Jornal Correio Braziliense

Trabalho e Formacao

Ofício: reparador de panelas

Agente de portaria aposentado conserta utensílios de cozinha na 105 Norte há 25 anos. Cuidado com as peças, dedicação e o fato de gostar da atividade ajudam o mineiro a conquistar a clientela

Em tempos modernos, em que o consumo e o descarte de bens são estimulados na mesma medida, há quem ainda ganhe a vida ao reparar objetos. A especialidade de Anselmo Luís de Miranda é reformar e possibilitar novo uso a panelas de todos os tipos. Cabos ou alças que se soltaram; tampas, borrachas ou válvulas de segurança que não funcionam mais à pressão; e uma série de outros defeitos são solucionados com rapidez pelo mineiro nascido em Bambuí, município a 270km de Belo Horizonte.


Dos 64 anos de vida, ele passou 40 em Brasília, 25 dedicado ao ofício de consertar panelas, sempre no mesmo local: a comercial da 105 Norte. Hoje, Anselmo fica no ponto das 9h às 15h30. ;Se eu tiver as peças, conserto na hora. Se não, faço orçamento e a pessoa busca depois. Dependendo do caso, também posso buscar na casa do cliente;, comenta. Ele faz os reparos usando rebite, fixador mecânico metálico. ;Dura bastante;, garante. Anselmo também amola alicates, facas e tesouras usando lima.

Atividade duradoura
Questionado sobre os motivos que o ajudaram a atrair a clientela por 25 anos, Anselmo, que é um homem simples e de poucas palavras, desconversa: ;não sei;. No entanto, quem o observa atrás do balcão em que atende a freguesia, prepara orçamentos e põe a mão na massa pode encontrar algumas pistas dos segredos para a permanência no posto. Entre eles, o cuidado dedicado a cada peça e o prazer que sente com a atividade. ;Eu gosto do que faço;, explica. A dedicação é recompensada. ;Tem gente que elogia e me dá 10;, brinca.


Renda extra
O pai de quatro filhos (de 34, 30 e 17 anos ; os caçulas são gêmeos) e avô de três netos está aposentado há cinco anos e foi agente de portaria num colégio particular em Sobradinho, cidade em que mora desde que deixou Minas Gerais em busca de trabalho. Ele começou a consertar panelas como bico e forma de ocupar as horas de folga. ;Eu trabalhava das 16h às 23h, aprendi a fazer isso com um pessoal que conheço em Sobradinho para ganhar um troco e preencher o tempo livre;, conta.


;Quando eu estava no emprego, tinha mais correria, conciliando as duas coisas. Hoje, está mais tranquilo.; Anselmo atende de cinco a seis pessoas por dia. Ele vê motivos tanto para aumentar quanto para reduzir a demanda: por um lado, ele percebe que, atualmente, existem menos concorrentes no ramo de consertar panelas, por outro, nota que as pessoas preferem, muitas vezes, comprar algo novo a optar pelo conserto. Anselmo não tem CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica), mas emite recibo para os clientes.