Para conquistar os colegas na distribuidora Nova Amazonas, Arthur teve que confiar no próprio taco e acreditar que era possível e necessário fazer algo diferente, pois, simplesmente, agir de acordo com as ações dos outros não mudaria a situação. O jovem sugeriu mais planejamento de tarefas, com identificação e correção de erros. Após promover reuniões, mostrar análise de dados e de processos, as ideias finalmente foram postas em prática. A ousadia valeu a pena. ;Os resultados estão vindo. Felizmente, os efeitos apareceram em curto prazo. O mais relevante até o momento é a redução de 80% dos erros de armazenamento, o que diminui o retrabalho, o nível de estresse e vem permitindo novos projetos em benefício dos funcionários e da empresa;, diz ele, que acredita que a atitude fez a confiança em sua capacidade crescer entre os chefes.
Longe de ser incomum, a vontade de propor mudanças no ambiente de trabalho é encarada positivamente pela maioria dos empregadores, mas exige cuidados. ;As empresas veem essa atitude com bons olhos. A reclamação das companhias é justamente a falta de iniciativa e de novas ideias para mudar processos. O imediatismo em querer emplacá-las automaticamente pode atrapalhar, pois há certa dificuldade em provar que o conceito funciona e em convencer os outros da validade da ideia. O segredo é mostrar que joga no mesmo time. Não se trata de queda de braço: é preciso ajudar a resolver os problemas e colocar na conta da equipe;, orienta Wang Ching, coach empresarial em RH e sócia proprietária da 4 Coach.
Focar nos benefícios que a alteração trará para todos, além de pesquisar sobre o assunto e prestar atenção ao tom utilizado na reunião aumentam a chance de sucesso (veja quadro). ;Quem sugere uma ideia não pode se esquecer da necessidade de vendê-la bem. O foco absoluto deve estar nos benefícios advindos da mudança. É preciso realizar uma análise do contexto, dos prós e dos contras do ambiente naquele momento e, então, a sugestão de melhorias. Deve-se fazer uma defesa contundente dos resultados que podem ser conquistados, mas sem achismos, com informações firmes e embasadas sobre o impacto no dia a dia da companhia;, ensina o palestrante e consultor profissional José Ricardo Noronha. Para ele, o investimento em inovação gera benefícios em desempenho e lucratividade. ;As organizações mais propensas a mudanças incrementam o tempo todo seu processo e geram melhores experiências para seus clientes e profissionais;, defende.
Teimosia
Entre as possíveis dificuldades enfrentadas por alguém que se propõe a sugerir inovações no contexto profissional, estão a desconfiança e a resistência. ;Os argumentos para a relutância das companhias a ideias são variados: ;já tentamos isso;, ;é muito caro;, ;não temos tempo;, ;não há estrutura;, ;precisamos de mais capital humano;, ;os superiores nunca aceitarão; e fatores como o acirramento das vaidades na equipe. As opções são concordar ou mostrar que as dificuldades são relativas e que existem soluções viáveis para transpô-las, como perguntar quanto orçamento há disponível e adequar a proposta a ele ou lembrar que os funcionários querem o melhor para todos;, diz Wang Ching.
Na visão do sócio diretor da empresa de consultoria Véli Soluções em RH, Bruno Goytisolo, o comportamento é natural e pode ser combatido. ;O ser humano gosta de rotina, por isso é comum haver resistência, principalmente por parte de quem está há bastante tempo na organização. No entanto, com treinamento e vivências, é possível conscientizar as pessoas sobre a necessidade de evolução da empresa, o que implica em modificações;, afirma.
Há, ainda, setores mais e menos amigáveis às proposições. Em segmentos tradicionais, em que regras e padronizações são rígidas, como finanças, gestão e direito, a alteração em processos costuma ser mais lenta. Já em áreas como tecnologia e comunicação, a adesão a novas ideias tende a ser mais rápida. Independentemente do ramo de atividade, as organizações que mantêm relacionamento mais próximo com os funcionários podem antever problemas e, assim, evitar que o colaborador tenha de enfrentar um conflito. ;Como é o espaço em que as pessoas passam a maior parte do dia, o ambiente de trabalho deve ser harmonioso. Com pesquisas periódicas de clima organizacional, respondidas de forma confidencial, é possível saber a percepção dos funcionários sobre problemas e ter uma atitude proativa sobre eles;, afirma Bruno Goytisolo.
;Ainda que as ideias dos colaboradores sejam positivas, as mudanças mais profundas devem partir da liderança;, completa. ;A direção da companhia deve estar próxima dos profissionais, em contato frequente com liderados e também com o público-alvo e com os clientes. As ideias de propositura permanente e dos insights devem ser valorizadas para a criação de uma cultura de compartilhamento de ideias;, indica o palestrante e consultor profissional José Ricardo Noronha.
Inovação premiada
; Na opinião da coach empresarial Wang Ching, as iniciativas são válidas. ;As empresas devem estimular o surgimento de ideias nas equipes por meio de políticas e normas que favoreçam e premiem quem gerar inovações. Canais específicos para captação dessas sugestões ; pela internet ou em caixas físicas, por exemplo ;, seu aproveitamento efetivo regular pela organização, reconhecimento dos autores das melhores propostas, encontros para exposição de ideias, bonificação financeira e outras ações concretas demonstram a valorização dessas iniciativas.;
Prepare suas armas
; Evite o tom de crítica. Antes de fazer a proposta, pesquise sobre o assunto para contar com mais embasamento. Aponte aspectos positivos e negativos e coloque-se no lugar de quem avaliará a sugestão para fortalecer argumentos.
; Em vez de apenas mostrar problemas, proponha soluções. Foque nos benefícios coletivos que a mudança poderá trazer. Esteja aberto a questionamentos e a possíveis mudanças na ideia original.
; Os motivos para uma negativa são variados, da falta de orçamento à vaidade dos superiores. Nesses casos, você pode concordar ou fazer uma contraproposta.
Fontes: Bruno Goytisolo, Wang Ching e José Ricardo Noronha.