Jornal Correio Braziliense

Trabalho e Formacao

Os mestres das festas

A profissão de cerimonialista existe, informalmente, desde a era colonial e é responsável pela organização de eventos dos mais diversos tipos. Mesmo assim, ainda não há leis que regulamentem o ofício, e existem poucos cursos sobre o ramo

Em 26 de abril de 1500, era realizada a primeira missa em território brasileiro. O escrivão Pero Vaz de Caminha, em carta enviada ao rei de Portugal, conta que cerca de 200 índios assistiram à oratória do frei Henrique. Pela pintura de Victor Meirelles, que narra a missa em imagem, é possível perceber uma disposição intencional do público: o clérigo à frente, oferendas expostas e os nativos assistindo ao redor.

Na visão de especialistas, esse foi o primeiro cerimonial (aplicação de protocolo, ritos e disposição do público) realizado no Brasil. Houve logística e organização;, explica Yvone de Souza Almeida, 63 anos, presidente do Comitê Nacional do Cerimonial Público (CNCP). Cerimonialista é o profissional responsável pelo cumprimento das normas protocolares em eventos. É ele, portanto, quem planeja, organiza e executa o ritual.

Décadas se passaram desde o lançamento do decreto que estabelece as normas do cerimonial público (n; 70.274/1972) e, somente em 2015, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) passou a incluir oficialmente a atividade de cerimonialista na classificação brasileira de ocupações. O Projeto de Lei n; 5.425/2009, do deputado federal Arnaldo Faria de Sá (PTB/SP) dispõe sobre a regulamentação da profissão de cerimonialista. Depois de tramitar por várias comissões dentro do Congresso, o projeto foi desarquivado em 2015 pela mesa diretora da Câmara e, em julho, voltou à Comissão de Finanças e Tributação (CFT).

A falta de regulamentação e reconhecimento desestimula a existência de cursos de graduação na área ; em Brasília, por exemplo, o Centro Universitário do Distrito Federal (UDF) parou de oferecer formação no ramo.

Em outubro do ano passado, o cerimonialista Francisco Coelho Bezerra não só abandonou os noivos Roberta Souza e Ralpho Guimarães no altar, como também deixou a festa sem DJ, luz e palco, causando prejuízo de R$ 10 mil ao casal. Casos como esses desvalorizam a profissão. A percepção é de quem lida diariamente com clientes.

;É preciso que as pessoas entrem nesse mercado se qualificando, porque o trabalho ruim deles atrapalha o nosso e acaba levando a generalizações. Tem noiva que até questiona se eu vou realmente estar no dia do casamento por conta de todos esses escândalos no DF;, lamenta Dhambia Sousa, 30, proprietária de empresa de mesmo nome.

O cerimonialista Tulio Henrique Lima, 49, sócio da TJC Promotora de Eventos com a esposa, Juliana Santos Lucas, 45, partilha da mesma opinião. ;Deveria haver um ponto de partida para todos os profissionais. Um advogado tem que passar por um curso e por uma prova. Para ser cerimonial, você só tem que ter tempo, um carro, um celular e uma caneta. Falta profissionalização;, defende Tulio. Juliana passou por cursos de para eventos em São Paulo, Madri e aris. Segundo ela, a opção pelo conhecimento teórico no exterior foi motivada pela necessidade de entender culturas diferentes. ;Os nossos casamentos são macro, e os dele, micro. Eles prezam muito pela qualidade para um público menor.;

Exigência própria
A organizadora de eventos e cerimonialista Lyana Azevedo, 35 anos, começou a atuar na área há 21, quando a mãe abriu uma empresa de decoração de festas. Formada em jornalismo pela Universidade de Brasília (UnB), ela sentiu necessidade de unir o conhecimento técnico ao prático, mudou-se para Londres e iniciou o mestrado em administração de eventos na universidade de Bournemouth em 2011. ;Tem várias questões que a gente aprende num ambiente multicultural. Um muçulmano não come porco, um indiano não come vaca; então, se você vai fazer um evento com essas culturas, precisa ter pratos alternativos.;

A professora Paula Lima Lucatto, 31, concluiu o curso de tecnologia em eventos ; uma das poucas graduações que formam cerimonialistas ; na Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, em 2005, se especializou em eventos sociais e retornou à universidade em 2013 para lecionar. Paula só procurou o mercado de trabalho como cerimonialista após concluir a graduação. ;Gostaria que todo mundo fizesse isso também;, diz. Paula também explica como funciona a graduação na área. ;Na faculdade, o aluno pode aprender definições, conhecer temas específicos. Também é uma grande oportunidade para falar sobre ética. Se as pessoas começarem a entender a necessidade dessa especialização, a gente vai ter um mercado mais tranquilo pra trabalhar.;

Estude

IFB

O Instituto Federal de Brasília oferece, no câmpus Asa Norte, curso técnico gratuito em eventos, com duração de um ano e meio, nos turnos matutino e noturno. Informações: www.ifb.edu.br.

Fora do DF
Anhembi Morumbi

A graduação em tecnologia em eventos da Anhembi Morumbi, em São Paulo, dura dois anos e pode ser presencial (mensalidade de R$ 674) ou on-line (R$ 418). Informações: portal.anhembi.br.

Dia do Cerimonialista

Para celebrar, 104 empresas de cerimonial do DF se reuniram no Centro de Convenções Israel Pinheiro.