Jornal Correio Braziliense

Trabalho e Formacao

Negócio de família

Há mais de três décadas, família mantém lojas de tecidos que são referência para o mercado têxtil na capital

Sileima, Perez, Helio Castro e Helio Júnior: especialistas em tecidos


Não é por acaso que uma empresa se torna referência em sua área de atuação. Persistência, honestidade, bom atendimento, variedade de produtos e preço justo são os componentes do trabalho da família de Helio de Castro Pereira, 76 anos. Com os filhos Helio Júnior, 50, e Perez Castro, 35, e a esposa, Sileima Gomes, 62, ele governa um verdadeiro império dos tecidos: a Puro Pano, fundada em 1977. Helio é responsável pela unidade do Cruzeiro Center, Helio Junior gere a loja do Valparaíso, Perez administra as duas unidades de Taguatinga ; uma localizada na Comercial Norte e a mais recente unidade, inaugurada há cerca de um mês, no Taguacenter ;, e Sileima toma conta da loja da 308 Norte.

;Quando montamos uma loja, eu acompanho nos primeiros dois anos. Depois, largo para a pessoa comandar sozinha. Eu nunca quis todo mundo numa loja só, porque senão o caixa acaba;, explica Helio. ;Cada um toma conta da sua. Meu pai orienta, mas não interfere. No começo, fiz algumas besteiras e aprendi com meus erros;, conta Helio Júnior. ;Meu aprendizado começou trabalhando com meu pai: aos 15 anos, eu já ficava no caixa. Mas depois que ele abriu a loja para mim, amadureci muito. Você percebe que não é tão simples e que precisa ralar muito;, revela Perez. Cada loja conta com um público diferenciado. ;Os tecidos que fazem sucesso em Taguatinga não saem bem na Asa Norte. Em Taguatinga, o público evangélico é o mais forte. O pessoal vem procurar vestido para madrinha de casamento e percebe que vale mais a pena fazer do que alugar;, exemplifica.

Apesar da independência, todas as unidades mantêm características similares quando se trata dos produtos, do preço e do atendimento. ;O tratamento e a receptividade são o mais importante! Na loja do Cruzeiro, que é a mais antiga, o relacionamento é familiar. Todo mundo quer que eu dê atenção;, observa Helio. ;O meu pai leva até café e biscoito de queijo para os clientes;, diz Perez.

Mão de obra

;Temos tudo para sermos de primeira linha ; até fomos indicados pela revista Manequim de maio como a melhor loja para comprar tecido ;, mas confesso que não conseguimos resolver o problema da mão de obra. As pessoas vêm totalmente cruas. Nós nos dispomos a treinar e a ensinar, mas os vendedores não ficam muito tempo. É uma crise do comércio;, queixa-se Sileima. ;As pessoas chegam despreparadas. Eu treino pessoalmente, e elas aprendem por meio do meu exemplo. O funcionário é reflexo do patrão;, acredita Helio.

Mercado têxtil

;Muita gente me pergunta: ;com tanta roupa barata por aí, tecido ainda vende?; Eu respondo o seguinte: se não vendesse, nós estaríamos agora puxando enxada;, brinca Helio. ;O comércio em geral está horrível, mas tecido não passa por crise, e aqui a concorrência é pequena: não tem nem 40 lojas de tecido no DF;, conta Perez. Segundo Helio, a maior parte da clientela é composta por mulheres que desejam peças exclusivas. ;Aqui, as mulheres são executivas, trabalham no Congresso Nacional, em autarquias; Essas chefes não querem roupa de feira e, ao mesmo tempo, não querem pagar preços exorbitantes em roupas de boutique. Elas se incomodam ao encontrar alguém com o mesmo modelito. É por isso que a Puro Pano e lojas do tipo sobrevivem;, justifica.

Para quem quer uma roupa exclusiva, escolher o tecido é o primeiro passo. ;Quando o cliente chega, nós o abordamos para descobrir o que ele quer. Às vezes, ele tem algo na cabeça e não tem conhecimento para saber que aquilo não funciona com o tecido escolhido;, explica Sileima. ;Muita gente não abre mão de roupa feita sob medida. Muitos jovens têm vindo atrás disso: eles pegam o modelo na internet e vêm para escolher o pano.;

37 anos de história
O jeito de Helio para o comércio surgiu cedo. ;Minha vida foi pautada pelo comércio. Desde os 13 anos, trabalhei em diversas lojas em Anápolis.; Depois de se mudar para Brasília, ele chegou a trabalhar como taxista e a montar uma panificadora no Gama. ;Não deu certo e, como a necessidade faz o sapo pular, resolvi mexer com retalho, que era febre nos anos 1970. Montei uma vendinha no Cruzeiro chamada Só Retalhos.; A mudança de nome veio acompanhada da mudança de área de atuação. ;Percebi que o nome Só Retalhos afastava clientes: muitos não entravam porque acham que a gente só vendia retalho, quem procurava tecido nem entrava. O brilhante nome Puro Pano foi ideia da Sileima;, lembra.