A sala ampla, localizada no Jardim Botânico, é repleta de máquinas de costura e vários tipos e cores de tecidos e linhas. Nas paredes, estão quadros com prazos de entrega, metas mensais, avisos e lembretes. Logo na entrada, é possível ver a arara que expõe belas peças de vestuário. Assim é o ateliê da estilista Fernanda Adriana Dias Gomes, 32 anos, criadora da marca brasiliense Difuzi. ;O nome vem do esperanto e quer dizer propagar;, explica. Com uma equipe fixa de cinco pessoas e dois colaboradores eventuais, a mineira tem 784 clientes registrados, divididos entre Distrito Federal, Minas Gerais e Rio de Janeiro. No DF, fornece produtos para três lojas em Taguatinga, em Sobradinho e na Asa Norte. As roupas também são vendidas numa loja em Fortaleza e em seis estabelecimentos em Minas Gerais.
;As coleções são vastas e variadas, e o público-alvo são mulheres de 25 a 50 anos;, afirma Fernanda. A cada coleção, são 60 ou 100 obras produzidas. No total, a estilista confeccionou cerca de mil. O trabalho é sempre inspirado em algum tipo de arte, como grafite, mosaicos, barroco mineiro, dobraduras em papel e esculturas.;Toda roupa que eu faço, por mais simples que seja, tem algum diferencial. É isso que ganha muitos clientes.; O fato de Fernanda fazer ajustes, dar garantia de troca, fazer entregas por correio e oferecer outros serviços específicos também agrada ao público. Até as peças são batizadas para cativar as compradores. ;Cada roupa tem um nome de mulher. Muitas vezes, dou o de uma cliente;, diz.
A Difuzi acumula participações em eventos como Fashion Rio e Capital Fashion Week. Foi premiada duas vezes pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Em 2011, conquistou o Prêmio de Competitividade para Micro e Pequenas Empresas (MPE) e, em 2014, ganhou o primeiro lugar da etapa regional do Prêmio Sebrae Mulher de Negócios. A empresária acredita que o reconhecimento é fruto da dedicação. ;Os obstáculos são diários, mas eu acreditei em mim mesma. Acompanho a produção de tudo e me atualizo sempre. Tenho um sistema computadorizado, em que estão cadastrados todos os produtos. Frequentemente, gero relatórios de produtividade;, conta.
A carga horária de Fernanda varia de 12 horas a 14 horas por dia, mas ela não se cansa. ;Para mim, é como um hobby porque é o que gosto de fazer;, diz. ;Cobro um preço que considero justo. Não dá para comparar com valores praticados em São Paulo, por exemplo, porque aqui tudo é exclusivo, com acabamento bem feito e riqueza de detalhes;, garante. Desde 2009 no mercado, a empresária avalia que a marca dá retorno, mas poderia ser melhor. ;A lucratividade é média. Estamos num período instável da economia e é difícil encontrar mão de obra qualificada.;
Superação
Quem conhece a empresária e observa seu talento e sua determinação não imagina que Fernanda passou por muitas dificuldades para estudar e para montar a própria empresa. Natural de Congonhas (MG), ela nasceu numa família em que as mulheres eram criadas para serem donas de casa. ;As filhas não recebiam o mesmo tratamento que os homens: meu pai acreditava que elas nem precisavam estudar;, lembra. Tudo que Fernanda ouvia sobre o papel feminino, porém, serviu para fortalecer a vontade de ter sucesso e de ser empresária. ;Minha mãe costurava em casa e, desde pequena, eu desenhava peças de roupa. Minha primeira professora viu alguns croquis e disse que eu seria estilista ; apesar de isso nem existir no interior. Decidi que queria ter minha própria marca ainda na infância;, lembra. ;Eu ouvia muitas coisas machistas que machucavam, mas minha vontade era mais forte e me deu forças para persistir. Em tudo que faço, sou extradedicada e não paro até terminar. Dou o máximo de mim.;
Para fazer faculdade de moda, Fernanda fugiu para Belo Horizonte. ;Com as economias do meu primeiro trabalho, paguei a matrícula e meu primeiro aluguel. Como o curso era à tarde, consegui um emprego noturno. Trabalhava das 20h até o dia clarear. Dormia apenas algumas horas e ia para a faculdade.; Há 10 anos, Fernanda se casou e veio morar em Brasília, onde terminou o curso de moda. ;Durante a graduação, trabalhei em lojas de roupa. Fui caixa, vendedora e gerente ; experiências importantes para meu ramo de atuação. Assim que me formei, larguei o emprego para montar meu próprio negócio. Comecei desenhando e produzindo uniformes para empresas.; As roupas femininas vieram depois, marcadas por riqueza em detalhes. ;Hoje, tudo isso é motivo de muito orgulho para minha mãe;, finaliza.