;Isso é muito importante nessa área. Se um paciente, de repente, for atendido num local que sabe que não é daquele médico, essa informação pode comprometer a credibilidade. A prática existe, mas é velada;, afirma. Já os donos da CoWorkout One não escondem o propósito do espaço. A aposta no coworking, atividade que vem crescendo no país, veio após um dos sócios viajar para a Europa e ter contato com o segmento. ;A gente ficou sabendo que tinha três coworkings na área da saúde na Espanha, só que nenhum com a nossa metodologia, funcionando como o nosso;, lembra Marcello. Foi aí que os quatro amigos decidiram empreender, trazendo a possibilidade de atuar num espaço colaborativo não só para educadores físicos, mas também para profissionais de fisioterapia, nutrição, massoterapia e osteopatia. Os jovens sempre tiveram o sonho de ter um negócio próprio, mas a ideia teria de ser inovadora. Pensaram em uma academia voltada para crianças, mas não deu certo. Outros projetos pareciam clichê. Após encontrarem a ideia certa, tiveram de superar a falta de referencial.
;Foi tudo muito difícil por ser o primeiro coworking na área de saúde no país de que tínhamos notícia. Procuramos para ver se tinha algum para personal trainer por aí, mas, da forma como estamos trabalhando, somos os primeiros. Por isso, foi complicado nos espelharmos em alguém;, lembra João Guilherme Teixeira, 26, professor de natação no Serviço Social da Indústria (Sesi) e ex-jogador profissional de futsal na Itália. Inaugurado em 5 de maio, o ambiente de 178m; na 412 Norte tem quatro espaços: uma área de treinamento, em que professores de educação física podem dar aulas; uma sala de atendimento, onde nutricionistas, fisioterapeutas e outros profissionais recebem clientes; um espaço multiuso com capacidade para reunir até oito alunos em aulas coletivas; e uma sala de reunião. A experiência tem animado João Guilherme. ;Estou muito feliz e orgulhoso. Mesmo com o desgaste pelo trabalho diário de 16 a 17 horas por dia, vale a pena ver o retorno dos envolvidos, e o time que está sendo formado;, comemora.
Praticidade
De portas abertas há pouco tempo, o local fechou contrato, até o momento, com um professor de ninjutsu (arte marcial japonesa), uma nutricionista, um personal trainer e uma massoterapeuta. A comodidade financeira e a independência atraíram os interessados. ;Muitos fisioterapeutas e graduados em nutrição, por exemplo, saem da faculdade e não têm condições de alugar uma sala comercial. Com o nosso espaço, a pessoa paga uma taxa, quase irrisória, mas o resto é tudo dela, inclusive o valor que cobra do cliente. Não interferimos nisso;, ressalta Marcello. Existem três planos com diferentes preços para quem deseja fechar acordo com os rapazes da CoworkOut One. Uma hora avulsa na sala de treinamento custa R$ 40. Planos de até 20 horas baixam o preço da hora para R$ 30. Acima de 20 horas, o valor cai para R$ 25. Nas salas multiúso e de atendimento, os valores são, respectivamente para cada modalidade: R$ 55, R$ 50 e R$ 45. Para alugar o espaço de reunião, os profissionais devem desembolsar R$ 20 pela hora avulsa, R$ 15 para planos de até 20 horas e R$ 10 para planos acima de 20 horas.
Raíssa Boaventura, 26, nutricionista há três anos, enxergou no coworking uma oportunidade de economizar. Formada pelo Centro Universitário de Brasília (UniCeub), ela trabalhou na área clínica de uma academia e com a produção de alimentos em dois restaurantes. Agora, paralelamente à ocupação como dona de uma empresa de marmitas, faz atendimentos na CoWorkout One. ;Alugar um consultório é muito caro para quem está começando e não tem nem uma carteira de clientes. Por isso, espaços colaborativos são joias: você paga por um período e não tem nenhum tipo de vínculo. Isso é bom para fidelizar os usuários e os profissionais;, pontua. No entanto, não foi apenas a diminuição dos gastos que motivou Raíssa a apostar no ambiente compartilhado. A troca de experiências com profissionais de outras áreas e a flexibilidade pesaram na escolha. ;Meus horários de atendimento são muito flexíveis, porque a CoWorkout abre às 7h e fecha apenas às 22h. Como nutricionista, vejo que as pessoas têm dificuldade com a questão do tempo porque trabalham muito;, enfatiza.
Informações:
CoWorkout One
CLN 412 - Bloco D, Loja 13,
Subsolo
Fones: 3532-1596 / 99309-1463
Três perguntas para
graduado em engenharia mecânica e dono do Escritório Virtual e Coworking VBA
O que é coworking e qual a origem do modelo?
O coworking é uma forma de trabalho em que as pessoas ficam conectadas com outros profissionais em um escritório compartilhado. Muitos definem como um espaço ou uma filosofia, mas isso é muito abrangente. Não é apenas uma sala cheia de mesas, é uma forma de atender o cliente. A raiz vem do estilo de trabalho baseado na economia colaborativa e tem vários motivos. O principal é a redução de custo, porque é um modelo mais barato para o empresário, que não tem de gastar com serviços correlatos de limpeza, secretaria, entre outros. O coworking surgiu por volta dos anos 1980 nos Estados Unidos e na Europa com o nome de escritório, mas tinha várias outras definições, entre elas business center, centro de negócios e virtual office. No Brasil, o coworking chegou em 1994, após o governo Collor abrir a economia ao mercado externo. Assim, empresas estrangeiras que estavam no país como investidoras e saíram na época da ditadura, voltaram. Já pensou como seria se elas tivessem de comprar terreno, montar escritório e móveis novamente? Nos Estados Unidos, existia algo muito mais moderno: uma empresa voltada para prover estrutura para essas outras empresas trabalharem e, na hora que bem decidissem, irem embora. O funcionário (faxineiro, copeiro, secretária) é do gestor do espaço. Isso permitiu que companhias viessem para o Brasil com um custo muito reduzido e flexível.
Quais as vantagens para uma empresa que adota esse modelo?
Redução de custos é o principal motivo. Montar um escritório de advocacia decente, por exemplo, custa de R$ 2 mil a R$ 3 mil por metro quadrado. O advogado ou advogada vai fazer um investimento inicial de R$ 60 mil. Após isso, para manter todas as despesas, gastará, garantidamente, pelo menos R$ 5 mil por mês. Muitos, sobretudo os que não têm nome consolidado no mercado, não têm condições de fazer isso. Indo para o coworking, no dia seguinte contam com escritório pronto. É mais barato e instantâneo. A flexibilidade é outro componente importante: caso a empresa queira expandir a equipe de uma ou duas pessoas para seis ou até mesmo diminuir o número para três, por exemplo, o ajuste no espaço é feito facilmente.
Quais são os benefícios de trabalhar em um coworking?
O funcionário ou empresário pode focar toda a atenção no trabalho dele, sem se preocupar com serviços correlatos: ;ah, a faxineira não veio hoje ou a secretária não veio porque atrasou, entrou de férias, tem que colocar outra;. No escritório compartilhado, isso não acontece, porque existe uma equipe para atendê-lo. Mais do que isso: há vários funcionários à disposição, supervisionados para garantir um serviço de qualidade, porque o coworking que não faz isso perde o cliente. Muita gente usa cafeterias para trabalhar, mas lá o profissional não tem identidade. Pode até trabalhar, mas sendo de uma empresa séria, não poderá se sustentar para desenvolver o trabalho dele neste tipo de local, pois não é um ambiente profissional. Outra questão que observo é que a maioria das pessoas está migrando do home office para o coworking porque, sem contato social, ficam neuróticas. O trabalho em casa dispersa, cria um ciclo vicioso em que o profissional acaba descuidando aos poucos da aparência e começa a se desvalorizar como ser humano.
*Estagiário sob a supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa