Jornal Correio Braziliense

Trabalho e Formacao

Os verdureiros inventivos

Casal vende verduras em quadras da Asa Sul e da Asa Norte, além das vilas Telebrasília e Cauhy, dentro de um ônibus que era da frota da Viplan. Eles chegam a atender 100 pessoas por dia

A aparência é de um ônibus normal, com as cores verde e branca. Mudam detalhes, como adesivos com estampas de frutas nas janelas e na parte frontal. Além do tradicional barulho de motor de um grande carro como esse, é possível ouvir uma gravação, que chama a vizinha para conferir uma vasta variedade de hortaliças. No interior do transporte coletivo, há poucos bancos, pois o espaço é ocupado por bandejas e mais bandejas, repletas com 80 tipos de produtos naturais, como frutas, verduras, ovos caipiras e mel. Banana, laranja, melancia e abacaxi estão entre os itens mais populares.
O público entra no carro, como se fosse uma loja, e é recepcionado pelos simpáticos Jorge Chaves Silva, 51 anos, e Elenice Aparecida Jacob, 48. De riso fácil, enquanto vendem, eles conversam com a clientela em quadras do Plano Piloto, como 316 Sul, 313 Sul, 116 Sul, 214 Norte, 212 Norte e 416 Norte, além da Vila Telebrasília e da Vila Cauhy. Há 15 anos no ramo, eles conhecem muitos dos compradores pelo nome. ;São empregadas, patroas, idosos, adultos; Quando chegamos nas quadras, até os cachorros de alguns dos compradores ficam doidos para descer, pois reconhecem o barulho;, comenta Jorge, que nasceu e cresceu em Taguatinga. Quarta-feira é o dia mais movimentado para os vendedores, quando eles atendem cerca de 100 pessoas. Nas terças-feiras, costumam ser até 70 clientes. ;A crise e as férias afetam nossas vendas, mas continuamos ganhando;, afirma Jorge.

Rotina
O casal mora em Ceilândia, e é na Feira do Produtor e Atacadista da cidade que a dupla abastece o ônibus e o deixa estacionado durante a noite. Eles também selecionam produtos na Central de Abastecimento do Distrito Federal (Ceasa-DF). Para conseguir o melhor custo-benefício, Jorge e Elenice madrugam e fazem compras às 4h30 da manhã. Eles começam a vender às 9h, mas, antes disso, precisam preparar a mercadoria: tudo é embalado, separado em bandejas e etiquetado.
Jorge e Elenice têm quatro filhas: Enny, 29, Érica, 27, Ellen, 22, e Larissa, 10. As duas mais novas moram com os pais e os ajudam com os negócios. A segunda mais velha aprendeu tudo sobre a área com a família e, hoje, é concorrente. ;Ela vende frutas e verduras em várias quadras da Asa Norte. Quando precisa, tira dúvidas com a gente;, conta a mãe, orgulhosa. Quando começou a vender frutas, há 15 anos, Jorge fazia as vendas sozinho e vendia frutas da estação: numa época era só abacaxi, em outra, era só melancia, por exemplo. O modelo não era muito satisfatório e, três anos depois, ele passou a contar com a mulher para o trabalho e, a partir daí, diversificou os produtos.
Comodidade
Comprar fiado, costume praticamente extinto em outros tipos de negócio, é uma constante. ;Anotamos os dados do freguês numa caderneta. Muitos deles preferem pagar no fim do mês, depois de terem feito várias compras conosco;, explica Elenice, natural de Presidente Bernardes (SP). ;Apesar disso, quase nunca levamos calote;, revela Jorge. O ônibus e a maquininha de cartão são inovações do negócio que chegaram há cerca de um ano. ;Antes, usávamos uma kombi. Quando chegávamos a um local, precisávamos desmontar tudo e colocar em estande do lado de fora;, lembra Jorge.
;Para transportar, também era complicado: as bandejas ficavam umas em cima das outras, amarradas. Agora, podemos levar tudo tranquilamente e receber o público de uma forma melhor. Quando chove, por exemplo, não tem problema, pois as pessoas entram aqui no ônibus para comprar;, complementa a esposa. ;Com a opção de pagar no fim do mês e de comprar com cartão, fica muito prático para o cliente, além da vantagem de ele poder comprar na porta de casa e pagar mais barato que em supermercados;, salienta Jorge. Segundo os comerciantes, com eles, o preço de um produto chega a ser 50% menor. ;Muita gente liga e fazemos entregas também.;
Moradoras da Vila Telebrasília Rita Luziete, 56, e Adalci Silva, 36, estão entre as compradoras fiéis da dupla. ;A qualidade é boa, o preço, também. E ainda temos a vantagem de comprar na porta de casa;, observa Adalci. ;Compro toda semana e vale a pena. Conheço os dois há muitos anos, sempre conversamos;, complementa Luziete.
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