Jornal Correio Braziliense

Trabalho e Formacao

Projeto dá aulas de cinema para adolescentes

Estudantes de 14 a 17 anos ganharam mais uma opção de atividade extracurricular com projeto recém-lançado. Professores especializados em audiovisual dão aulas teóricas e práticas para grupos no contraturno escolar

Aulas de idiomas e esportes são algumas das mais tradicionais atividades extracurriculares para estudantes dos ensinos fundamental e médio. O leque de possibilidades tem aumentado com o tempo, incluindo dança, teatro, culinária, robótica e, agora, audiovisual. Jovens do Distrito Federal ganharam mais uma opção para estudar e praticar essa última modalidade. Chegou ao mercado o Cine-Escola Teen, iniciativa da empresa de produção audiovisual Ideias Brutas.
Adolescentes de 14 a 17 anos podem ter aulas teóricas e práticas em sete módulos: roteiro, direção, fotografia, produção, direção de arte, montagem/cor e som. É possível fazer um ou mais módulos individualmente ou todos.
A escolha fica a critério da turma, já que cada curso é ofertado por demanda. Os coordenadores Marcus Achilles e Araceli Silva lecionam fechando parcerias com colégios. A previsão é de que as aulas, este ano, comecem em março. Graduado em jornalismo, cinema e mídias digitais pelo Centro Universitário Iesb, Marcus Achilles percebeu que o DF é carente em opções de atividades extracurriculares na área de audiovisual voltadas ao público que ainda está na escola.

Esse foi o ponto de partida para criar o Cine-Escola Teen. ;Hoje, a onda é de youtubers. A molecada gosta de cinema, e tem muita gente indo para essa área. Então, esse curso vai além dos vídeos que são feitos pelo celular. Os participantes aprenderão a utilizar outros equipamentos profissionais, a fim de ajudá-los a produzir curtas-metragens de qualidade;, explica ele, responsável pelos módulos de direção, direção de foto, roteiro e produção.

Efeitos na carreira

A outra professora do projeto é Araceli Silva, bacharel em cinema e mídias sociais pelo Centro Universitário Iesb. Ela ministrará os conteúdos de som, montagem/cor e direção de arte. ;O interesse em aprender a operar equipamentos e contar histórias é nítido entre os jovens. Tudo hoje é melhor mostrado por meio do vídeo. A internet e as mídias sociais aumentaram a acessibilidade para produzir, editar e publicar conteúdos próprios;, diz. O aprendizado sobre áudio e vídeo também pode ser importante para a carreira, independentemente da profissão que o jovem escolha exercer no futuro. No entanto, torna-se ainda mais relevante para os que sonham em atuar no ramo cultural ou artístico.

;O cinema dialoga com fotografia, artes cênicas, literatura, pintura, dança, dentre outros campos. Tudo isso tem relação forte com o audiovisual, a começar pelo roteiro, que é escrito. Então, quanto mais próximo do lado artístico e cultural, mais proveitoso será o desempenho no curso;, defende Marcus Achilles. ;Para quem não deseja trabalhar diretamente com cinema, mesmo assim, a experiência vale a pena;, acrescenta. Afinal, hoje em dia, profissionais dos mais diversos ramos precisam entender, pelo menos, um pouco sobre comunicação e vídeo.

Público-alvo

Para cursar os sete módulos, são necessários três meses de dedicação. A carga horária total é de 24 horas, com encontros de duas horas por semana. O investimento total seria de R$ 300 por aluno. O ideal é participar de todas as etapas, como destaca a professora Araceli. ;Essa é a base para saber lidar e entender bem qualquer área do cinema, principalmente a parte técnica, que é mais procurada ultimamente. A ideia é passar um pouco da parte teórica e técnica de cada departamento;, pondera.

As atividades ocorrem no contraturno escolar, no próprio espaço físico das instituições de ensino interessadas. Por enquanto, a gestão do Cine-Escola Teen decidiu ofertar o curso apenas a escolas particulares. ;Nós apresentamos o conteúdo para as instituições, e elas manifestam o interesse em aderir. É um tipo de atividade em que colégios podem nos procurar também;, explica Marcus. ;Outra possibilidade que os jovens têm para participar é eles se reunirem em grupo e manifestarem interesse, que aí entramos em contato e negociamos um valor;, completa. Mais para a frente, o plano é incluir também alunos de escolas públicas oferecendo aulas gratuitas durante um mês. Ao término das atividades, o grupo produziria um curta-metragem.

O mercado audiovisual

Pesquisa da Associação Brasileira da Produção de Obras Audiovisuais (Apro) e do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) mostra que o setor audiovisual foi responsável pela geração de 98,7 mil empregos direitos e 107,6 mil empregos indiretos. A remuneração média no segmento chegou a R$ 3.685,02. Estima-se que a receita das empresas do setor tenha sido de cerca de R$ 42,7 bilhões em 2015. Entre 2008 e 2014, houve crescimento de 153% no volume de obras produzidas e registradas na Agência Nacional do Cinema (Ancine), com destaque para séries

Fonte: Mapeamento e impacto econômico do setor audiovisual no Brasil, de 2017

Palavra de especialista


Atividades extracurriculares
Inicialmente, estamos falando de educação escolar. Ela quebra a lógica conceitual do conhecimento que a criança precisa desenvolver. A escola se organiza num currículo, que tem como base a palavra ;grade;, que é uma delimitação cercada sobre os conhecimentos institucionais. O que ocorre é que a formação de qualidade de um estudante tem de ser bem mais ampla do que a grade curricular porque a escola não dá conta de todo o conhecimento presente no mundo. Quando a criança vai para a escola, não é dado a ela o direito de questionar sobre o que quer aprender ou que tipo de atividade sente mais prazer em executar. Então, são as atividades extracurriculares que vão ampliar esse aprendizado. É preciso que os responsáveis prestem atenção a isso, pois vemos muitos pais impondo aos filhos cursos à parte sem ter o cuidado de verificar se aquilo é de interesse deles também. Exemplo: o pai adora futebol; então, coloca o menino em uma escolinha da modalidade. Na hora de procurar uma opção de atividade extracurricular, é importante prestar atenção à formação do profissional que ministrará as aulas. O professor não deve ter apenas conhecimento técnico, mas também entender o lado pedagógico e didático, pois ele lidará com a transmissão de conhecimento para outras pessoas.
Cristiano Alberto Muniz, professor aposentado da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB)

Anote!


Interessados nas atividades do Cine-Escola Teen podem entrar em contato com os professores Marcus Achilles e Araceli Silva pelos telefones 98476-8301 e 98197-6392.


*Estagiária sob a supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa