria muito grande receber o apoio da Capes, do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e de todos os financiadores do projeto. Fico muito feliz;, ressalta.
O professor Carlos Sautchuk, orientador de Eduardo, conta que o processo de orientação foi ;incrível;. O estudo envolveu metodologias diversas, além de buscas em arquivos e técnicas utilizadas pelos seringueiros. Além da tese, Eduardo produziu um filme, intitulado Sangria, documentando em formato audiovisual as descobertas. Sautchuk descreve Eduardo como um orientando dedicado e esforçado. ;Nos conhecemos enquanto eu fazia meu doutorado e ele, o mestrado. Foi uma honra estar habilitado para orientar uma pessoa tão capacitada e focada;, ressalta.
Confira!
A tese de Eduardo Deus está disponível para leitura em bit.ly/teseeduardo. Para assistir ao filme Sangria, acesso o link
Saiba mais
O Prêmio Capes de Tese foi criado em 2005 e é promovido anualmente em 49 áreas do conhecimento. Estudantes não podem se inscrever. O trabalho deve ser registrado pelo coordenador do programa de pós-graduação. Na última edição do prêmio, dois alunos da UnB receberam menção honrosa: João Guilherme Lima Granja Xavier da Silva, de direito; e Alan Mosele Tonin, de ecologia. Saiba mais no link.
*Estagiária sob a supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa