Jornal Correio Braziliense

Trabalho e Formacao

Restauradores de azulejos

Em loja na W3 Norte, casal vende pisos dos mais diversos tipos: desde atuais até modelos que pararam de ser fabricados e outros com até 70 anos. O acervo tem mais de 40 mil modelos

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Diversas prateleiras enfileiradas guardam cerca de 40 mil tipos de pisos, dos mais atuais a modelos antigos, de até 70 anos atrás. Um olhar desatento às pilhas não perceberia que, na verdade, tudo ali é superorganizado. Cada variedade, cor e tamanho de ladrilho recebe uma letra e um número, correspondente à fileira e à altura do suporte em que se encontra. Para localizar rapidamente cada qualidade de azulejo existente, amostras (com os códigos que permitem encontrar cada uma e a quantidade de itens disponíveis) ficam no balcão. É por meio desse sistema, que funciona como uma biblioteca de cerâmicas, que os proprietários, Juscelino Oliveira Ataíde, 59 anos, e Maristela Ataíde, 56, conseguem controlar o estoque da loja Azulejos e pisos antigos, na 712/713 Norte. O sistema de catalogação também permite achar com agilidade espécimes procurados pela clientela, dos mais raros aos mais comuns.

;Sem isso, nos perderíamos aqui dentro;, comenta a paranaense Maristela. A empresa é aposta certeira para quem precisa repor uma peça que não é mais vendida em lojas de material de construção. O negócio vende também tipos que estão no mercado e é procurado por pessoas que desejam adquirir apenas alguns itens ; numa loja comum, seria preciso comprar pacote fechado com grande quantidade. ;O cliente traz um pedaço da cerâmica que precisa substituir e informa o tamanho. Tenho amostras aqui na bancada para comparar e achar rapidinho. Quando uma compra é feita, já atualizo o número de azulejos daquele modelo que ficaram;, explica Juscelino, que é paulista. Ele e a mulher, Maristela, se preparam para comemorar os 31 anos do estabelecimento. A loja foi aberta, inicialmente, em Taguatinga. Em 1992, o casal a transferiu para o endereço atual, na W3 Norte.

;Lá, o público ficava muito restrito a pessoas que moravam na região. Este é um local mais central, por onde passa gente de todo o DF;, observa Maristela. Agora, os microempresários recebem de 20 a 30 clientes por dia. A crise não afetou o negócio, já que as pessoas passaram a se preocupar mais com os gastos na hora de construir. Além de vender pisos, a loja recupera cerâmicas trazidas pelo público, deixando-as prontas para serem usadas novamente. ;Um bloco da 311 Norte fez uma reforma orçada em mais de R$ 2 milhões e meio. Como a síndica trouxe as pastilhas retiradas de lá para a gente limpar, os custos baixaram para R$ 500 mil;, conta Juscelino. ;Em outros tempos, quem ia construir ou reformar, às vezes, nem pensava em fazer isso, já queria logo comprar tudo novo;, completa Maristela, que destaca que o serviço é econômico e ecológico, pois permite reduzir a geração de entulho.

Outro serviço diferenciado oferecido pelo estabelecimento é a confecção de azulejos. ;Se a pessoa traz uma peça que não temos no estoque, conseguimos fazer uma igual ; desde que o design não seja registrado;, esclarece Juscelino. ;Não podemos, por exemplo, reproduzir um azulejo de Athos Bulcão.; Quem quer um ladrilho diferenciado, com algum nome ou desenho, também pode optar pelo serviço. Boa parte do acervo da loja vem de pontas de estoque, demolições e resto de obra ; fornecido, muitas vezes, por pedreiros, que conseguem vender as peças ali. Maristela e Juscelino, porém, são criteriosos. ;Não compramos tudo. Se não, não teríamos nem espaço para guardar;, aponta Maristela. Esse aprendizado sobre o que vale a pena ou não ter no estoque foi adquirido com o tempo. ;Não adianta ter modelos que não têm saída.;

Origem
Maristela era professora de matemática e Juscelino, de física. Depois de casados, resolveram trabalhar num ramo tão diferente da área de formação por terem considerado o nicho promissor. Eles queriam abrir um negócio do tipo numa cidade que não contasse com uma loja especializada em cerâmicas antigas. A vinda para o DF foi quase que por acaso. ;A gente iria para Fortaleza; estávamos com a passagem de ônibus comprada, mas acabamos perdendo. Então, de última hora, resolvemos vir para Brasília;, lembra Juscelino. ;Abrir um negócio sem reservas financeiras e sem estoque foi difícil. Enfrentamos com a cara e a coragem;, recorda Maristela. Eles superaram as barreiras pelo caminho com alguns dos ingredientes que formam a receita de sucesso da loja: compromisso com o cliente, transparência e vontade de sempre dar um jeito de atender a necessidade do público. Contar com um time de empregados de confiança, que está na empresa há muito tempo, também é importante. ;O segredo para reter bons funcionários é valorizá-los ; e não só no sentido financeiro;, ensina Maristela. ;O funcionário é nosso cliente n; 1;, explica Juscelino.

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