Otaides Domingos da Silva, 60 anos, e Lilia de Oliveira Abreu, 50, são prova de que unir o útil ao agradável dá certo. Casados há 18 anos, inauguraram a Sorveteria Mega frutti há três. A primeira unidade foi a de Vicente Pires. Em abril de 2014, abriram outra, em Taguatinga, e, em novembro do último ano, lançaram uma no Guará 2. Apesar de o negócio ser recente, o casal acumula vários anos de experiência no setor e tiveram estabelecimentos próprios em Brasília, Valparaíso, Goiânia e Manaus. ;Todas as lojas ainda existem, foram vendidas por oportunidade de mercado e dão lucro para novos donos;, explica Otaides. A carreira dele como sorveteiro começou depois de trabalhar em três grandes empresas: Sadia, Souza Cruz e Ipiranga. ;Decidi que queria ser meu chefe;, conta. Quando conheceu Lilia, ela também era dona do próprio negócio. ;Sou pedagoga, mas tinha uma vidraçaria.; Juntos, passaram a tocar a sorveteria. ;Foi um bom casamento;, brinca ela, que organiza a parte financeira da Mega frutti.
Com expertise na área, fica mais fácil recomeçar, mas o investimento é alto. ;As máquinas são caras. Custam o valor de um carro cada uma;, conta Lilia. Também é preciso se preparar para as contas do fim do mês. ;Como precisamos de refrigeração 24 horas por dia, sai caro. Quando falta luz, é um sufoco.; O esforço dos donos pelo negócio também não tem hora para acabar e, além dos 23 funcionários, eles contam com a ajuda dos filhos para tocar a empresa. Breno Vitorino da Silva, 35 anos, trabalha na parte de vendas e como motorista; Bruno Pereira da Silva, 32 anos, fez curso técnico em refrigeração e é chefe de produção; Lara Abreu Ramos, 23, é auxiliar administrativa. O caçula, Guilherme Vitorino Abreu Silva, 17, ainda não trabalha com os pais e, segundo eles, terá liberdade para escolher a carreira.
;Os que estão conosco fizeram essa escolha. Teve períodos em que não quiseram e construíram carreira em outra área. O desejo é de estar junto, mas eles são tratados do mesmo modo que qualquer outro funcionário e devem fazer por merecer;, explica Lilia. A filha, Lara, conta por que resolveu ter um emprego na firma da família. ;Estudo administração para poder ajudar. Tenho liberdade para propor ideias;, diz. ;Trabalho com isso a vida inteira. É bom ajudar a fazer prosperar algo da família;, revela Breno.
País tropical
Apesar de ser um produto considerado sazonal no Brasil, as altas temperaturas da capital federal têm ajudado a turbinar as vendas de sorvetes, picolés, paletas, açaís e tortas geladas nos últimos meses. ;Temos caixinha de opiniões nas lojas e recebemos muitos elogios. Sem brincadeira, é demais mesmo;, orgulha-se Lilia. A alegria é ainda maior pelo fato de todos os produtos serem artesanais. A massa do sorvete é produzida ali e, para alterar o sabor, são adicionados ingredientes, como pedaços de fruta e chocolate. Sabores tradicionais, como flocos, morango e creme, são os mais pedidos, mas há quem venha de longe atrás de outros menos comuns ,como jabuticaba, graviola e cajá. ;Usamos a polpa da fruta mesmo. O gosto não é artificial. Só para fazer o picolé de jabuticaba, por exemplo, compramos de 400kg a 500kg por temporada, e ainda é pouco.;
Além dos clientes que enchem as lojas a cada dia, a família fornece produtos para cerca de 35 sorveterias no DF e no Entorno. ;A gente ganha as pessoas no boca a boca. Alguém gosta e indica para outros. O nosso forte é o produto;, defende Otaides. Também são importantes para conquistar a freguesia manter as unidades limpas e bem-conservadas, além de um bom atendimento. ;Sempre treinamos pessoalmente os 23 empregados;, informa Lilia. Os donos não conseguem falar com todos os clientes, mas estão sempre presentes nas lojas, de olho, para garantir que tudo saia bem. ;Às vezes, estou na feira, pessoas me reconhecem e perguntam dos picolés;, conta Otaides. Eles não se esquecem também de clientes especiais, como um casal cujo café da manhã, quase todos os dias, é um sorvete da rede. ;Até digo que eles podem comer de graça aqui uma vez por mês de tanto que vêm;, brinca Otaides.
Apesar da alta procura pelos doces gelados no momento, os donos tomam precauções. ;É preciso se planejar para a baixa temporada. O brasileiro consome 6kg de sorvete por ano. Mesmo sendo um país tropical, não é uma demanda tão alta. Tem lugares frios em que se consome muito mais: aqui, o sorvete é visto apenas como lanche e não como refeição;, alerta Otaides.