Ana Paula Lisboa
postado em 03/06/2018 14:18
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Eles sabem tudo de casamentos
Há quase 16 anos, casal administra casa de festas no Park Way que se consolidou sediando enlaces matrimoniais. Ele fica responsável pela gestão e pelo contato com fornecedores, enquanto ela atua como decoradora
Prestes a completar 16 anos, o Espaço Renascença, casa de festas no Park Way, já foi palco de centenas de casamentos. Muito mais do que a beleza de cada canto dos 240m; de salão e dos 550m; de área externa, com cascata e jardim, o que garantiu a consolidação do local foi a seriedade, o perfeccionismo e a parceria do casal Carlos Augusto Rocha de Mello e Souza, 51 anos, e Luciana Bello, 42. Os dois estão juntos há 15 anos e se conheceram numa data bastante simbólica: o Dia dos Namorados de 2002, um dia depois da inauguração do salão. ;O Renascença nos colocou juntos;, resume Carlos. A relação, inicialmente, era de empregador e empregada, mas não demorou a se transformar. Juntos, Carlos e Luciana são pais de um menino de 12 anos. Ela é mãe ainda de um rapaz de 22. ;Eu vim trabalhar como relações públicas aqui, atendendo clientes e fechando contratos;, lembra a graduada na área que, na época, acumulava cerca de seis anos de experiência no ramo de eventos, com passagem por casas de festas, empresas de cerimonial e bolos.
Carlos tinha acabado de receber o aval dos pais para transformar o lote da residência da família num espaço de festas e, após fundar o local, procurava ajuda para administrar o estabelecimento. ;Antes disso, eu tinha uma loja de autopeças com meu pai;, recorda o administrador, que conciliou as duas atividades por cerca de dois anos, passando a se dedicar integralmente ao Espaço Renascença depois disso. A casa recebe até 300 convidados por celebração. Apesar de sediar principalmente casamentos, também foi sede de bodas, aniversários e outras comemorações. Há cerca de 10 anos, Carlos e Luciana dividiram tarefas, e ela se especializou em decoração de eventos, ficando responsável pelo visual de todas as festas do Renascença, mas atendendo também solenidades, especialmente corporativas, em outros locais. ;Hoje, 70% do faturamento de decoração vem de eventos fora daqui;, conta ela. ;Eu sou a parte criativa do negócio, enquanto a de fornecedores e de finanças fica com o Carlos Augusto. Gosto é de atender e fazer amizade com as noivas e criar. Se você me perguntar quanto custa um pacote de rosas, eu não sei;, diz.
O sócio e marido toma bastante cuidado com a gestão dos recursos. ;Nossa margem de lucro não chega a 25%. No fim, 15% do que ganhamos realmente é nosso. O resto fica com salários, manutenção, aluguel de equipamentos, pagamento de fornecedores...;, explica ele. Os empresários percebem que o setor de eventos está em baixa por causa da crise, com diminuição tanto na quantidade de festas quanto no volume gasto por celebração. Apesar de os sábados ainda serem dias bastante disputados para reserva, antes da recessão, até mesmo sextas e domingos costumavam ter alta procura. ;Mas ainda dá para trabalhar bastante, dá para ficar a semana toda ocupada;, conta Luciana. Afinal, fora dos fins de semana, Luciana decora eventos corporativos, enquanto Carlos atende clientes e fecha contratos. Eles contam com a ajuda de uma equipe de sete funcionários bastante fieis. ;São pessoas com quem contamos há muito tempo, que vibram a cada festa realizada;, elogia Luciana. A presença constante dos donos, no entanto, é fundamental. De segunda a sexta, Carlos trabalha das 7h30 às 17h, estando sempre disponível para tirar dúvidas de clientes. Nos fins de semana de evento, fica o tempo todo ali, até o apagar da última luz, garantindo que tudo saia perfeito, administrando o serviço de manobristas e DJ, por exemplo.
Receita que deu certo
A internet e a indicação de antigos clientes são os grandes chamarizes que atraem interessados ao local. O segredo, segundo o casal, para permanecer por tantos anos com boas referências no mercado é a preocupação genuína em fazer cada evento ser o mais perfeito possível. ;A pessoa tem de sair daqui extremamente satisfeita;, resume Luciana. ;Ela tem um padrão pessoal elevado e consegue passar esse nível de exigência para os funcionários e tudo o que fazemos;, comenta Carlos. ;Já ele tem uma grande preocupação em ser ético, em deixar tudo claro, que também marca nosso trabalho;, emenda Luciana. Carlos é bastante metódico, então há várias regras de utilização do espaço, mas que são para o bem dos noivos e da vizinhança. ;É isso que permite que a gente tenha se estabelecido numa área residencial, mas fazendo o máximo para não incomodar. Prova de que estamos fazendo isso é que todos os vizinhos se casaram aqui;, comenta. ;Temos muito orgulho de, nesses 15 anos, não termos nenhuma reclamação registrada em nenhum lugar;, comemora.
Precauções, como gerador e reservatório de água, também dão paz de espírito para os proprietários. O ônus de se trabalhar com festas é que os dois não passam várias datas comemorativas na presença de familiares e amigos. Só dá para tirar férias não planejadas, quando não houver nenhum evento. No entanto, há também compensações. ;Trabalhando com eventos, há picos de muita intensidade e desgaste, mas há bons intervalos com compensação muito positiva: flexibilidade de horário, relacionamento mais próximo da família e qualidade de vida durante a semana;, percebe Carlos. Outro ponto positivo, na avaliação de Luciana, é a troca de energias. ;O dinheiro que vem dos noivos tem uma carga muito leve. As pessoas pagam felizes. O Carlos tinha uma loja de carros e, quando os clientes chegavam com motor fundido e precisavam dar R$ 7 mil, não faziam isso de bom humor, mas, sim, bravos e tristes;, compara. ;Aqui é diferente, a energia sempre é legal.;
Renascimento
As cerimônias de casamento no local ocorrem, geralmente, a céu aberto, num gazebo de madeira maciça rodeado por plantas. Até 2016, porém, a marca registrada do Espaço Renascença era um frondoso flamboiã de cerca de 50 anos: os enlaces eram celebrados aos pés da árvore. Quando ela, de repente, caiu, Carlos e Luciana precisaram agir rápido e deram uma verdadeira aula de gerenciamento de crise. ;Sem sombra de dúvidas, foi um dos dias mais difíceis das nossas vidas. O flamboiã cresceu demais para um lado só e pendeu naturalmente, sem nenhuma chuva ou qualquer evento natural;, descreve Luciana. ;Mas ele escolheu o dia perfeito para sair de cena. Não tinha ninguém ali, não houve risco para ninguém;, acrescenta Carlos. ;Ele caiu um dia depois do último casamento que a gente faria antes de uma licença de 45 dias, planejada para manutenção e paisagismo no espaços;, completa.
;Fomos muito abençoados. Foi a mão de Deus que determinou a hora que ele caiu;, acredita Luciana. O intervalo na agenda foi muito útil, pois quando as reformas acabaram, exatamente 45 dias depois, o casal inaugurou o gazebo. ;No mesmo dia da queda, sentei ali em baixo e comecei a rabiscar. Entramos em contato com o arquiteto Maurício Côrtes naquela noite e ele entrou em ação;, recorda Luciana. Antes de tudo, no entanto, os empresários avisaram todos os noivos que tinham fechado contrato do contratempo, pediram voto de confiança e garantiram que construiriam algo à altura da árvore que era a queridinha do lugar. No fim das contas, nenhum cliente cancelou evento por causa da mudança e todos terminaram satisfeitos. ;Claro que alguns sonhavam com a árvore, mas entenderam que era algo que fugia ao nosso controle e viram que fizemos todo o possível para compensá-los;, observa Carlos. Agir rápido faz parte da rotina do casal. ;Agora, com a greve dos caminhoneiros, por exemplo, tivemos problemas com fornecimento de flores. Então, corri para pegar com fornecedores locais logo que soube da notícia.;
Origem
A história do Espaço Renascença se mistura com a da família de Carlos. Os pais dele moravam com os três filhos num apartamento na Asa Sul e compraram o lote no Park Way, onde hoje fica o salão de festas, como chácara. ;No começo, o DF tinha poucos locais de lazer. Aqui, criávamos galinhas, cavalo e até uma vaca jersey que produzia leite;, rememora Carlos. Quando ele completou 18 anos, a família saiu do Plano Piloto para fazer do espaço residência de fato ; algo que prevalece mesmo após a inauguração do salão de festas. ;O Espaço Renascença está fundido na estrutura da casa dos meus pais. A suíte da noiva era o quarto da minha irmã. O escritório do meu pai virou o nosso escritório. E a sala virou nossa recepção;, conta. O restante da residência fica separado do salão, e o irmão mais velho de Carlos vive numa edificação ao lado.
;Fiz um tratamento acústico no quarto dos meus pais para mitigar o barulho e temos uma sonorização que garante que vizinhos, mesmo próximos, não sejam incomodados;, diz. Há ainda regras a fim de facilitar a política da boa vizinhança: os eventos devem acabar até 2h e há limitações para apresentações de bandas, por exemplo. A ideia de empreender dentro da propriedade da família surgiu depois que Carlos passou um ano estudando inglês na Inglaterra. ;No início, meus pais não deram muito apoio porque eles construíram todo esse patrimônio na carreira pública e sonhavam que os filhos se tornassem servidores, mas eu segui a vertente do empreendedorismo;, relata. ;Então, o Renascença foi a chance de abrir meu negócio, mas dentro de algo, sem dúvida, oportunizado pelos meus pais;, observa.
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