Nesta semana, o Centro-Oeste ganha um fundo de venture capital para empresas inovadoras da região e dos estados de Tocantins e Minas Gerais (saiba mais no quadro Não perca). Com administração da Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários do Banco de Brasília (DTVM/BRB) e gestão da Cedro Capital, a iniciativa captou R$ 50 milhões para investir em projetos de alto potencial de crescimento nas seguintes áreas de tecnologia: da informação, agropecuárias e em saúde. No entanto, os organizadores esperam chegar a um total de R$ 100 milhões para aplicar em cerca de 15 empresas. Os negócios podem ou não ser startups, mas precisam ter um modelo que propicie alta possibilidade de crescimento.
A contrapartida é que o FIP Venture Brasil Central ganha ações minoritárias das organizações (de até 49%), tornando-se sócio das companhias. A oportunidade se destina a instituições cujo faturamento no ano anterior ao investimento seja de até R$ 16 milhões. Outro pré-requisito é uma equipe motivada e criativa, com bons conhecimentos de empreendedorismo e vontade de trabalhar. O processo é de longa duração: em oito anos de acompanhamento, serão aplicados de R$ 1 milhão a R$ 6 milhões por empresa. Sócio da Cedro Capital, Bruno Brito alerta: ;o dinheiro vem carimbado, não é para gastar como a pessoa quiser; existe um planejamento estratégico feito a quatro mãos, entre o investidor e a empresa, sobre o melhor uso da verba;.
Andrea Lopes, diretora de Serviços da DTVM/BRB, revela que a crise atrasou o lançamento da oportunidade. ;Demoramos mais para captar recursos, mas vemos que a recessão pode trazer muitas oportunidades, pois surgem novas ideias e projetos;, revela. Na iniciativa, o BRB presta um serviço de administração e custódia, seguindo a tendência de outros bancos. ;Bradesco, Itaú e Santander também estão investindo nesse mercado, que está muito aquecido. As instituições financeiras têm muito a aprender com pessoas que vivem para criar soluções que o mercado não tem;, diz. ;WhastApp, Waze e outros negócios surgiram assim. Temos que aproveitar o que existe de melhor por aqui, senão investidores de fora vão pegar. Além disso, o BRB está preocupado em movimentar o mercado local e acredita muito no potencial do Centro-Oeste.;
Clovis Meurer, vice-presidente da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVcap), vê com bons olhos uma iniciativa específica para o DF e os estados próximos. ;Isso vai dar maior atenção às empresas locais e será mais fácil observar os empreendimentos nascentes;, acredita.
Na indústria do venture capital, é importante o gestor estar próximo do empresário para tomar decisões, construir um bom planejamento e a estratégia do negócio. ;É como um casamento: é difícil funcionar a distância. Então, só posso dar meus parabéns aos idealizadores;, elogia Clovis Meurer. Ele admite que os fundos estão mais concentrados na Região Sudeste, mas percebe que eles têm se espalhado pelo país.
Perigo controlado
A melhor tradução para o termo é capital de risco. Investimos do tipo são voltados para empresas de pequeno ou médio porte que precisam dar um salto de crescimento e que, com a verba, podem conquistar seu potencial máximo. No Brasil, os primeiros fundos do tipo foram lançados há 20 anos.
No coração do país
;É o primeiro fundo de venture capital do Centro-Oeste, uma área promissora;, observa Bruno Brito, sócio da gestora de recursos Cedro Capital. Para explicar como funciona a parceria ao longo do tempo, Bruno usa uma analogia. ;Imagine três caixas, uma em cima da outra. A de baixo é a startup, a do meio é o fundo, e a de cima são os cotistas do fundo. Durante o período de investimento (que, no nosso caso, dura quatro anos), o dinheiro corre de cima para baixo visando o crescimento da companhia. No quinto ano, a verba começa a correr de baixo para cima, e o fundo passa a vender as participações com boa rentabilidade.;
Como se trata de capital de risco, pode ser que nem todos os casos deem certo, mas isso faz parte do processo. ;É por isso que teremos um portfólio diversificado. As que rendem podem compensar eventuais perdas.;
Morosidade brasileira
O administrador Davi Guedes Neves, 27 anos, é sócio da startup de distribuição de produtos orgânicos Pepmesh. Apesar de toda a equipe ser de Brasília, ele abriu a empresa nos Estados Unidos, porque os canais de investimento por lá são mais desenvolvidos. ;Queremos prospectar US$ 2 milhões, estamos em contato com os 30 maiores fundos americanos e vemos que isso deve se dar de forma muito rápida;, diz. ;Para uma startup, às vezes, é difícil esperar muito tempo;, lamenta Davi. Clovis Meurer, da ABVcap, conta que, no Brasil, demora em média um ano para fechar um acordo do tipo, mas alerta que não dá para comparar o ritmo brasileiro com o norte-americano. ;Lá tem Vale do Silício, um PIB (Produto Interno Bruto) 10 vezes maior, mais dinheiro para aplicar mais rápido. São condições totalmente diferentes.;
Sócios e peso
Além do FIP Venture Brasil Central, o BRB mantém outro fundo de investimentos para empresas inovadoras. Trata-se do Criatec 2, a segunda fase de um projeto do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em parceria com quatro instituições financeiras. A gestão dos recursos fica por conta da Bozano Investimentos, e a Triaxis Capital é assessora operacional. O patrimônio é de R$ 186 milhões, a serem distribuídos entre 36 empresas numa estratégia com 10 anos de duração. De dezembro de 2013 para cá, foram investidos R$ 60 milhões em 18 companhias, então interessados ainda podem ser beneficiados. A seleção é rigorosa: para chegar a esse montante, foram analisadas mais de 900 propostas.
A diretora de Serviços da DTVM/BRB, Andrea Lopes, explica que, diferentemente do Brasil Central, no caso do Criatec 2, o BRB se torna sócio dos negócios. ;A gente é investidor e toma a decisão de investir. Colocamos um diretor financeiro em cada negócio. O objetivo não é sufocar a gestão dos donos, mas cobrar de forma mínima e atuar no que temos expertise.;
Rafael Moraes, dono da consultora de investimentos Garan e gestor de Brasília no Criatec 2, tem a missão de encontrar empreendimentos promissores para o fundo.;Investimos em duas empresas de Brasília, e uma terceira está em fase de aprovação. No processo de deliberação, também está uma de Goiânia. Até o fim do projeto, devemos investir em seis do Centro-Oeste. São poucas, mas é um processo longo e cuidadoso, pois cada negócio pode chegar a receber até R$ 6 milhões;, revela.
A qualidade da equipe é um dos principais critérios de avaliação, seguida pelo tamanho do mercado e pelo modelo de negócios. O faturamento anual de cada empresa pode ser inexistente ou chegar a R$ 10 milhões. ;A gente auxilia na gestão, mas quem faz a empresa crescer é o empreendedor. É muito importante que ele tenha vontade;, observa Rafael Moraes.
As duas empresas de Brasília que receberam investimentos do Criatec 2 são a Pin my Pet e a Visent. A primeira criou uma solução de monitoramento e localização de animais por meio de uma coleira ; assim, quem encontrar um bicho perdido poderá contatar o dono pela internet. O diretor Bruno Souza, 33 anos, teve a ideia com o sócio Ednaldo Souza, 34, depois de perdas traumáticas de animais. O negócio conta ainda com Marcos Buson, 30, na sociedade. Os três tiveram experiências anteriores com empreendedorismo, o que contou pontos na seleção. Aberta em 2013, a empresa foi selecionada pelo fundo internacional 500 Startups e passou uma temporada no Vale do Silício. ;O foco agora é melhorar nossa governança, e estamos muito animados com o trabalho do Criatec 2. Antes do investimento, tínhamos uma equipe de quatro pessoas. Hoje, somos 12;, comemora Bruno.
A segunda firma brasiliense beneficiada pelo Criatec 2 é a Visent, que oferece soluções de dados para as maiores operadoras de telefonia do país há 20 anos. O presidente, Ricardo Nascimento, 57, conta que a empresa teve que passar por muitas inovações para acompanhar as atualizações tecnológicas. ;A entrada do fundo foi muito positiva para a parte administrativa. Outro lado bom é que ganhamos recursos financeiros num momento de crise, e isso nos deu maior resiliência para continuar crescendo e investindo em projetos inovadores;, comenta.
Palavra de especialista
A escolha certa
Ao analisar uma proposta de venture capital, é preciso pensar no momento em que esse dinheiro se torna disponível e avaliar o custo disso. Há investimos mais ;caros; que pedem uma porcentagem maior de ações da empresa. Se o negócio está muito no início ; e, por isso, tem maiores riscos ;, podem pedir mais participação: às vezes, é melhor esperar a ideia estar um pouco mais desenvolvida antes de conseguir investimento. Quem não tem reservas vai topar a primeira proposta que aparecer, mas os que tiverem feito economias para empreender poderão pensar melhor nas opções. Procure um fundo cuja equipe agregue valor à sua organização. Analise o contrato e conheça as cláusulas de saída.
Marcelo Amoroso Lima, PhD em negócios pela Université Lumiere Lyon e gerente de Projetos do Lean Institute Brasil, que dissemina a ilosofia de gestão inspirada no modelo Toyota
Não perca!
Lançamento ; O Fundo de Investimento em Participações (FIP) Venture Brasil Central será lançado na próxima terça-feira (26) na Faculdade Senac (703/903 Sul) durante a programação do Ecossistema da inovação do DF, que começa às 19h. O evento faz parte das Terças da inovação do Instituto Iluminante. Informações e inscrições gratuitas: www.eventbrite.com.br/e/o-ecossistema-de-inovacao-do-df-terca-da-inovacao-abril16-tickets-24742587746.
Inscreva-se
Interessados em receber recursos do FIP Venture Brasil Central podem se inscrever pelo site www.cedrocapital.com. Para se informar e se candidatar ao Criatec 2, acesse www.criatec2.com.br.