Trabalho e Formacao

Acima de tudo, educadora: a dona do Colégio Moraes Rêgo

Dona de uma escola de ensinos infantil e fundamental na Asa Sul há 47 anos, ela sempre foi apaixonada por crianças. A instituição de ensino representa a realização de um sonho. Agora, a pioneira passou a direção para a filha caçula, mas continua acompanhando o trabalho de perto

Ana Paula Lisboa
postado em 01/04/2018 15:31

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Não é preciso muito tempo estudando, trabalhando ou até mesmo visitando o Colégio Moraes Rêgo, na 706/906 Sul, para perceber que a alma da escola tem nome e sobrenome: Beatriz Salles de Moraes Rêgo, 81 anos. Fundadora e proprietária da instituição, ela consolidou o local ao longo de 47 anos de muito trabalho e, principalmente, amor pela educação. A paixão pela área é tão grande que a paraense de Belém contagiou boa parte da família. Os três filhos, as professoras Silvia Moraes Rêgo Masson, 60, e Simone Moraes Rêgo Nunes de Andrade, 57, e o administrador Luiz Carlos de Ávila Nunes Júnior, 59, trabalham na escola da mãe há muitos anos. Todos os netos estudaram ali.
O ex-marido dela, Luiz Carlos de Ávila Nunes, falecido, também contribuiu com as atividades do local. Companheiro de Beatriz, Antônio Novo Leonetti, 88, atua na instituição desde 1996, sendo responsável pela cantina e pelo restaurante, coordenando a produção de 60 almoços por dia.

Completam a equipe quase 100 funcionários. ;Tem coordenadora que está aqui há 28 anos. O motorista José começou aqui há 42 anos. Dois professores da escola são mãe e filho, que era ex-aluno; e, agora, os netos dela estudam aqui: são três gerações;, informa Beatriz. Todos ali são impactados pela devoção da proprietária ao colégio que, para ela, não é apenas um negócio.


;Ela não é empresária, é educadora acima de tudo;, elogia Simone, para quem Beatriz passou a direção da escola este ano. Enquanto isso, Silvia dirige o segmento infantil e Júnior se ocupa da administração da instituição. A decisão veio quase por recomendação médica. ;Há dois anos, descobri um câncer muito sério no estômago;, relata Beatriz. Desapegar do cargo de diretora, porém, não tem sido fácil. ;Foi sofrido. Mas entendi que não importa deixar a direção, o que não posso é deixar a escola;, diz, com lágrimas nos olhos.

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É por isso que, até hoje, ela vem ao colégio constantemente, é abraçada pela meninada que a chama de ;tia Bia; e ainda leva provas para revisar em casa. ;São 47 anos de trabalho, cumpri bem minha missão, já estava na hora. Mas passei uma vida aqui, então não dá para deixar de vir;, afirma. ;É tão importante e bonito ver meninos entrando com 2 anos e saindo aos 13 bem formados no ensino fundamental;, diz. O carinho é recíproco e muitos alunos voltam para visitar, entregar convite de formatura e casamento. ;Teve um aluno que se casou com uma chinesa e voltou aqui para me apresentar a esposa;, exemplifica.

Parceria: Beatriz (à frente) com o companheiro, Antônio (à esquerda), e os filhos Júnior, Silvia e Simone


Do ensino infantil ao 9; ano, são 510 estudantes. Um diferencial são as turmas menores, em média, com 25 pessoas por sala. Mas o que cativa realmente a comunidade é o jeito como cada um é tratado. ;O objetivo é fazer todo mundo se sentir em casa, bem e feliz;, observa Beatriz. Para isso, o corpo docente precisa estar na mesma sintonia. A mesma hospitalidade dispensada aos estudantes cativa funcionários e pais, que, em muitos casos, são ex-alunos. ;É por isso que a segunda e a terceira gerações estão aqui.; A advogada e nutricionista Fernanda Castelo Branco dos Santos, 42, é exemplo disso. Ela estudou no colégio entre 1977 e 1988 e, depois de se tornar mãe, trouxe os dois filhos, de 1 e de 5 anos, para a escola. ;Eu conheço toda a dinâmica e a metodologia da escola, que prioriza dar autonomia para a criança. Tanto eu quanto meus amigos que estudaram aqui tivemos bons resultados na vida. Agora, viramos uma comunidade de pais;, conta.

Ela é exemplo de dedicação e força de vontade

Pioneira
Filha de dois servidores da Receita Federal e natural de Belém, Beatriz cresceu entre João Pessoa e São Paulo, cidade onde terminou o magistério aos 17 anos. ;Sempre gostei de criança, quis ser professora e sonhava em ter uma escola. Quando fiz um curso da metodologia montessoriana, a minha vontade passou a ser aplicar aquilo um dia no meu colégio;, lembra. Na capital paulista, ela lecionou por dois anos na rede pública, cargo em que ficou até se casar, quando se mudou para o Rio de Janeiro. Com a mudança, não pode retomar a profissão de imediato. ;Àquela época, o ensino normal de um estado não servia para outro. Era preciso fazer uma nova avaliação;, conta.

Beatriz faz questão de estar sempre ali, supervisionando tudo



Quando a família veio para Brasília, em 1960, ela tinha dois filhos; a terceira nasceu aqui. O então marido dela trabalhou como revisor na Imprensa Nacional e no Correio Braziliense. Beatriz ingressou na antiga Fundação Educacional como professora em 1966, quando os filhos estavam mais grandinhos. ;Eu trabalhei na primeira escola do Gama. Dava aulas apenas pela manhã, saía de casa às 5h30 e voltava às 14h;, diz. ;Meu marido saía para trabalhar às 9h, depois de dar café e banho nos meninos. Na nossa ausência, a Silvia (que tinha 5 anos na época, mas era muito responsável) tomava conta dos mais novos; e a vizinha ficava com a chave da casa para qualquer necessidade;, recorda. A experiência na rede pública foi o primeiro passo para cumprir a meta de abrir uma escola, pois era obrigatório ter passado pelo sistema educacional local a fim de conseguir a licença necessária. ;Fiz o concurso em função do meu sonho;, explica. Em 1971, deixou o cargo para inaugurar o colégio.

Fernanda colocou os dois filhos para estudar no colégio de sua infância

O que veio em momento propício, já que Brasília carecia de instituições de ensino. Mesmo assim, não foi fácil. ;Começamos sem nada. Tudo o que eu tinha era uma vontade muito grande.; A partir de um empréstimo, a educadora comprou um terreno de 3.200 m;. ;Começamos a funcionar com quatro salas de aula, quatro professores e um mini-zoológico;, recorda. A Escola Maternal e Jardim de Infância Branca de Neve abriu as portas em 8 de março de 1971. ;No início, eram só oito alunos. No fim daquele mesmo ano, já eram 100.; Mais tarde, em 1977, quando passou a oferecer também ensino fundamental, a unidade passou a se chamar Centro Educacional Rodolpho de Moraes Rêgo, em homenagem ao pai dela. Só em 1999, o nome Colégio Moraes Rêgo passou a ser usado no colégio.

Saiba mais

www.moraesrego.com.br 3242-9087

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