Jornal Correio Braziliense

Trabalho e Formacao

As donas do Loca Como Tu Madre

Donas de um gastropub e de uma casa de parrilha atribuem o sucesso das unidades, na 306 Sul, à dedicação e à criatividade, visível em todos os traços dos restaurantes: desde a decoração, os pratos e drinks, até a programação cultural

Trilhando caminhos diferentes, Renata Carvalho, 32 anos, e Giovanna Maia, 31, acabaram parando numa rota convergente. Por coincidência, as duas viveram por um tempo na Argentina ; onde aprenderam sobre gastronomia e administração de restaurante, respectivamente. Quando elas se conheceram, Giovanna, formada em direito, estava planejando a abertura de um café em Brasília, e Renata, graduada pelo Instituto Argentino de Gastronomia, em Buenos Aires, foi indicada como consultora para montar a cozinha. O encontro deu tão certo que elas acabaram abrindo a empreitada juntas, em um formato diferente: um gastropub.

Nascia, assim, na 306 Sul, em março de 2012, o Loca Como Tu Madre. A sociedade gerou ainda mais um fruto: o Ancho Bistrô de Fogo, aberto em janeiro de 2015 no ponto ao lado do primeiro, que oferece carnes especiais, todas preparadas na parrilha. Um anexo ao segundo estabelecimento é o Bar dos Fundos, localizado na área externa e estruturado em um contêiner gigante com uma pegada moderna e drinks diferenciados. Com 55 funcionários nas duas casas, elas recebem 1,8 mil pessoas por semana no pub e 400 no bistrô.

O Loca Como Tu Madre serve pratos no almoço ; como o popular tornedor de filé-mignon com risoto de aspargos ;, mas o foco principal está no funcionamento noturno, quando o bar pulsa ao som de DJs e oferece drinks variados acompanhados de empratados e petiscos, como bolinho acostelado ; preparado com macaxeira e carne bovina cozida por 12 horas. ;Esse é tão pedido que são produzidas 3 mil unidades por mês;, diz Renata.


Apesar de alguns itens tradicionais serem uma constante, o cardápio da casa está sempre em mudança. ;É um bar sazonal. Muda de acordo com as estações do ano desde o início.; A aparência despojada é sempre motivo de elogios. ;As pessoas perguntam muito sobre a estrutura do Loca, mas cada casa tem sua identidade, e o que podemos dizer é que nossa alma está no negócio;, define Giovanna. ;O nosso público é mais balzaquiano. Já no Ancho Bistrô de Fogo, é mais variado;, conta Renata.

Ampliação
;O primeiro ano de um negócio é o mais difícil. É porrada atrás de porrada, pois é muito difícil ser empresário no Brasil. Mas a gente foi superando;, lembra Giovanna. Depois de consolidarem o Loca Como Tu Madre, as sócias perceberam que podiam atender a um público maior, mas, em vez de aumentar o espaço da casa, resolveram inovar e lançar outro restaurante.

;Muita gente deu pitaco no começo, dizendo que eu devia ampliar o Loca, mas isso seria fugir da proposta gastronômica. O bar dá certo por causa do ambiente que tem, daquela proposta. Se eu colocasse várias cadeiras a mais, perderia o caráter intimista, por exemplo;, explica Renata. ;Não temos um projeto megalomaníaco. Queremos que cada casa tenha qualidade;, complementa Giovanna. A recessão nunca as assustou. ;Sei que existe uma crise, mas o trabalho e a movimentação garantem o seu negócio. Então, não fomos afetadas;, comemora Renata.

Combinação acertada
;Eu estava com o nome para abrir o primeiro restaurante na cabeça e pensava num estabelecimento mais tradicional. Na Argentina, ;loca como tu madre; é uma expressão muito usual, que serve para um monte de coisa. Só que, quando conheci a Renata, ela me disse que não combinava com um café, mas sim com comida de bar gourmetizada;, lembra Giovanna, que teve que se desapegar da ideia original para se lançar em outra mais moderna. ;Ela queria algo mais quadradinho, e eu insisti para mudar;, lembra a chef e beer sommelier pelo Instituto Federal de Brasília (IFB) Renata.

;Em um negócio, a maior dificuldade para um chef nunca é a cozinha ; na qual eu conto qual dois subchefs de confiança, mas sim as outras partes, como a financeira, mas a minha sócia cuida mais disso;, conta Renata. Além dos conhecimentos em direito, que acabam ajudando, Giovanna fez três cursos no Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) antes de se tornar empresária. ;Eu e minha sócia somos completamente diferentes, e foi uma combinação perfeita. A Renata é exemplar no que faz. Somos muito transparentes uma com a outra;, observa Giovanna.

A união foi forjada com muito trabalho. ;As pessoas precisam entender que não existe glamour em ser empresário. Tem que ralar mesmo, é difícil, a gente não tem muito descanso, mas é o que gostamos de fazer.; Para Renata, o maior prazer está no contato com a clientela. ;Adoro servir. Sempre estou conversando com as pessoas para saber se os pratos estão bons.; Entre os ingredientes para o sucesso dos dois restaurantes, ela cita criatividade e dedicação. ;A inquietação sempre foi um componente importante e está em tudo que fazemos, desde as atrações ; trazendo DJs e eventos diferentes ; até pratos novos;, diz.

Origens
Antes de se tornar chef, Renata Carvalho cursou publicidade, mas abandonou o curso no último semestre para se especializar em gastronomia na Argentina. ;Eu percebi que não era o que eu queria, então fui para lá trabalhar e estudar. Meus pais não gostaram. Minha mãe, como funcionária pública, ficou preocupada. Aprendi a gostar de cozinha com minha avó, mas ninguém via isso como uma carreira. No entanto, depois acreditaram no meu potencial e hoje estão orgulhosos;, relata. Giovanna também trocou o ;certo; pelo duvidoso. ;Trabalhei com direto bastante tempo, e meu último trabalho foi no Procon. No entanto, depois ter vindo morar em Brasília, decidi que queria abrir um negócio para contribuir para a parte cultural da cidade. Para me especializar, fui para a Argentina, onde trabalhei em um café;, conta a paraibana.