Jornal Correio Braziliense

Trabalho e Formacao

Carreira na beleza regulamentada

Projeto de lei que regulamenta atividades e níveis de formação exigidos de profissionais de estética e cosmética tramita no Senado Federal. Aprovação da proposta trará mais segurança para trabalhadores e clientes do mercado de beleza, um dos setores da economia que mais crescem no país

Técnicos em estética (que fizeram curso profissionalizante na área), esteticistas e cosmetólogos (que fizeram graduação tecnológica) estão a um passo de conquistar a regulamentação das atividades profissionais, reconhecidas pela Lei n; 12.950/2012. Após aprovação pela Câmara dos Deputados, em 10 de novembro de 2016, o Projeto de Lei (PL) n; 77/2016 está em análise na Comissão de Assuntos Sociais do Senado Federal, sob a relatoria da senadora Ana Amélia (PP-RS). A matéria determina que trabalhadores do ramo tenham atribuições diferentes de acordo com a formação profissional. Caso o PL seja aprovado, o exercício de qualquer procedimento estético por profissionais sem a qualificação necessária passará a ser irregular. ;Pessoas que procuram os serviços de um esteticista buscam qualidade de vida e saúde. Por isso, determinar a qualificação necessária do prestador de serviço evitará que quem não seja capacitado atue na profissão, evitando riscos à população;, afirma a deputada federal Soraya Santos (PMDB-RJ), autora do projeto.


A proposta nomeia como esteticistas e cosmetólogos pessoas com ensino superior em estética e cosmética, curso tecnológico com carga horária de 2 mil horas. Entre as competências dos graduados definidas pelo PL estão gerenciar e responsabilizar-se tecnicamente por clínicas, dirigir, coordenar, supervisionar e ensinar disciplinas que compreendem estudos em estética e prestar auditoria, consultoria e assessoria sobre cosméticos e equipamentos específicos. O título de técnico em estética será reservado aos diplomados em cursos técnicos no ramo, com duração mínima de 1.200 horas. As atribuições cabíveis a eles, que também podem ser exercidas pelos trabalhadores de nível superior, incluem elaborar programas de atendimento ao cliente e executar procedimentos estéticos faciais, corporais e capilares, utilizando produtos cosméticos, técnicas e equipamentos específicos.


Sandra Bovo, presidente da Federação Brasileira dos Profissionais Esteticistas (Febrape), acredita que o projeto de lei trará dignidade ao trabalhador da área e ajudará clientes, que poderão reconhecer de modo mais fácil quem é apto a prestar serviços desse setor. ;O nosso país é um dos poucos que tem formação acadêmica na área, por isso o conhecimento dos trabalhadores da beleza têm evoluído muito para atender melhor o mercado. A sociedade precisa perceber o quanto estudamos e nos esforçamos para oferecer o melhor e, assim, escolher bem em quem confiar. O PL nos dará esse status de trabalhadores com carreira e graduação exigida;, diz Sandra, formada em estética pela Universidade Norte do Paraná (Unopar).


De acordo com o texto do PL, trabalhadores sem formação superior ou técnica, mas que tenham feito cursos livres e atuem na área há pelo menos dois anos poderão continuar a exercer as atividades na condição de técnicos em estética. ;Várias profissões, quando foram regulamentadas, permitiram a continuidade de pessoas sem a qualificação determinada, mas que tenham experiência. Nossa intenção, ao permitir a atuação desse perfil, é incentivar a busca por mais estudo;, pontua a deputada federal Soraya Santos. A decisão, porém, preocupa a presidente da Febrape, Sandra Bovo. ;Minicursos ou pós-graduações não qualificam para trabalhar no nosso ramo. Quem quer participar desse universo não deve fazer pequenas capacitações, mas, sim, se profissionalizar;, defende.

Dedicação constante
Com experiência de 16 anos no mercado de estética, Simone Santiago, 50, espera que a regulamentação impulsione mudanças reais no ramo. ;Eu não quero que a lei seja uma teoria só para constar, mas que realmente mude nosso cenário, fazendo as pessoas que não são formadas buscarem capacitação. A exigência da formação vai trazer uma competitividade justa;, comenta. Simone afirma que o preço de procedimentos feitos por pessoas desqualificadas é menor do que o de um profissional. ;Mas é um barato que sai caro;, lamenta. Ao longo da carreira, ela conheceu pessoas que sofreram por causa de trabalhos feitos por pessoas sem propriedade no assunto. ;Recentemente, recebi uma senhora que teve complicações em um procedimento facial. Fiquei chocada. É preciso se conscientizar de que, na área da saúde e da beleza, o trabalho deve ser feito com cuidado e seriedade. Além disso, cada profissional deve fazer somente o que sabe;, diz.


Por influência da avó, que também trabalhava no ramo, e da sogra, na época cliente da matriarca, Simone iniciou a carreira com um curso livre, sem formação reconhecida pelo Ministério da Educação (MEC). Depois, fez um curso técnico em estética no Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial de São Paulo (Senac-SP). Com o certificado em mãos, mudou-se para Brasília, para ficar mais perto da família do esposo, e abriu uma clínica própria, em 1996, na 309 Sul. ;Depois disso, instalei meu negócio na academia Vip Training, onde fiquei por quatro anos. Agora, estou há nove anos no Sudoeste;, afirma Simone, que é gerente de um centro de estética que leva seu nome, onde coordena uma equipe de quatro massoterapeutas e uma biomédica. A empresária não pretende cursar ensino superior na área da beleza, mas procura constantemente atualizações por meio de cursos livres. ;O que eu não faço é realizar um procedimento sobre o qual não estudei para fazer. Um exemplo disso é a criolipólise, que resfria e elimina células de gordura. Eu contratei uma biomédica e aluguei um equipamento para atender meus clientes com segurança;, conta.

Linha do tempo
Histórico da profissão

Pessoas que procuram os serviços de um esteticista buscam qualidade de vida e saúde. Por isso, determinar a qualificação necessária do prestador de serviço evitará que quem não seja capacitado atue na profissão, evitando riscos à população; Soraya Santos, deputada federal (PMDB-RJ), autora do PL que regulamenta a área

A estética se tornou profissão a partir do momento em que os boticários descobriram como usar princípios ativos para melhorar aspectos externos do corpo, como pele e cabelo. A polonesa Helena Rubinstein criou o primeiro salão de beleza do mundo, em 1902, na cidade de Melbourne, na Austrália, a partir do aprendizado obtido com um boticário que a ensinou a desenvolver fórmulas inovadoras e unguentos com fins estéticos. Em 1947, a russa Anna Pegova inaugurou um instituto de beleza em Paris, com várias técnicas estéticas criadas por ela, como o peeling vegetal.


No Brasil, o ramo foi inaugurado por Anne Marie Klotz, brasileira filha de franceses. Após o nascimento dela, em 1914, em Natal (RN), Anne e a família retornaram à França. No país da Torre Eiffel, Klotz aprendeu procedimentos estéticos. Ela voltou ao Brasil em 1951 e abriu o Instituto de Beleza France-Bel, transformado em curso e laboratório de pesquisas entre 1954 e 1955. Anne criou ainda a primeira empresa de aparelhos de eletroterapia do país, o que trouxe independência a profissionais do Brasil, que não precisaram mais importar equipamentos.

Salários atrativos

Empresários e profissionais autônomos podem se filiar ao Sindicato dos Salões, Institutos e Centros de Beleza e Estética do Distrito Federal (Sincaab-DF). A instituição não estipula pisos salarial, como sindicatos de outras unidades da Federação; em que o valor varia de R$ 906 (Rio de Janeiro) a R$ 1.716 (Paraná). Segundo o Guia de profissões e salários da empresa de recrutamento on-line Catho, a remuneração média nacional de técnicos em estética é de R$ 1.041, e a de esteticistas com graduação é de R$ 2,5 mil.
Os empreendedores, que atendem em clínicas próprias, têm ganhos mensais
superiores a R$ 10 mil.

Mercado sem crise

O Brasil consumiu US$ 30,2 bilhões em produtos de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos em 2015, segundo a empresa de pesquisas sobre mercado Euromonitor International, o que garantiu ao país a quarta posição no ranking mundial entre as nações que mais consomem produtos do ramo. Além disso, a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec) estimou que o consumo brasileiro em estética seja de US$ 50 bilhões em 2017.

O que diz o PL

Confira atividades que poderão ser exercidas tanto por técnicos em estética quanto por esteticistas, de acordo com o texto atual da proposta:


; Aplicação de procedimentos estéticos por meio de recursos terapêuticos manipulativos, energéticos e vibracionais e não farmacêuticos;


; Execução de procedimentos estéticos faciais, corporais e capilares, utilizando como recursos de trabalho produtos cosméticos, técnicas e equipamentos específicos;


; Elaboração do programa de atendimento ao cliente, de acordo com o quadro apresentado, estabelecendo as técnicas a serem empregadas e a quantidade de aplicações necessárias;
; Solicitação, quando julgar necessário, de parecer de outro profissional da área que complemente a avaliação estética.

Estude!

Segundo o MEC, cursos superiores de estética e cosmética são oferecidos por 268 instituições no país. Confira opções técnicas e de graduação no Distrito Federal

Ensino técnico
Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (CEP-Senac)
Carga horária: 1.320 horas
Valor: R$ 5.988, divididos em até 11 vezes no cartão de crédito
Local: 703/903 Sul
Informações: goo.gl/PPBmex

Ensino superior
Centro Universitário Iesb
Duração: cinco semestres
Mensalidade: R$ 1.282,26
Locais: Plano Piloto e Ceilândia
Informações: goo.gl/OVp9ci

Centro Universitário de Brasília (UniCeub)
Duração: cinco semestres
Mensalidade: R$ 638,53
Local: Asa Norte
Informações: goo.gl/x6Sb6Y

Faculdade Anhanguera
Duração: sete semestres
Mensalidade: não informada
Locais: Plano Piloto, Sobradinho, São Sebastião e Taguatinga
Informações: goo.gl/FEPezy

Raio X
80.800

Quantidade de profissionais de
estética no país

75.000
Número de
mulheres na área

5.800
Quantidade de
homens na área

Fonte: Federação Brasileira dos Profissionais Esteticistas (Febrape) / Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(Pnad/IBGE), 2015

* Estagiária sob supervisão de Ana Paula Lisboa