Jornal Correio Braziliense

Trabalho e Formacao

Talento da UnB premiado em Harvard

Que os jovens amam internet não é novidade, mas ir além do entretenimento e fazer dela objeto de pesquisa deu a Kimberly Anastácio a chance de conquistar o terceiro lugar em um concurso promovido pela mais prestigiada universidade dos EUA

Terminar um curso de graduação é uma grande conquista, mas, para chegar lá, é preciso passar pelo momento mais temido pelos universitários: o trabalho de conclusão de curso (TCC). Foi pensando em tornar a jornada um pouco menos penosa que a brasiliense Kimberly Anastácio, 20 anos, decidiu estudar algo de que gosta muito: a internet. ;Meu grande problema é que eu não sabia como aliar esse assunto ao meu curso, que era o de ciência política. Conversando com amigos e fazendo algumas pesquisas, tive a ideia de estudar governança na internet e como as decisões sobre o ambiente digital são tomadas no nosso país;, comenta ela que se formou em dezembro do ano passado na Universidade de Brasília (UnB) e hoje faz mestrado na área de formação.


A monografia foi tão bem recebida que rendeu a ela um prêmio de US$ 2 mil, além do diploma universitário. Em janeiro deste ano, Kimberly foi a terceira colocada em um concurso de artigos e TCCs promovido pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, além de receber uma quantia em dinheiro, ela também teve o trabalho publicado na revista científica da instituição, a Harvard Business Review (acesse pelo linkcyber.law.harvard.edu/node/99360). ;Encontrei a competição por acaso, mais ou menos em outubro de 2015, quando ainda estava escrevendo. As exigências do edital casavam perfeitamente com o meu trabalho, mas não achei que ganharia. Foi uma surpresa receber um e-mail contando que fiquei em terceiro lugar e que receberia um prêmio. Fiquei muito feliz;, conta.


A brasiliense recebeu o certificado pela vitória em 8 de março. Os prêmios do primeiro e do segundo lugares foram conquistados por dois indianos. Depois do mérito reconhecido, a jovem segue pesquisando o tema em um mestrado acadêmico no Departamento de Ciência Política da UnB. ;De certa forma, meu projeto continuará dentro do tema da internet. Minha maior descoberta foi sobre a importância da ampla participação nos debates sobre o meio virtual. É preciso que o usuário entenda como as decisões são tomadas, quais são as ferramentas legais disponíveis e como defender os próprios direitos no meio on-line;, explica.


Interessados em participar da próxima edição da oportunidade devem ficar de olho no site da Universidade de Harvard. ;Como são chamadas para publicar artigos em revistas sobre diversos temas, eles são periódicos, mas não há datas certas para os editais serem lançados;, observa Kimberly.

Web brasileira
O trabalho de Kimberly foi apresentado em dezembro de 2015 com o título Participação na governança da internet: o multissetorialismo do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), orientado pela professora Marisa von Bülow. Em resumo, a estudante analisou como ocorrem as relações políticas entre os participantes do CGI.br, entidade criada pela Portaria Interministerial n; 147/1995 para coordenar e integrar todas as iniciativas de serviços relacionados à web no Brasil e promover qualidade técnica, inovação e disseminação dos serviços digitais ofertados.


A principal característica da organização é o modelo multissetorial, que garante que a sociedade civil, o governo, o setor privado e a comunidade tecnoacadêmica ; totalizando 20 conselheiros ;, além de um especialista em assuntos de internet, tenham representação dentro do comitê. ;É uma forma bastante elogiada mundo afora porque permite que todos os envolvidos tenham voz. O problema é que os usuários ainda não participam o suficiente dos processos. Existem várias organizações, como o coletivo Intervozes e o Instituto Beta para Internet e Democracia (Ibidem), das quais todos podem participar, além de acompanhar para que a voz do usuário também seja ouvida;, argumenta Kimberly.

Pioneirismo brasileiro

;Em termos legais, o Brasil está à frente de muitos países com a elaboração do Marco Civil da Internet (Lei n; 12.965/2014);, esclarece Kimberly. A lei garante aos usuários direitos, como liberdade de expressão, respeito à intimidade de cada cidadão e oferta de serviços sem discriminação de função social. ;Se nossa sociedade e o próprio Judiciário brasileiro conhecessem melhor o marco, bloqueios ; como o do WhatsApp ; não aconteceriam;, explica.