A pressão por produzir mais, melhor e em menor tempo é uma constante em diversas instituições. Em um momento de crise econômica como o atual, a cobrança em cima de gestores e empregados só tende a crescer. Apesar de querer aumentar os resultados, as lideranças precisam se lembrar de uma ameaça à produtividade que as firmas podem provocar ou combater, a depender da postura adotada: o estresse. Afinal, de que adianta acirrar as exigências aos funcionários se eles têm pior performance quando estão tensos?
Essa é uma das descobertas de pesquisa da Global Corporate Challenge (GCC), cuja principal conclusão é a de que empregadores dispostos a enfrentar os custos econômicos e emocionais do estresse no local de trabalho têm uma grande vantagem e podem agir bem a respeito. Segundo o levantamento, 63% dos profissionais com altos níveis de tensão se sentem produtivos; enquanto entre os não estressados o percentual é de 87% (veja quadro).
Os números não levam em conta o absentismo, mas pesquisa do Chartered Institute of Personnel and Development (CIPD) constatou que 60% das faltas dos empregados por motivos de doenças são, na verdade, relacionadas ao estresse. Aos 27 anos, Marcos Cunha sentiu na pele os efeitos do nervosismo. O publicitário trabalhava com análise de dados numa agência e começou a ter vários problemas de saúde. ;Surgiram manchas roxas no meu corpo, passei a ter muita dor de cabeça e alergias. Procurei um médico, e a conclusão é de que não havia um motivo para aquilo a não ser o estresse;, recorda-se.
A pressão não prejudicou apenas a saúde de Marcos ; que tomou remédios para ansiedade e passou a fazer exercícios físicos ;, mas também o desempenho laboral. ;Eu não conseguia me concentrar e dar o máximo de mim.; Ele acredita que o problema foi fruto de uma carga de trabalho muito alta e da pressão interna. ;Eu me cobro demais, além disso, tinha que trabalhar muitas horas.; Hoje, em outra empresa, conta com um ambiente de trabalho mais saudável e mudou a própria postura.
Na medida certa
;Alguma pressão tem que existir. Até certo ponto, o estresse é positivo. É preciso saber motivar as pessoas a darem o melhor de si à empresa ; até para que ela possa, pelo menos, sobreviver à crise;, pondera Gábor Deák, membro do Conselho Executivo da SAE Brasil, instituição internacional voltada para o progresso da mobilidade. ;Num cenário nacional cheio de incertezas, é natural que as pessoas se sintam mais estressadas;, completa ele, que defende um clima de colaboração para atravessar essa época difícil.
;O país está passando por uma fase difícil, e há metas a cumprir. Mas tem gente que não se sente bem com pressão exagerada, o organismo libera uma série de hormônios que desencadeiam desde uma dor de estômago, um quadro depressivo até uma doença cardíaca;, alerta Marcelo Luiz Peixoto Sobral, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular. ;A empresa tem que tratar bem o funcionário porque ele é uma das peças para fazer o negócio crescer.;
Com MBA executivo em saúde, o médico defende o equilíbrio para estimular o alto rendimento. ;Funcionário é que nem passarinho: se apertar demais, mata, se deixar solto, foge. É preciso ter inteligência ao cobrar e corrigir e é necessário saber enaltecer quando o trabalhador faz algo benfeito.; Ser elogiado ou agradecido tem tudo a ver com a questão: Segundo estudo realizado em Porto Alegre e em São Paulo pelo International Stress Management Association, 89% das pessoas sofrem de estresse por não serem reconhecidas no trabalho.
Presidente do Conselho Federal de Administração (CFA), Sebastião Mello, argumenta que a necessidade de produzir mais não será motivo de estresse se a empresa for digna de um esforço a mais por parte do quadro funcional. ;O funcionário precisa ser valorizado e saber que a empresa faz tudo por ele, a partir de um ambiente sem assédio, com uma chefia que se preocupa com a família dele.;
Números
68%
dos profissionais estariam dispostos a ganhar menos se pudessem trabalhar perto de casa
As vantagens de morar perto do trabalho
A professora Regina vai a pé para a escola: economia de tempo, qualidade de vida e melhor desempenho |
De segunda a sexta-feira, a professora de filosofia Regina de Almeida, 50 anos, trilha a pé o caminho entre a escola em que trabalha e a própria residência, ambas localizadas na Asa Norte. O trajeto dura de 15 a 20 minutos e é feito quatro vezes por dia, já que ela aproveita a proximidade para almoçar em casa. A educadora define morar perto do trabalho como ;um privilégio; que traz ganhos de tempo e qualidade de vida. ;As pessoas perdem tempo no trânsito e aparecem para trabalhar tensas. Aproveito para fazer uma caminhada, chego bem-humorada e produzo melhor. A empresa ganha e a gente também;, diz.
;Nas metrópoles brasileiras, em um ano, o trabalhador perde um mês inteiro em deslocamentos. A solução é morar perto do trabalho;, aposta Jacob Rosenbloom, CEO da Emprego Ligado. A proximidade entre os endereços de moradia e emprego traz uma série de vantagens para os trabalhadores e também para as empresas. ;36,7% das pessoas que pedem demissão dentro de seis meses citam a dificuldade de acesso ao local de trabalho como o motivo principal da saída. Essa rotatividade custa caro e impacta negativamente a produtividade, pois será preciso gastar mais contratando alguém e treinando;, acrescenta.
;O profissional que mora longe é associado a maior índice de atrasos. Até a permanência na firma é prejudicada, porque ele chega mais cansado. Os gastos com vale-transporte também são mais altos.; Os números afetam a competitividade brasileira: o país perde, todos os anos, R$ 90 bilhões, o equivalente a 2,5% do Produto Interno Bruto(PIB), somente com a perda de produtividade dos trabalhadores que ficam presos nos engarrafamentos das grandes cidades, segundo levantamento feito pelo Instituto Akatu.
Palavra de especialista
Felicidade e rendimento
Os funcionários tendem a trabalhar de forma mais eficiente em ambientes livres de estresse. A satisfação na vida pessoal também sempre contribui para a produtividade. No Doodle, procuramos ter certeza de que nossa equipe tenha um bom nível de equilíbrio trabalho-vida. Muitas vezes, as duas coisas se relacionam ; uma vez por semana, por exemplo, reunimos a equipe para almoçar em conjunto e conversar sobre assuntos particulares. A produtividade de um empregado depende dele mesmo e da direção da empresa. A firma deve dar a direção estratégica para ajudar a guiar o caminho. Mas um funcionário precisa achar maneiras de ser produtivo por si próprio.
Michael Brecht, especialista em produtividade e CEO do Doodle ; plataforma de agendamento on-line utilizada por mais de 25 milhões de pessoas