O sonho de fazer um intercâmbio em uma universidade estrangeira, conhecer outras culturas, visitar novos lugares e melhorar o histórico escolar com uma experiência fora do país não saiu como o desejado por Adson Rodrigues Alves, 25 anos.
Estudante do câmpus universitário de Rondonópolis (MT) do curso de licenciatura plena em informática pela Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), Adson foi contemplado pelo programa de auxílio estudantil Programa de Bolsas Luso-Brasileiras do banco Santander. Com o auxílio de 3,3 mil euros (R$7.749,06), ele pretendia pagar todas as despesas para estudar seis meses na Universidade do Algarve (Ualg), em Portugal, mas se confundiu na hora de assinar o contrato e não viu que o benefício era pago apenas uma vez, e não todos os meses do intercâmbio, como o intercambista acreditava.
A última página do Termo de Adesão ao programa, assinada por Adson no dia 11 de julho deste ano, destaca que o valor do benefício é de "01 (uma) parcela no valor de R$ 7.749,06 (...) a ser paga 30 dias após o recebimento dos Termos de Adesão e de Indicação encaminhados pela Universidade Federal de Mato Grosso/UFMT", descreve o documento. Adson, no entanto, diz que não prestou atenção ao assinar o contrato, e só soube do equívoco um dia antes da viagem.
"Não tive nenhum auxílio da Universidade. Ninguém me esclareceu que a parcela da bolsa era única, mesmo eu tendo perguntado várias vezes na Assessoria de Relações Internacionais. Se soubesse, nunca teria vindo. Agora, estou passando fome e não tenho dinheiro para pagar a moradia estudantil", conta Adson por email.
O dinheiro acabou
Da bolsa, o estudante gastou ainda no Brasil R$ 3.788,89 mil (cerca de 1,3 mil euros) com passagens aéreas, retirada de visto, passaporte e cartão de crédito internacional, praticamente metade da bolsa. Quando chegou a Portugal, precisou recarregar o cartão de crédito, deslocar-se entre cidades e pagar albergues para os primeiros dias enquanto não podia se hospedar na moradia estudantil. Além disso, tinha de se alimentar, comprar materiais escolares e de limpeza, roupas de frio, adiantar o aluguel da residência universitária e pagar documentos em postos de serviços internacionais. Foram gastos 1,3 mil euros (cerca de R$ 3,6 mil), sobrando para Adson muito pouco para se sustentar até a volta do intercâmbio, em março.
"Nem posso pensar em voltar antes, porque remarcar o voo é caro e se eu fizer isso o edital diz que tenho que devolver o dinheiro que nem tenho mais", explica o aluno. Em Portugal desde 12 de setembro, e com volta prevista para o dia 3 de março de 2013, Adson relata que passa frio e fome fora do Brasil. "Como uma vez por dia na cantina da residência e no fim de semana, ainda economizo as fichas de alimentação. Várias vezes deixei de comer."
A mãe, Valdonice Rodrigues Alves, 52 anos, sofre com a distância e com a impossibilidade de ajudar o filho. "Apenas meu esposo trabalha e ganha muito pouco. Não temos condição nenhuma de ajudar o Adson", entristece-se. Valdonice só consegue ter notícias de Adson quando ele faz contato com a irmã, Michele, pela internet. O último foi feito há quatro dias (5/11), quando, rapidamente, avisou à irmã que o computador pessoal não estava funcionando. "Quando ele ficou sabendo dessa oportunidade ficou muito feliz. Disse que ia terminar os estudos e fazer o intercâmbio para poder dar alguma coisa pra mim e para o pai dele", relembra a mãe.
Alternativas
O aluno procurou a UFMT para falar da situação. Preocupado com os dias que se seguiam sem respostas, ainda conversou com representantes da Universidade do Algarve e recebeu como resposta que "à borla, nada poderia ser feito". Ou seja, de graça, não existiria ajuda da Ualg. Daqui, a UFMT garante que Adson recebe todo o apoio necessário por parte da instituição. Em nota, a universidade afirmou que "estão sendo buscadas alternativas para ajudá-lo, por meio do Serviço Social da Universidade de Portugal."
"A dificuldade é que não existe um responsável oficial da UFMT em Portugal para acelerar o processo, e tudo precisa ser feito via e-mail. Às vezes a mensagem não chega ou não se confirma o recebimento", explica o professor Waine Teixeira Junior, tutor de Adson no Brasil.
Joíra Martins, da Assessoria de Relações Internacionais da UFMT, assegurou que o departamento estuda maneiras de o estudante receber os auxílios necessários em Portugal, sob a condição de oferecer a mesma ajuda a um aluno português intercambista no Brasil. "Tudo será feito para que o estudante tenha ajuda", garante.
A assessoria do Banco Santander informa que fez contato com à UFMT para buscar as melhores soluções e resolver o caso. A instituição parceira da universidade esclarece que a bolsa tem caráter apenas de auxílio e não tem objetivo de suprir todas as necessidades do estudante enquanto estiver em país estrangeiro.
O programa de Bolsa luso-brasileiras do Santander está na 8; edição e já levou 165 estudantes para Portugal, além de cerca de 1,9 mil para outros países. "É a primeira vez que acontece um caso como esse", garante a assessoria. Segundo o banco, a universidade é responsável pelo edital e pela seleção dos candidatos, de acordo com os pré-requisitos da instituição. O Santander oferece apenas o benefício.
A nota de esclarecimento da UFMT diz que, a exemplo do que ocorre com centenas de estudantes contemplados com esse tipo de bolsa, o candidato deve atender aos requisitos do edital e aos princípios do programa. "A participação dos alunos é de livre e espontânea vontade e se dá por meio de edital e assinatura do termo de adesão, concordando com as informações presentes nos mesmos. Ao ser aprovado, o selecionado assina toda a documentação e um parente próximo assina documentos assumindo a responsabilidade financeira sobre despesas que ultrapassem o valor da bolsa. Portanto, ao liberar o estudante para o intercâmbio, a UFMT conta com as garantias da bolsa e da declaração de apoio familiar. No momento, em que se toma conhecimento dos problemas com o estudante, a UFMT age no sentido de lhe dar todo o apoio."
No início desta semana, Adson tinha apenas 145 euros dos 3 mil iniciais. Michele Rodrigues Alves, a irmã de Adson, tenta incentivar que o irmão, que sofre de pressão alta e toma remédios, saia do quarto e se divirta. "Ele fica muito ansioso e já parou no hospital enquanto estava lá. Ele mora perto da praia, eu tento fazê-lo sair e se divirtir, mas ele se tranca no quarto com tristeza e me pergunta: ;vou sair sem dinheiro?;".
Maria Santíssima de Lima, coordenadora de Jornalismo e Imprensa da UFMT, afirma que, nos últimos dias, foi liberado o auxílio esperado por Adson. A Ualg vai oferecer para o aluno o alojamento e as fichas de alimentação para os dias restantes do intercâmbio. "Os canais estão abertos para a negociação. Inclusive, ele terá direito, se quiser, a um acompanhamento psicológico", explica. Mesmo assim, fica sob responsabilidade da família e do responsável que assinou o contrato para Adson outros tipos de necessidade que surjam, como lazer. "Ainda que a família seja a responsável, ninguém vai deixar que o aluno passe fome em Portugal", garante Maria Santíssima.