Jornal Correio Braziliense

Trabalho e Formacao

Você é um workaholic?

Excesso de trabalho pode virar doença quando se torna um vício. Conheça as vantagens e desvantagens de ser uma pessoa preocupada com a vida profissional

Você conhece alguém que se dedica muito ao trabalho, faz horas extras e está sempre disposto a resolver os problemas que surgirem? Querer se destacar e ser bem-sucedido na carreira é saudável, mas existe diferença entre ser dedicado à carreira e tornar-se um workaholic (quando a sobrecarga de trabalho torna-se prejudicial). Se você está abrindo mão da família e descuidando da saúde por conta das tarefas no ambiente profissional, você pode estar se tornando um viciado em trabalho. O termo workaholic é originário do inglês e surgiu da junção de duas palavras: work (trabalho) e alcoholic (alcoólatra).


O ato de trabalhar muito não é necessariamente um problema prejudicial para a vida pessoal. A situação é agravada a partir do momento em que a pessoa esquece que, além do trabalho, há outros aspectos importantes para se atentar. ;Não é incomum encontrar alguém que passe a maior parte do seu tempo focado no trabalho, abrindo mão da vida pessoal, como momentos com a família, para se dedicar ao ofício;, explica a especialista em gestão estratégica e pessoal da Fundação Getulio Vargas (FGV) Ida Fernandes, Alessandra Assad é especialista em gestão de pessoas e autora do livro Leve o coração para o trabalho. No quinto capítulo da publicação, a escritora diferencia dois perfis de profissionais: os workaholics, que são aqueles que transferem tudo o que têm na vida para o trabalho (e geralmente fazem isso como mecanismo de fuga), deixando outras áreas de lado. E os loveworks, que se caracterizam como profissionais que amam o trabalho, mas que não sacrificam outras esferas em função disso. Segundo o artigo, os loveworkers são mais leves do que os workaholics e, na maioria das vezes, mais felizes e bem-sucedidos.

Tal chefe, tal funcionário
Workaholic confesso, o gerente de licitações Cayron Pereira, 31 anos, trabalha há cinco na empresa Redecom Empreendimentos e somente percebeu que estava viciado em trabalhar quando começou a chegar muito tarde em casa e muito cedo no serviço. ;Há momentos em que ficamos tão focados em obter bons resultados que não temos hora nem lugar para realizar as tarefas. Isso, muitas vezes, pode causar prejuízos à vida pessoal;, diz.


O gerente de licitações conta que chegou a perder compromissos familiares por conta do trabalho, inclusive o aniversário da mãe. ;Não consegui chegar a tempo e ficou um clima ruim;, lamenta.


Apesar dos pontos negativos, Cayron se sente gratificado pelas muitas horas que passa no serviço. ;Vejo muito do meu trabalho sendo reconhecido, principalmente quando ganhamos uma licitação. De imediato, a empresa vai crescendo e contratando mais funcionários, isso é muito bom de se ver. Então, acaba que o tempo extra foi recompensado.;


Homero Mateus é diretor da Redecom e chefe de Cayron. Ele também assume que é viciado em trabalhar e que a cobrança pelo bom desempenho não tem folga ; nem durante as férias. ;Neste ano, foi difícil acompanhar o trabalho durante a folga, pois o local em que eu estava não tinha sinal. Então, quando eu arrumava um lugar que tinha internet, já corria para checar os meus e-mails;, conta Homero. ;Minha mulher ficava brava comigo; afinal, eu não relaxava;, comenta. Em relação ao funcionário, o chefe é somente elogios. ;Ele é esforçado e sempre está disposto a ajudar. Não tenho o que falar de seu trabalho. Tudo é feito com eficiência, ele alcança bons resultados.;

Mudanças de hábitos por necessidade
Em um dia normal de trabalho, no meio de uma reunião, Christian Barbosa, 36 anos, diretor da empresa Triad Productivity Solutions (TriadPS), passou mal. ;Eu estava em uma reunião com um cliente e, quando fui ao banheiro, vomitei sangue. Eu tinha 19 anos. Foi o momento em que vi que algo não estava certo e eu precisava equilibrar trabalho com vida pessoal, principalmente com cuidados quanto à minha saúde;, lembra ele, que na época precisou ficar alguns dias em repouso após ser diagnosticado com úlcera gástrica e problemas no tubo digestivo. O tratamento foi medicamentos e o exigiu que ele mudasse radicalmente o estilo de vida que levava, inclusive a alimentação ; que se resumia a lanches rápidos entre as tarefas do trabalho e passou a contar com refeições mais equilibradas. Depois de seis meses de tratamento, ele não apresentava mais nenhum sintoma.


;Hoje, eu tenho qualidade de vida, pratico tênis três vezes por semana e musculação. Em viagens de negócios, busco aproveitar o local também e não ficar focado apenas em trabalhar o tempo todo;, conta Christian. O empresário afirma não enxergar pontos positivos em ser um workaholic e, por experiência própria, aconselha que, aqueles que se consideram ou têm o perfil de um viciado em trabalho, busquem ajuda e organizem o tempo para conseguir incluir na rotina momentos de lazer, descanso e familiares.


Para Ida Fernandes, o viciado em trabalho precisa, em primeiro lugar, se conscientizar de que a maneira que ele está conduzindo a própria vida em relação ao trabalho não é saudável. Para evitar fazer do trabalho a única meta na vida, a diretora do Centro Psicológico de Controle do Estress (CPCS), Marilda Lipp, destaca que o indivíduo deve se dedicar a alguns eventos sociais, como comemorações familiares. Além disso, a pessoa precisa estabelecer prioridades e inserir na rotina atividades prazerosas, assim como aprender a dizer não quando estiver sobrecarregado no ambiente profissional e a compreender que o trabalho não será para sempre.