Jornal Correio Braziliense

Trabalho e Formacao

O Bob Esponja da pizza quadrada

Empresário versátil, dono de uma pizzaria e de um empório de móveis artesanais para espaços externos, trabalha 14 horas por dia, mas não tem do que reclamar e garante vender muito bem

Aos 36 anos, João Paulo Gomes Ribeiro comanda um portfólio variado de negócios: é dono de uma
pizzaria e de uma empresa de móveis para varanda em Taguatinga Norte. A Bob Pizza Quadrada foi criada há 15 anos na CNB 6. Aberto há sete anos, o Empório Arte em Fibra conta com uma loja na QNC 3 e uma fábrica-loja em Alexânia (GO). O segredo para ser bem-sucedido com empreendimentos tão distintos está na dedicação e no tino para o comércio, característica que João Paulo apresenta desde a infância. ;Quando era criança, eu confeccionava pipas para comercializar entre colegas, vendia esterco produzido por um vizinho em feiras. Meu pai disse que eu sempre fui empreendedor;, relata.


Com 20 e poucos anos, durante o dia, ele trabalhava no restaurante japonês Ichiban, em que passou por diversas funções, em departamentos como estoque, entrega e compra de mercadorias. À noite, era empregado do antigo bar Academia do Álcool. Em ambas as experiências, o mineiro de Januária criado em Taguatinga aprendeu muito sobre como lidar com o comércio. ;Foi minha faculdade;, brinca. Ele se tornou dono do próprio negócio quando propôs uma inovação no segundo local de trabalho. ;Um dos donos do bar era meu primo. Lá, vendiam pizza, mas não era o forte do espaço. Eu percebi que a casa poderia dar mais certo se fosse transformada numa pizzaria e entrei em sociedade com ele;, lembra.


A princípio, o parente aceitou a proposta, mas acabou desistindo por achar que não havia chances de sucesso. ;Foi então que eu comprei a parte do meu primo e fui colocar o projeto em prática sozinho.; Vencer a resistência dos antigos frequentadores e a tradição do local foi um custoso desafio. ;Quando tirei as bebidas do cardápio, muita gente reclamou. Vários bares tinham funcionado naquele ponto, então ninguém acreditava naquilo, diziam que eu fecharia;, conta. Apesar de não entender da preparação do alimento, João Paulo contratou um bom pizzaiolo, fez uma grande reforma e insistiu na ideia.


Nos dois primeiros anos, os prejuízos foram grandes. ;Falei para mim mesmo: se eu não chegar a vender pelo menos mil
pizzas por mês até o fim deste ano, vou me desfazer da loja e estudar até passar num concurso.; A mudança de rota não foi necessária, porque o empresário adotou estratégias cheias de criatividade, incluindo mudar o formato do produto e o nome da empreitada e fazer promoções. ;Meu sogro viu num programa de televisão uma pizza quadrada, algo totalmente novo e que não era feito por aqui. Achei a ideia legal e resolvi aplicar.;


Numa clara referência ao personagem Bob Esponja, a nova nomenclatura agradou ao público infantil, e João Paulo produziu copos, camisetas e brindes com o desenho. ;A jogada deu certo, pois as crianças perturbavam os pais para virem à loja toda semana;, percebe. Ele também teve ajuda externa. ;Quando soube da transformação do bar em pizzaria, um pastor ajudou a atrair muita gente: o pessoal saia do culto e vinha para cá. Aproveitei a tendência e divulguei o restaurante em comunidades evangélicas no Orkut. Deu tão certo que, até hoje, 60% do público é protestante;, revela o católico que diz também receber muitos padres.


Aos poucos, a empresa foi crescendo. ;Durante muito tempo, só dava para manter. Depois de nove anos, comecei a ter lucro de verdade. Ninguém acreditava no negócio, e hoje sou um sucesso. A pizza se tornou referência na cidade;, comemora. ;Conheço metade do meu público, e tem gente que vinha aqui na infância e hoje frequenta casado e com filhos;, informa. Por semana, a Bob Pizza Quadrada, que funciona das 18h às 23h45 diariamente, recebe 800 pessoas; e atende ainda 800 pedidos diários de entrega (feitos pelo telefone 3351-7924) em Taguatinga, Vicente Pires e Águas Claras. Para dar conta do público, João Paulo abriu, em parceria com o irmão José Carlos Gomes Ribeiros, uma unidade de delivery em Taguatinga Sul.


Além do formato, um diferencial do prato é que a borda de catupiri vem de graça. Quem preferir cheddar ou doce de leite paga a mais. Outro toque é a opção de borda com gergelim torrado por cima. O cardápio foi incrementado ao longo do tempo. ;Visitei as melhores pizzarias do DF para conhecer o carro-chefe de cada uma. Assim, implementei várias opções. Outros sabores foram inventados por mim ou pela minha mulher. Quando estava grávida, ela tinha desejos. Uma das mais populares da pizzaria, a de carne seca especial, nasceu a pedido dela;, conta.


A pizza Bob Esponja que leva muçarela, tomate, presunto, calabresa, frango, ovo, champinhom, cebola, azeitona, pimentão, bacon, catupiri e orégano e a Mineira com presunto, calabresa, ovo e cebola roxa também fazem sucesso. A qualidade dos ingredientes é fundamental no negócio. ;Eu mesmo faço as compras, tanto para fazer economia e escolher os melhores preços quanto para ser criterioso;, revela João Paulo.

Novo caminho
A segunda empreitada de João Paulo nasceu por causa da pizzaria. ;Quando reformei o local, encomendei uma decoração toda de bambu. No entanto, a empresa que eu contratei me deu um calote. Então, eu e minha mulher produzimos tudo sozinhos;, lembra. O que era para ser frustração foi revertido em oportunidade, e o empresário quase brasiliense resolveu abrir uma empresa na área em sociedade com um amigo. ;Vendíamos numa feira perto do ParkShopping, mas, depois de um tempo, ele me roubou. Larguei aquilo para lá e recomecei do zero, sozinho. Hoje, não penso em ser sócio de ninguém;, revela.


Para dar conta de tudo, João Paulo conta com funcionários de confiança. ;Graças a Deus, tenho pessoas muito boas comigo, porque sozinho não dá para fazer nada. Na parte financeira, por exemplo, tenho uma secretária que é meu braço direito e deixa tudo certinho para os dois negócios.; Na pizzaria, ele tem 24 empregados e, no empório de decoração feita a partir de fibra, são cinco trabalhadores em Taguatinga e cinco em Alexânia. Apesar de contar com ajuda, a jornada de João Paulo é intensa: são 14 horas de trabalho por dia. ;É por isso que penso em me aposentar aos 50 anos;, conta o pai de quatro filhos.


O Empório Arte em Fibra recebe, em Taguatinga, cerca de 55 pessoas diariamente. ;É um público mais classe média alta e admito que dá mais rendimentos que a pizzaria, pois os produtos não são perecíveis, e a margem de lucro de móvel ainda mais artesanal é alta, fica entre 200% e 300%. Agora, estou fornecendo também para hotéis e pousadas que, além de comprarem em grande quantidade, renovam anualmente.; Apesar da crise, João Paulo garante que está em rota de crescimento. ;Prefiro não revelar valores, mas estamos vendendo muito bem;, garante.