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A brasiliense Yaciara Mendes Duarte, 29 anos, trabalha na Biblioteca Cora Coralina do Centro Educacional Católica de Brasília ; que recebe alunos do ensino infantil ao médio ; há dois anos e trouxe para a capital federal um prêmio internacional. Trata-se do troféu Da Vinci Huis, oferecido desde 2010 a jovens bibliotecários que desenvolvem trabalhos inovadores pelo país. Graduada em biblioteconomia e mestre em ciências da informação pela Universidade de Brasília (UnB), ela foi reconhecida por introduzir projetos que despertem o hábito da leitura no ambiente de trabalho. Promoção de semanas temáticas (com presença de especialistas para falarem de autores) e datas comemorativas (no Dia dos Namorados, por exemplo, as bibliotecárias embrulham livros com papel de presente para que pegar uma obra emprestada se torne mais especial) estão entre as atividades que a levaram ao pódio.Outros projetos desenvolvidos por ela são o Sexta em jogo (nesses dias, games de tabuleiro são utilizados para que a biblioteca se torne um lugar de interação) e Encontre a sua Pokebola (por meio do qual objetos contendo vale-livros e prêmios foram escondidos pelo colégio para que os estudantes procurassem). Yaciara ganhou a honraria em Long Beach, na Califórnia, nos Estados Unidos, durante o 46; Congresso Anual da International Association of School Librarianship (IASL), no início de agosto. Esta foi a primeira vez que a brasiliense viajou para fora do país e teve os custos pagos pela organização do prêmio. Yaciara se encantou pela leitura e pelas bibliotecas ainda na infância, depois de ser alfabetizada, a partir de livros de receita, pela mãe, a aposentada Maria José Mendes. A paixão pelo ramo só cresceu e a motivou a querer trabalhar para incentivar crianças e adolescentes a gostarem de ler. Ao longo da carreria, cuidou do acervo bibliográfico da Faculdade Senac, do Centro Universitário Euroamericano (Unieuro), da Universidade Católica de Brasília (UCB), do Centro Universitário de Brasília (UniCeub) e do Colégio La Salle.
Por que você decidiu ser bibliotecária?
O que fez toda a diferença em minha vida foi minha mãe ter me possibilitado o prazer de ler. Minha relação com espaços dedicados à leitura começou quando eu era criança. Cresci em Samambaia e, atrás da minha casa, tinha uma biblioteca, a do Centro de Ensino Médio (CEM) 304. Foi nela que comecei a ler os clássicos da literatura e acessei pela primeira vez a internet. Fiquei apaixonada. Minha dissertação de mestrado ; As representações sociais no ensino médio do Distrito Federal: a biblioteca escolar pública sob o olhar do estudante ; refletiu isso.
Como você se sentiu ao receber a condecoração Da Vinci Huis?
O sentimento foi de que não fiz mais que minha obrigação. Por mais que eu tenha ficado muito feliz, ainda não estou satisfeita: acho que o que fazemos e vivemos aqui na Cora Coralina deve ser levado para outras bibliotecas. O bibliotecário não deve só cuidar de livros e de atividades técnicas: temos que conquistar os leitores, os alunos. E, para entender do que os estudantes gostam, deve-se fazer pesquisas, compreender se eles apreciam jogos e vídeos, por exemplo, e utilizar isso para fortalecer o interesse deles.
Como foi participar do congresso nos Estados Unidos?
Foi incrível! Passei 10 dias lá. Ter contato com outras vivências me fez ter certeza de que o caminho para melhores práticas na área tem que ser o de democratizar e desmistificar a leitura e a informação. Nosso papel nunca foi só o de emprestar livros. Pude perceber que, de fato, tem muitas pessoas fazendo a diferença na área, o que me deu gás para querer fazer mais pelos alunos.
Como é o seu lugar de trabalho?
A biblioteca do Centro Educacional Católica tem quatro funcionárias: eu, a pedagoga Dulcilene Moreira, a bióloga Dayanne Oliveira e a auxiliar Valma Ferreira. Nosso acervo é de 7.590 obras e o espaço conta com 17 computadores. Em 2016, começamos a desenvolver as atividades das semanas temáticas e de integração. Com os projetos, houve grande aumento no número de frequentadores e na quantidade de livros emprestados entre julho deste ano (12 mil exemplares) e do anterior (10 mil). Este crescimento ocorreu entre alunos de todas as faixas etárias. Estamos conquistando os leitores identificando o interesse de cada frequentador.
Você acha que a sua profissão é reconhecida no Brasil? Por quê?
Ela não é: as pessoas não entendem o que fazemos. Existem poucos especialistas em biblioteconomia no país, o perfil da área é muito tecnicista, voltado para a preservação do acervo, o que acaba distanciando o profissional do público. A atitude diferenciada de desenvolver projetos atrativos deve ser reforçada pelas universidades e trabalhada por outras pessoas.
Quais as qualidades de um bom profissional da sua área?
Gostar de gente, de leitura, de informação e, principalmente, de ter contato com livros. O bibliotecário, dentro do espaço de leitura, se torna referência. Sempre ocorre de me perguntarem: O que você me indica para ler? Então, você tem que conhecer os perfis, as pessoas e as obras para fazer o trabalho de mediação. Uma das cinco leis da biblioteconomia, do indiano Shiyali Ramamritam (1892-1972), inclusive, diz ;Todo leitor tem seu livro;.
Você quer deixar um recado para os leitores?
A biblioteca tem que estar a serviço da população. Temos que tirar da cabeça das pessoas a ideia de que é um lugar chato ou somente para indivíduos cultos. Eu e minha equipe tentamos mostrar aos alunos a necessidade do conhecimento para trilhar um caminho na sociedade, pois o mundo está em constante mudança e temos que acompanhar essas evoluções. O que acho mais incrível na biblioteca é que pensamentos antagônicos existem no mesmo lugar. E é disso que precisamos ultimamente: respeitar a diversidade de ideias sem agredir o outro.
* Estagiária sob supervisão de Ana Paula Lisboa