O esforço pelo delicado equilíbrio entre as diferentes esferas da vida é uma constante na trajetória de mulheres que atingiram altos cargos profissionais. ;Passei por situações em que fui para casa, botei minha filha para dormir e voltei a trabalhar;, conta Silvia Fazio, 43 anos, presidente da Women in Leadership in Latin America (Will) ; organização lançada em 2014 para estimular o desenvolvimento profissional feminino na América Latina ; e sócia do escritório de advocacia Chadbourne & Parke LLP. A advogada considera a busca por harmonia entre casa e trabalho importante para a própria satisfação.
Disparidade
De acordo com pesquisa do Fórum Econômico Mundial, a igualdade de gênero no Brasil ainda está longe de ser alcançada. O país aparece com 0,694 ponto no índice da organização ; quando mais próximo de 1, mais igualitária é a sociedade (veja quadro). Com a pontuação, o Brasil fica em 71; lugar entre 142 países. Outras nações da América do Sul, como a Argentina, a Colômbia e o Chile aparecem em posições mais altas no ranking: 31;, 53; e 66;, respectivamente. Paraguai e Uruguai ficam em 81; e 82; lugares. Quando observado o índice sobre disparidade salarial entre homens e mulheres que realizam o mesmo trabalho, a posição do Brasil cai para 124 na lista, com índice 0,51.
A injustiça salarial permeia as mais diferentes carreiras mundialmente, chegando inclusive ao universo do cinema. A desigualdade foi assunto até mesmo na premiação do Oscar 2015, realizada em 22 de fevereiro. Depois de receber o prêmio de melhor atriz-coadjuvante pela atuação no filme Boyhood, Patricia Arquette defendeu igualdade de salários e de direitos para as mulheres. O discurso foi aplaudido com entusiasmo por estrelas como Merryl Streep.
O cenário de desigualdade não deve ser motivo para esmorecer, e o Brasil apresenta melhora. De acordo com pesquisa do site de colocação profissional Catho, houve aumento de 109,93% no número de mulheres que ocupam postos de vice-presidência de 2002 a 2015. A quantidade de presidentes cresceu 67,96%. O crescimento em cargos de gerência e de supervisão foi de 82,17% e 76,79%, respectivamente. Na opinião de Dezée Mineiro, 52 anos, CEO da DQS na América Latina, multinacional especializada em certificação de qualidade, ser levada a sério ainda é uma questão a ser superada para mulheres em posições de destaque, principalmente num ambiente muito masculino. ;Muitas vezes, a mulher é mal interpretada. Se um homem toma uma atitude que não era esperada, é considerado corajoso. Quando uma funcionária faz o mesmo, é vista como emotiva;, afirma. Desde 2004 no cargo mais alto da empresa, ela está à frente de uma equipe de 150 pessoas. Entre as unidades da companhia, presente em 80 países, o resultado da filial comandada por Dezée se destaca.
Para a presidente da rede de salões especializada em cabelos cacheados e crespos Beleza Natural, Leila Velez, 41 anos, a chave para chegar ao topo é empenho. ;É preciso ter resiliência e persistência. Ser apaixonado pelo que faz e acreditar no próprio potencial. Por outro lado, é preciso manter o pé no chão, pesquisando o mercado em que está e se capacitando.; O quadro de funcionários da rede é composto por 90% de mulheres, sendo que 70% são ex-clientes. Ex-funcionária de uma lanchonete fast-food, ela comanda, com os sócios, 3,5 mil colaboradores em 18 unidades em cinco estados.
Quando assumiu a área de Eventos e Incentivo da empresa Nascimento Turismo, Silvia Paes Leme, 50 anos, era a única funcionária. Em 10 anos, o departamento se tornou uma empresa-irmã, com cerca de 40 empregados. Apenas no ano passado, o faturamento da empresa aumentou em 18%. ;Acredito que a visão acalentadora da mulher é uma vantagem. Às vezes, é preciso sair um pouco do papel de gestor e estender a mão ao colaborador, não há problema nisso;, afirma.
Conscientização
Apoiada por personalidades como a cantora Beyoncé e a diretora de Operações do Facebook, Sheryl Sandberg, a campanha Ban Bossy (banbossy.com) estimula a liderança entre meninas. Para a executive e master coach Bibianna Teodori, medidas podem ser tomadas para que crianças sejam educadas com consciência. ;É preciso que meninos e meninas realizem tarefas domésticas com igualdade.;
Desigualdade
4%
Percentual de mulheres entre os principais executivos das 250 maiores empresas brasileiras
22%
Participação de mulheres em posição de chefia no Brasil
Fonte: Bain & Company e Grant Thorton