Nascida na Inglaterra e criada na Austrália, a professora de inglês Olivia Rule, 26 anos, vive no Brasil há dois anos e está há cinco meses em Brasília. Antes de vir para o país, ela deu aulas na Índia, na França e em Portugal. Tendo vivido em vários locais, ela considera a abertura a novas experiências uma característica fundamental para aqueles que pretendem tentar uma carreira no exterior. ;É preciso estar aberto e, muitas vezes, ser paciente. Brasília pode ser um pouco fria para quem acaba de chegar, mas, com o tempo, você percebe que as pessoas são acolhedoras;, diz.
Estrangeiros como Olivia são cada vez mais comuns por aqui. Apenas no ano passado, mais de 51 mil pessoas de outros países foram autorizadas a trabalhar em território nacional, de acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Outros 10 mil obtiveram permissão para temporadas curtas, de até 90 dias e sem vínculo empregatício, por meio dos consulados brasileiros espalhados pelo mundo. Apesar de o número ser inferior ao registrado em 2013 ; quando 58,7 mil profissionais pediram autorizações ;, o ministério garante que a queda se deve à modernização do processo do pedido, que concedeu aos consulados brasileiros no exterior autonomia para expedir os documentos. Dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) mostram que a presença de estrangeiros no mercado cresceu mais de 50% de 2011 a 2013, chegando a um total de 120.056 trabalhadores formais no país.
Aldo Costa Filho, coordenador de Imigração do MTE, explica que muitos trabalhadores que vêm ao país em caráter temporário introduzem novas tecnologias na indústria nacional. ;A contribuição dos estrangeiros se dá muito no campo de assistência técnica e de transferência de tecnologia;, diz. Para Gutemberg Macedo, diretor da empresa de consultoria de negócios Gutemberg Consultores, a contribuição vinda de fora pode ser útil para todos os setores. ;O mercado de trabalho atual e globalizado exige profissionais capazes de atuar em qualquer parte do mundo. Com a diversidade, as organizações enriquecem projetos e melhoram as relações entre as culturas;, afirma. Pesquisar sobre a história e os costumes do país, não comparar as duas nações para evitar frustrações e ter mente aberta a novidade estão entre as orientações que Macedo dá aos recém-chegados.
Em queda?
A representação da Embaixada de Portugal, uma das nações que mais enviam trabalhadores ao Brasil (veja quadro), informou, em nota, que a busca pelo país como destino pode cair nos próximos anos. ;Dada a recuperação econômica que está a se verificar na Europa e em Portugal, é natural que a procura pela emigração possa estabilizar ou diminuir.; A faixa salarial também pode desestimular a vinda. Em 2013, 37,3% dos imigrantes tinham ensino superior completo. Apesar da capacitação, cerca de 53% dos estrangeiros no B rasil recebem entre um e três salários mínimos, enquanto 40% ganham entre um e dois salários mínimos.
Destino: Brasil
Desde cedo, o coach Alex Cabon, 29 anos, se acostumou a estar em contato com diferentes culturas. O francês foi presidente da organização estudantil Aiesec ; o que propiciou viagens a 35 países em apenas dois anos. O jovem viveu no México, na Inglaterra e em Uganda. ;No início, é um pouco difícil se acostumar aos costumes de cada local. Considero a adaptabilidade uma característica importante para o profissional que pretende ter uma carreira internacional;, diz. Em Brasília desde outubro, Cabon abriu, em janeiro, a própria empresa no ramo de consultoria empresarial, a UDA (Unidade, Diversidade e Ação). ;Vejo Brasília como uma terra de oportunidades. Percebi uma deficiência na produtividade das companhias, e é aí que entra meu negócio;, explica. A equipe conta com quatro profissionais brasileiros e um norueguês. ;Uma empresa que consegue ter mais diversidade tem mais chances de se destacar no mercado. É positivo contar com a visão de pessoas de origens diferentes;, opina.
Depois de mais de seis anos viajando pelo mundo para ensinar ioga e meditação, a espanhola Fiona Lyon, 37 anos, escolheu Brasília como casa e local de trabalho. A instrutora dá aulas em uma academia da Asa Sul há dois anos. ;Além de ter um namorado brasileiro, o que me motivou a vir foi o momento econômico da Espanha;, relembra Fiona, que também deu aulas de espanhol e de inglês antes de ser empregada pela academia. Apesar de ter levado cerca de um ano para encontrar emprego, ela considera que não foi prejudicada por ser estrangeira. ;Meu trabalho é muito autônomo, não é muito diferente dar aulas aqui ou em outros lugares;, compara. Para ela, a principal diferença entre brasileiros e europeus se dá nos diálogos. ;Os espanhóis são muito mais diretos. Aqui, as pessoas dão voltas na conversa até dizer o que realmente querem;, afirma. Apesar do momento econômico e político atual, a professora não pensa em retornar para a Europa tão cedo. ;Estou adorando a cidade!”
Antes de desembarcar no Brasil para assumir o posto de diretor financeiro da empresa do ramo educacional Unyleya, José Martins, 42 anos, só conheceu o país a turismo. Ele mora em Brasília desde 2011. Essa é a primeira experiência profissional fora de Portugal, com exceção de períodos curtos vividos em Angola e Moçambique. Martins avalia a experiência no exterior como positiva, principalmente para aqueles que pretendem trabalhar em multinacionais. ; Quando se está no exterior, aqueles contatos que se tinha no passado se perdem. No entanto, para quem quer trabalhar numa multinacional que tem relações com o país, a experiência é interessante;, afirma. Martins destaca o clima, a cultura e a qualidade de vida como os principais pontos positivos de Brasília. Ele admite, porém, que a desvalorização do euro em relação ao dólar acaba prejudicando quem recebe na moeda. ;Alguns colegas portugueses que trabalham aqui já começam a se perguntar o que fazer;, admite.